O jogo deste sábado parecia só um compromisso despretensioso antes da estreia do Palmeiras na Copa do Brasil, na quarta-feira. Mas virou uma guerra e um exemplo de superação do líder da Série B do Brasileiro. Após estar perdendo por 2 a 0 e ter Wesley expulso em troca de socos com atletas do Paysandu, o Verdão conseguiu a virada com gol de Leandro aos 49 do segundo tempo e atingiu a sexta vitória seguida.
Três pontos comemorados intensamente pelos quase 17 mil presentes na fria tarde deste sábado no Pacaembu. Uma recuperação heroica após o Paysandu se aproveitar da sonolenta atuação dos anfitriões. Os paraenses, que perderam todas como visitante, fizeram 2 a 0 com Pablo, aos 14 minutos do primeiro tempo, e Yago Pikachu, aos 21 do segundo tempo.
Aos 28 da etapa final, Alan Kardec diminuiu e, três minutos depois, uma troca de socos envolvendo até reservas gerou as expulsões de Wesley e do zagueiro Fábio Sanches, do Paysandu. Aos 39, Mendieta empatou. E o jogo ainda teve chute do goleiro Marcelo em Alan Kardec e outra troca de agressões envolvendo, principalmente, Leandro. O atacante, porém, se destacou com gol aos 49 minutos.
Após a tensa partida, o Verdão atinge 40 pontos, ainda na liderança da segunda divisão nacional, e volta ao Pacaembu na quarta-feira para enfrentar o Atlético-PR, às 19h30 (de Brasília) pela Copa do Brasil. Já o Paysandu segue na zona de rebaixamento e joga no próximo sábado, recebendo o Icasa às 21 horas.
O jogo – Sem Valdivia, Vinicius e Léo Gago, machucados, e Ananias, suspenso, Gilson Kleina mandou os melhores jogadores que tinha à disposição com uma ordem clara: não encarar o Paysandu com base em sua campanha na Série B do Brasileiro – a terceira pior do torneio, sem nenhum ponto somado como visitante. Mas não foi atendido em campo.
Do outro lado, o técnico Arturzinho considerava natural a motivação de qualquer um de seus comandados por estar enfrentando o clube com mais títulos nacionais da história do futebol brasileiro. E ele sim foi atendido, mesmo pelo goleiro Marcelo, com quem se desentendeu e chegou a cogitar como reserva no Pacaembu.
Os paraenses até adaptaram seu estilo de jogo. Ficaram quatro minutos com a marcação adiantada, aproximando defensores e atacantes, e depois passaram a ter os 11 jogadores atrás do meio-campo logo após um chute perigoso de Charles. Limitar-se aos contra-ataques não era uma vergonha para o time nortista.
O Palmeiras que pareceu acreditar só na tabela de classificação, com uma confiança exagerada a ponto de se tornar desconcentração. Assim, uma série de passes errados facilitava o trabalho da multidão que o Paysandu colocou da sua intermediária defensiva para trás. Wesley, Leandro e Charles até se movimentavam intensamente, mas não tinham a ajuda de Mendieta e Alan Kardec, discretos, e o time não criava nada.
Entre tantos erros de todos os jogadores do Palmeiras em campo, o espaço na defesa era previsível. Apareceu primeiro com Djalma passando nas costas de Juninho e tocando para Vanderson bater com perigo. Mas o pior ainda estava por vir, para festa dos barulhentos torcedores do Papão no Pacaembu.
No minuto seguinte, aos 14, Luis Felipe perdeu a bola no ataque e não acompanhou o lateral esquerdo Pablo, que foi acompanhando a troca de passes de seus companheiros até aparecer como centroavante na área e tocar com classe por cima de Fernando Prass. Os jogadores do Verdão se olhavam como se tivessem constatado que seu técnico dizia a verdade em relação à qualidade de um dos piores times da Série B.
Mas a equipe acordou quando o Paysandu já tinha o que queria, inclusive gerando nervosismo nos anfitriões. Leandro, por exemplo, pareceu cansar de buscar Mendieta e Alan Kardec, ambos escondidos atrás de seus marcadores, e tentou inúteis sequências de dribles. Bravo, ainda levou cartão por acertar o rosto de um adversário com a mão. Os jogadores do clube visitante sorriam com o que tinham conseguido.
Entre passes errados e lançamentos ineficientes, só jogadas isoladas faziam a torcida levantar, como chutes de Juninho e Luis Felipe rente às traves e arrancada individual de Vilson com direito a drible com a bola entre as pernas de um de seus marcadores, mas que parou na zaga adversária.
O Paysandu, por sua vez, soube aproveitar as costas de Luis Felipe para jogar fora de seu campo e levou susto realmente em contra-ataque que Mendieta puxou deixando Leandro livre na pequena área, aos 40 minutos, mas o atacante abriu mão de rolar para Alan Kardec e chutou nas mãos de Marcelo. Assim como Charles, aos 46, aproveitando sequência de divididas de Mendieta na pequena área e consagrando o goleiro adversário em seu arremate.
Consciente da falta de criatividade na etapa inicial, Gilson Kleina abriu mão do volante Charles para dar dinâmica com a entrada do meia Felipe Menezes e ainda foi obrigado a trocar Vilson, com dor muscular, por Tiago Alves. E nem adiantou o Paysandu trocar o pesado centroavante Marcelo Nicácio pelo meia-atacante Tallys no intervalo: o Verdão passava a dominar o meio-campo.
Com a movimentação de Felipe Menezes, o Verdão trocou passes e foi abrindo a retranca do Paysandu, a ponto de Alan Kardec, enfim, aparecer na partida com dois chutes perigosos. O próprio Felipe Menezes teve grande oportunidade aos 12 recebendo passe de Juninho na área e batendo rente ao gol.
Mas o Verdão desenvolveu seu ataque esquecendo-se da sua defesa. E deu chance para mais um lateral adversário virar herói. Aos 21 minutos, Yago Pikachu apareceu completamente livre na grande área e mostrou a qualidade que já fez o Palmeiras querer contratá-lo encobrindo Fernando Prass com um leve toque, ampliando a vitória paraense.
Já na saída de bola, o Palmeiras abriu de vez seu jogo trocando o volante Márcio Araújo, vaiado, pelo meia-atacante Ronny. O revoltado torcedor palmeirense ainda teve que ouvir a torcida do Paysandu pedir "mais um", mesmo só com o veterano Iarley no ataque. Parecia demais mesmo para quem vestia alviverde em campo.
Aos 28 minutos, Luis Felipe se recuperou da falha do primeiro gol da tarde. O lateral direito dominou lançamento de Henrique na ponta direita, ajeitou para a canhota e também ressuscitou Alan Kardec na partida, colocando a bola no rosto do centroavante, e de lá ela balançou as redes paraenses.
O gol, porém, foi insuficiente para conter o nervosismo palmeirense. O que foi provado aos 31 minutos. Wesley sofreu falta dura de Vanderson, que se desentendeu com Mendieta e desencadeou uma confusão que teve Wesley trocando socos com adversário. A confusão ainda contou com uma corrida de Marcelo para pegar a bola antes de Ronny, fazer cera e se jogar no chão, tirando até Fernando Prass do sério.
A consequência do episódio tenso da partida foram as expulsões de Wesley e Fábio Sanches, zagueiro do Paysandu. E a recuperação de mais um jogador que estava mal no jogo. Aos 39 minutos, Mendieta chutou de longe, de primeira, e venceu o displicente Marcelo, empatando o jogo e garantindo a invencibilidade palmeirense.
Nem adiantou o goleiro chutar a barriga de Alan Kardec. Saiu do Pacaembu ouvindo "Uh, é Série C" e "timinho" e acusando Leandro de agressão a Ricardo Capanema, em mais um episódio de troca de socos na partida.
Leandro, porém, foi exemplo mesmo de recuperação de uma má atuação. Aos 49 minutos, aproveitou bate-rebate na área para jogar a bola nas redes e, em um dos últimos lances da partida, assegurar a maior sequência de vitórias do Palmeiras na temporada. Para intensa alegria e festa alviverde no Pacaembu.