Robinho explodiu um sentimento inesquecível na vida de uma geração de santistas ao pedalar no Morumbi e levar o Peixe ao inédito título do Campeonato Brasileiro em cima do arquirrival Corinthians, em 2002. Dois anos mais tarde, ele repetiu o feito. E ainda voltou em 2010 para se consagrar campeão Paulista e da Copa do Brasil. O Bi do Estadual veio em 2015, após mais um retorno à Vila Belmiro. Acostumado a ser idolatrado pelos torcedores do Peixe durante toda sua carreira, pela primeira vez o atacante conheceu uma reação hostil de quem sempre o venerou. O sentimento de decepção com a opção de Robinho em recusar a oferta do clube da Baixada para jogar no Atlético-MG foi externado de diversas maneiras ainda na noite desta quinta.
Acostumado a jogar futevôlei na praia do Canal 6, onde inclusive tem uma rede permanentemente montada para seus amigos treinarem e local onde tanto apareceu em meio as negociações sobre seu futuro, Robinho desta vez viu uma faixa pendurada em sua rede que o rotulava como “mercenário”.
Aliás, mercenário foi o termo mais utilizado pelos torcedores mais exaltados com o jogador. Nas redes sociais, não faltaram comentários de indignação com a postura do ídolo e ‘memes’ em tom de ironia, sempre em cima do tema financeiro, rapidamente se espalharam na internet.
Para piorar, o página do site oficial do Santos destinada aos grandes ídolos do clube teve o nome de Robinho apagado. A assessoria santista justificou o caso salientando que “jamais tiraria o atacante Robinho de sua galeria por qualquer motivo” e prometeu “averiguar as possíveis causas deste ocorrido para tomar as devidas providências”.
O que o Peixe não nega é que a paciência com o Rei das Pedaladas já não era mais a mesma, após inesgotáveis pedidos do jogador por um salário mais alto do que fora oferecido. “Esta administração reconhece a importância de Robinho para o clube. É ídolo. Mas não podemos fazer loucuras. Essa administração não vai gastar mais do que pode”, disse o vice-presidente César Conforti.
A recusa de Robinho em renovar seu vínculo no meio do ano passado mesmo diante de uma proposta salarial de R$ 1 milhão para se transferir à Ásia e as declarações de que poderia jogar até mesmo por rivais paulistas colaboraram muito com esta mudança de postura tanto do clube quanto dos torcedores.
Como a Gazeta Esportiva antecipou na terça-feira, o Santos bateu o pé na decisão de não subir a oferta de R$ 600 mil mensais (R$ 200 mil seriam pagos pelo clube e o restante por investidores que usariam a imagem do jogador) por um contrato de três temporadas desta vez. As tratativas se alongaram mais do que era esperado e Robinho passou a ser oferecido por sua representante a diversos clubes do país, como Internacional, Grêmio, Fluminense e Atlético-MG. Este último acabou literalmente comprando a ideia.
“Nunca deixará de ser ídolo. Nunca vai apagar o que aconteceu no Santos. Torcedor tem que respeitar, independentemente dele vir para cá ou não. A história dele é muito grande aqui. É muito fácil julgar por fora. Como eu estou no meio, entendo. Mas é preciso entender bem os dois lados”, comentou Lucas Lima, em defesa do amigo.
Aos 32 anos, Robinho amargou o banco de reservas na maior parte dos seis meses em que passou na China. Com a condição física questionada e há dois meses sem jogar uma partida oficial, o craque passou a ser visto como coadjuvante de um elenco que conta com Ricardo Oliveira, Gabriel e Lucas Lima, todos em grande fase. No entendimento da cúpula alvinegra, o investimento seria válido por se tratar de Robinho, mas não poderia comprometer as receitas do clube.
Agora, seja pelo Campeonato Brasileiro ou pela Copa do Brasil deste ano, Robinho provavelmente terá de enfrentar o clube que sempre foi sinônimo de seu sucesso. E a chance de receber vaias ou até mesmo ter moedas atiradas em sua direção, como acontecera em tantas oportunidades no passado recente do Peixe, é real. Se torcedor brasileiro é taxado por ter memória curta, Robinho arriscou pagar para sempre ao tomar uma decisão que, assim como suas pedaladas, dificilmente será apagada da lembrança dos santistas.