Marta estava irritada ao deixar o estádio de Itaquera na tarde desta sexta-feira, após a Seleção Brasileira ser derrotada por 2 a 1 pelo Canadá e encerrar a sua participação nos Jogos Olímpicos na quarta colocação. A grande estrela da equipe, que havia se emocionado no gramado, chegou a chiar por ouvir pedidos para conceder mais entrevistas: “Já não tem mais assunto”.
O assunto óbvio era o futuro de Marta na Seleção Brasileira. Aos 30 anos, a melhor jogadora do mundo em 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 poderá não estar mais na equipe nacional nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
“Está muito cedo para pensar, com tudo embaralhado na minha cabeça. Tenho dois, três dias de folga agora e já vou voltar ao meu clube na Suécia (o Rosengard), para disputar uma final. É muito complicado. A gente não tem tempo para lamentar nem para imaginar como será daqui a quatro anos. Vamos viver um dia de cada vez. Prefiro deixar as coisas acontecerem, o tempo passar. Aí, teremos a resposta”, comentou Marta.
O que embaralha os pensamentos da jogadora é a frustração. A Seleção Brasileira feminina encantou os torcedores durante os Jogos Olímpicos, com direito a gritos de “Marta” nas partidas da equipe nacional masculina, porém caiu de rendimento no torneio. Acumulou três empates por 0 a 0 consecutivos, com África do Sul, Austrália e Suécia, e acabou batida pelas canadenses na disputa pela medalha de bronze.
“Poderíamos ter um resultado mais positivo, mas futebol é assim. Acontecem algumas injustiças”, lastimou Marta, sem levar em consideração a piora do ataque brasileiro nos Jogos. “Isso é normal. Todas as equipes que enfrentamos estavam com a tática de se fechar na defesa e sair nos contra-ataques. Contra o Canadá, voltamos a marcar um gol, mas erramos lá atrás, o que não costuma acontecer, e elas aproveitaram”, disse.
Marta apontou outros motivos para o sucesso canadense diante da Seleção Brasileira. Embora não tenha sentido diferença física para as adversárias – o time de Vadão disputou duas prorrogações nos seus últimos compromissos –, ela lamentou o abalo emocional provocado pela derrota nos pênaltis para a Suécia e chiou da árbitra romena Teodora Albon.
“É um absurdo um jogo desses, parado da forma que foi. A goleira pegava na bola e ficava ali um ou dois minutos. Elas sofriam faltas e faziam a mesma coisa. A gente só teve três minutos de acréscimo. Isso é um absurdo. Mas não foi a primeira vez, e precisamos saber lidar com esse tipo de situação”, reclamou Marta.
Muito mais emocionada do que Marta, chorando copiosamente, a experiente meio-campista Formiga chegou a se desculpar pelo insucesso nos Jogos Olímpicos. A jogadora de 38 anos deverá se aposentar em breve e dedicar-se aos estudos para virar treinadora.
“Somos, sim, heroínas, porque lutamos muito. Dou parabéns a todas. Só agradeço ao Brasil e, ao mesmo tempo, peço desculpas”, disse Formiga, também cobrando mais apoio ao futebol feminino brasileiro.