A grosso modo, Felipe Massa cumpriu seu objetivo neste domingo e conseguiu levar a decisão do título da temporada 2008 no autódromo de Interlagos. Porém, quando a situação é olhada com mais atenção, as coisas se mostram bem mais complicadas para o brasileiro: com a vitória de Lewis Hamilton no GP da China de Fórmula 1, ele dependerá de uma combinação grande de resultados para levantar a taça em casa.
Supremo e liderando de ponta a ponta, Hamilton possui agora 94 pontos na classificação geral, aumentando a diferença para Massa de cinco para sete pontos. Tal situação faz com que ele não precise sequer somar pontos em São Paulo para se sagrar campeão, desde que o ferrarista não consiga nada além do terceiro lugar.
E a situação de Lewis só não é melhor porque Massa contou com um “favor” do companheiro de equipe, Kimi Raikkonen. Atual campeão do mundo, o finlandês fez claramente uma corrida melhor que a de Felipe, mas tirou o pé e permitiu a ultrapassagem do brasileiro faltando oito voltas para o término da disputa em Xangai.
A “gentileza” pode ser vista como um agradecimento por parte de Kimi, que foi campeão no ano passado graças ao paulista. Na última etapa de 2007, também realizada no Brasil, Massa era dominante no primeiro lugar, mas acabou obrigado a ceder a vitória para que finlandês somasse os dez pontos fundamentais para a conquista da taça.
Neste domingo, tanto Raikkonen quanto Felipe sofreram com o baixo rendimento da Ferrari com relação à McLaren, uma diferença que chegou a gigantescos sete décimos por volta quanto os carros estava cheios de combustível. O brasileiro, porém, teve mais dificuldades que o companheiro de equipe e precisou contar com a ajuda dele para aumentar as chances de conquistar seu primeiro título na principal categoria do automobilismo.
Para quem acredita em coincidências, entretanto, a situação de Massa pode nem ser tão desfavorável assim: no ano passado, Raikkonen chegou ao Brasil justamente sete pontos atrás de Hamilton, que fez uma corrida desastrosa em Interlagos e perdeu o título por um ponto. Se conseguir superar o inglês, Massa será o primeiro piloto brasileiro a ser o campeão em casa.
A prova chinesa também acabou com o sonho de Robert Kubica em se sagrar com o novo campeão da Fórmula 1: ele foi o sexto colocado e chegou aos 75 pontos, não tendo mais chances matemáticas de superar Hamilton. Com uma performance consistente, Nelsinho Piquet foi o oitavo em Xangai, três posições à frente de Rubens Barrichello.
A etapa brasileira da categoria, que pelo quarto ano seguido decide o título, está programada para o dia 2 de novembro, às 15 horas (horário de Brasília).
A corrida – Ao contrário do que aconteceu no GP do Japão, a largada da etapa chinesa da Fórmula 1 foi tranquila. O único incidente ocorreu em um toque da Toro Rosso de Sébastien Bourdais com a Toyota de Jarno Trulli. O italiano levou a pior e, apesar da tentativa de trocar o bico do carro, foi obrigado a abandonar a disputa.
Na frente, Hamilton conseguiu uma excelente largada e não foi ameaçado por Raikkonen. Sabendo da importância de somar pontos em Xangai, Massa também preferiu não se arriscar. Quarto colocado no grid, Alonso acabou ultrapassado por Heikki Kovalainen, que chegou a tentar alguma manobra sobre Felipe, sem sucesso.
Na sequência, o bicampeão mundial deu o troco no finlandês e se manteve na quarta posição. Com um carro visivelmente superior ao dos rivais, Hamilton não teve a menor dificuldade para começar a abrir vantagem sobre os rivais: com dez voltas disputadas, ele estava cerca de quatro segundos na frente de Kimi e sete em Massa.
Mas, aos poucos, a Ferrari foi igualando desempenho com a McLaren, colocando pressão sobre o agressivo Hamilton. E o inglês quase cedeu ao escorregar na curva 1 – a mesma na qual teve problemas em 2007 – e ser obrigado, com sucesso, a segurar o carro no braço.
Punido com a perda de dez posições no grid de largada por ter trocado o motor, o australiano Mark Webber provou que era o piloto mais leve da pista e foi o primeiro a parar e fazer o reabastecimento. Dentre os ponteiros, Massa e Alonso ‘estrearam’ os pits, parando na volta 14. Na passagem seguinte, foi a vez de Hamilton e Raikkonen. Todos colocaram aproximadamente a mesma quantidade de combustível.
Apesar disto e dos tempos semelhantes despreendidos nos boxes, Felipe foi ficando cada vez mais para trás de Hamilton. Além de a McLaren do inglês estar muito melhor que a Ferrari do brasileiro, Massa perdeu muito tempo atrás de Robert Kubica, que na volta 23 ainda não havia parado nos boxes e ocupava a terceira colocação.
Some-se isso à fantástica performance das ‘flechas prateadas’ e, com 34 voltas disputadas, o representante verde-amarelo estava 15 segundos atrás do líder, que, por sua vez, tinha quase nove segundos de vantagem sobre Raikkonen. Em determinados momentos, o campeão mundial até foi mais rápido que Hamilton, mas o inglês logo dava o troco e não permitia a aproximação.
Sem chance de vitória, o finlandês claramente passou a diminuir o ritmo para ceder a segunda posição a Felipe Massa. A ultrapassagem, entretanto, não ocorreu na segunda parada nos boxes como era de se esperar, mas sim faltando oito voltas para o final da corrida.
Hamilton teve que se garantir sozinho neste domingo, visto que seu companheiro de equipe, Kovalainen, não conseguiu ultrapassar Fernando Alonso e se aproximar novamente de Massa. Para piorar, o finlandês sofreu com um pneu furado após a metade da corrida. Ele trocou o composto e voltou à corrida, mas de novo teve problemas com o carro e abandonou. Com isso, Alonso seguiu tranquilo para a conquista do quarto lugar, seguido pelas BMW Sauber de Nick Heidfeld e Robert Kubica.
Confira o resultado do GP da China:
1º Lewis Hamilton (ING/McLaren)
2º Felipe Massa (BRA/Ferrari) – a 14s925
3º Kimi Raikkonen (FIN/Ferrari) – a 16s445
4º Fernando Alonso (ESP/Renault) – a 18s370
5º Nick Heidfeld (ALE/BMW Sauber) – a 28s923
6º Robert Kubica (POL/BMW Sauber) – a 33s219
7º Timo Glock (ALE/Toyota) – a 41s722
8º Nelsinho Piquet (BRA/Renault) – a 56s645
9º Sebastian Vettel (ALE/Toro Rosso) – a 1min04s339
10º David Coulthard (ESC/Red Bull) – a 1min14s842
11º Rubens Barrichello (BRA/Honda) – a 1min25s061
12º Kazuki Nakajima (JAP/Williams) – a 1min30s847
13º Sébastien Bourdais (FRA/Toro Rosso) – a 1min31s457
14º Mark Webber (AUS/Red Bull)- a 1min32s422
15º Nico Rosberg (ALE/Williams)- a uma volta
16º Jenson Button (ING/Honda)- a uma volta
17º Giancarlo Fisichella (ITA/Force India)- a uma volta
Abandonaram:
Heikki Kovalainen (FIN/McLaren) a sete voltas
Adrian Sutil (ALE/Force India) a 43 voltas
Jarno Trulli (ITA/Toyota) a 54 voltas