Quase 32 mil pessoas pagaram ingresso e enfrentaram frio no Pacaembu neste sábado para ver um Palmeiras que Ricardo Gareca nunca testou, já que abdicou de treinar. Mas também assistiram a episódios repetidos: o goleiro Fábio falhou mais uma vez e Jorge Henrique, carrasco do Verdão quando jogava no Corinthians, marcou o gol da vitória por 1 a 0 que reabilita o Inter e amplia a crise do centenário clube paulista.
O lance que definiu o jogo ocorreu aos 19 minutos do primeiro tempo, quando o atacante entrou facilmente na área nas costas de Lúcio e Weldinho e aproveitou a demora de Fábio para sair do gol, balançando as redes com a meta escancarada na sua frente. E muitas outras jogadas similares ocorreram, sem virar gol. Consequência da estratégia de Gareca de optar só por um volante, dois meias e três atacantes sem ter treinado a formação.
Estacionado nos 17 pontos, o Palmeiras precisa de uma combinação de resultados na sequência da 18ª rodada, neste domingo, para não voltar à zona de rebaixamento: que o Criciúma perca do Sport na Ilha do Retiro e que Bahia, Coritiba e Vitória não vençam, respectivamente, o Grêmio em Porto Alegre, o Atlético-MG no Paraná e o Flamengo em Salvador.
O Verdão volta a jogar pelo Brasileiro no dia 7, visitando o Atlético-PR às 18h30 (de Brasília), na Arena da Baixada. Já o Inter, que volta a vencer após três derrotas seguidas, chega a 34 pontos, inicia o domingo na vice-liderança e recebe o Figueirense no Beira-Rio às 18h30 do dia 7 também.
Os dois clubes, no entanto, têm compromissos no meio da semana. Na quinta-feira, o Palmeiras precisa vencer o Atlético-MG, às 20 horas, em Belo Horizonte, para ir às quartas de final da Copa do Brasil. Enquanto o Colorado visita o Bahia às 22 horas de quinta-feira e precisa se recuperar de derrota por 2 a 0 em casa para continuar na Copa Sul-americana.
O jogo –Sem nenhuma atividade tática ou técnica para armar um time que teve 12 desfalques (Tobio e Henrique suspensos, Josimar impedido de jogar por cláusula contratual, Fernando Prass, Wendel, Gabriel Dias, Victorino, Thiago Martins, Victor Luis, Wesley, Bruninho e Valdivia machucados), Ricardo Gareca mandou a equipe à frente, com apenas Marcelo Oliveira e apostando na marcação falha e na dinâmica quase inexistente de Mendieta para ajudar Allione a levar a bola para Leandro, Mouche e Cristaldo.
Sem trabalhar a formação, o técnico apostou só na conversa, e não conseguiu mais do que uma equipe aguerrida. Leandro e Mouche não paravam de correr atrás de adversários para ficar com a bola, mas, quando conseguiam, não tinham ninguém por perto para tabelar e acabavam errando. Marcelo Oliveira se desesperava com a falta de ajuda de Mendieta na marcação e na saída de bola. O Palmeiras não se encontrava.
O Inter, por sua vez, sabia jogar em cima da crise adversária, e era mais cauteloso para romper a sequência de três derrotas, em aposta inversa à coragem mal trabalhada de Gareca. Os dois laterais pouco passavam do meio-campo e Wellington e Willians se comprometiam tanto com a proteção à área de Dida que não se intimidavam em cometer faltas. Já Aránguiz e Sasha estavam conscientes da falta de qualidade palmeirense, pareciam saber que o adversário certamente lhe entregaria a bola.
Foi rápido também para os comandados de Abel Braga perceberem a melhor maneira de aproveitar a mobilidade de Jorge Henrique e a referência de Rafael Moura no ataque: a lentidão da zaga formada por Lúcio e Wellington. Ambos não treinaram juntos e deixavam as costas totalmente livres. Aos dez minutos, Jorge Henrique não marcou golaço chapelando Fábio porque Rafael Moura usou o braço para lhe ajeitar a bola.
Mesmo com o lance inválido, estava apontado o caminho para o gol colorado. Só o Verdão demorou para perceber. Assim, aos 19, Dida lançou de sua área, Rafael Moura ganhou de Wellington no alto e Jorge Henrique passou com total liberdade entre Weldinho e Lúcio e ainda contou com a insegurança de Fábio, que demorou para sair e, quando o fez, escancarou sua meta para o ex-corintiano balançar as redes.
Três minutos depois, Fábio se recuperou com boa defesa quando Aránguiz aproveitou o corredor nas costas da zaga palmeirense, mas os colegas do goleiro não se encontraram em campo. Só se aproximava de Dida com chutões de Wellington e Lúcio, mesmo não tendo ninguém alto para amortecer o que não era um lançamento. Os erros de Leandro e Mendieta logo foram aumentando a irritação da torcida.
Absolutamente tranquilo, o Inter quase ampliou aos 35, quando Jorge Henrique voltou a se aproveitar da confusão da defesa dos anfitriões e bateu para fora. No minuto seguinte, enfim, o Verdão levou algum perigo, em bola que o Inter entregou para Leandro bater perto da trave. Um achado para um time que, aos 45, viu Fábio rebater outra chance de Jorge Henrique.
Como não treinou, Gareca demorou todos os 48 minutos do primeiro tempo para entender a óbvia necessidade de preencher o meio-campo e escolheu o volante Eguren para substituir o costumeiramente inútil Leandro. O uruguaio rapidamente recebeu cartão, mas mesmo a sua truculência para marcar tornou mais raros lançamentos para Jorge Henrique.
Mais solto, Mendieta se aproximou dos dois atacantes e, aos 15 minutos, apareceu na grande área para aproveitar cruzamento de Juninho e cabecear firme no chão, exigindo difícil defesa de Dida. Poderia ser um alento, só que o despreparado Palmeiras não conseguia construir jogadas.
A troca de Mouche por Bruno César e de Mendieta, intensamente vaiado, por Felipe Menezes não adiantaram nada, já que a bola não ficava nos pés do Verdão e o time ficava mais tempo protegendo Fábio para evitar uma goleada. Mas não a derrota. No final, fez pressão que não resultou em nada mais do que um chute de Allione rente ao travessão. Muito pouco para o centenário campeão do século XX.