Depois deste dia 16 de agosto de 2006, dizer que o Colorado é um “time municipal” não faz mais sentido nem em uma roda de gremistas. No Beira-Rio lotado, o vento que vem do Rio Guaíba levou com ele a última piada pronta na eterna briga futebolística porto-alegrense: o Internacional, enfim, conquistou a América e agora vai atrás do Mundial, que será disputado em dezembro, no Japão.
Para se tornar o segundo time do Sul do país com o título continental, o Colorado teve de superar, além da torcida contra dos gremistas, um adversário perigoso e com muita tradição na competição. O São Paulo, três vezes campeão sul-americano e mundial, não esteve bem nas finais. Dois tabus foram por água abaixo: o time paulista perdeu pela primeira vez uma partida mata-mata de Libertadores em seu estádio e ainda levou a pior diante de um time brasileiro, outro fato inédito até então nos confrontos em playoff.
Apesar de ser tricampeão brasileiro e um dos times mais respeitados do futebol brasileiro, o Internacional sonhava com a Libertadores desde 1976, ano em que disputou a competição pela primeira vez. A partir de 1983, quando o Grêmio conquistou a taça e o Mundial Interclubes, a obsessão da nação colorada cresceu até que o título virasse realidade 23 anos depois.
Além de ter dado um passo para diminuir a distância nas comparações com o Grêmio (bicampeão da Libertadores 1983 e 1995), a vitória do Internacional também transformou o Brasil em recordista na competição. Agora, trata-se do país com mais clubes campeões (oito) contra sete equipes argentinas que já levantaram a taça.
Na somatória geral, no entanto, a Argentina ainda leva vantagem. Ao todo 20 Libertadores ficaram com nossos rivais e apenas 13 títulos são brasileiros: São Paulo (3), Santos (2), Cruzeiro (2), Grêmio (2), Palmeiras, Vasco, Flamengo e Internacional.
Até chegar ao tão esperado título, o Internacional passou por um processo de reconstrução depois da virada do milênio. Em 2002, o time escapou do rebaixamento na última rodada do Brasileirão, sufoco semelhante ao atravessado em 1999, estava mal financeiramente e começou um trabalho a longo prazo.
Muricy Ramalho assumiu o comando em 2003 e com orçamento baixo foi trazendo reforços promissores. Manteve uma base de jogadores experientes, cujo principal pilar foi o goleiro Clemer, e fez contratos longos para não perder facilmente os atletas que estavam chegando.
A receita deu certo. O Colorado recuperou a hegemonia estadual dos anos 70, sendo tetracampeão gaúcho (2002, 2003, 2004 e 2005) e o time só não foi campeão brasileiro no ano passado por causa do escândalo de manipulação de resultados na arbitragem nacional. O STJD remarcou 11 jogos, fato que indiretamente favoreceu o Corinthians a ficar com o título.
Curiosamente, a compensação pelo grande trabalho realizado pelo presidente Fernando Carvalho veio exatamente em cima de Muricy Ramalho, técnico que deu início à renovação no clube. Abel Braga enterrou o estigma de vice, aumentada com o tropeço no Gauchão de 2006, exatamente contra seu antecessor.