Dos inúmeros grandes jogos desta Copa do Mundo, nenhum criou tanta expectativa nas vésperas quanto o duelo a ser disputado às 13 horas (de Brasília) desta sexta-feira. França e Alemanha reúnem no Maracanã grandezas de proporções nunca antes opostas neste Mundial. São quatro títulos em campo nestas quartas de final, e uma rivalidade que nasceu muito antes do futebol.
É verdade que a fase de grupos proporcionou três duelos entre campeãs do mundo, mas nenhum com plano de fundo histórico comparável à batalha entre franceses e germânicos. Nesta Copa do Mundo, sobrou aos dois defender o orgulho dos europeus que têm ao menos uma estrela bordada no peito. A hegemonia no poder futebolístico do Velho Continente, pelo menos dos próximos quatro anos, está em jogo nestas quartas de final.
Tal qual no final do século XIX, os países duelam em contexto que enaltece suas forças. A abdicação de Xavi no meio-campo espanhol deixa vago o posto de melhor seleção do mundo, então cabe à França e à Alemanha decidirem quem, de fato, merece o selo de favorita neste Mundial. E enquanto uma precisa afastar os fantasmas, a outra pode se dar ao luxo de apegar-se ao histórico para ter ainda mais confiança.
Esquecendo a derrota em 1958, os alemães têm nos Anos 80 grande inspiração para vencer os rivais. Foram duas vitórias seguidas nas semifinais, no México e na Espanha, e nem Michel Platini fez os franceses esquecerem Rummenigge e Rudi Voeller naquela década. Desta vez, os Azuis afastam da mente a possibilidade de um novo fracasso, quem sabe pelos pés de Schweinsteiger e Thomas Muller.
“Meus jogadores não estão sob pressão, a não ser pelo fato de ser uma partida de quartas de final”, garante o técnico Didier Deschamps. “O que aconteceu no passado ficou para a história. Será escrita uma nova página, esperamos que seja a página mais bela possível para nós”, completa, planejando melhor destino à França. Para isso, a seleção francesa reúne em Karim Benzema as esperanças de vingança por Copas passadas.
O Brasil parece ter feito bem ao atacante, que foi quem mais encontrou o gol adversário nas últimas três semanas: são 15 finalizações certas em quatro partidas. Não à toa é o artilheiro da França neste Mundial, com três gols marcados. Ele não teve ótima atuação na vitória por 2 a 0 sobre a Nigéria, mas subiu de produção com a entrada de Antoine Griezmann e deve seguir como principal arma de Didier Deschamps no setor ofensivo. O camisa 10 ainda é lembrado pelo técnico rival, Joachim Low.
“Esse jogo sempre foi e será um clássico, com contornos tensos e dramáticos”, exalta. “Deschamps montou um time muito guerreiro e bem armado no meio de campo. Além disso, eles possuem Benzema e Giroud na frente. Como todo clássico, terá emoção para os expectadores”, assegura o treinador alemão.
Mas só Benzema não basta. Os franceses precisam se aproximar para vencer a Alemanha, diferente do que fizeram na última apresentação. Se a defesa nigeriana aceitou lançamentos, os germânicos não devem encontrar problemas para conter esse tipo de investida, como o goleiro-líbero Neuer mostrou nas oitavas de final. Os Azuis também não podem usar como base a Argélia – que curiosamente tanto tem de França em si, pois os norte-africanos foram bombardeados, e nem os milagres de M'Bolhi foram suficientes para a classificação.
Os gols de Schürrle e Ozil espantaram os receios do “Jogo da Vergonha” de 1982 e trataram de garantir nova reedição daquela Copa do Mundo. Amante da brazuca, a Alemanha é quem mais troca passes neste torneio, tendo em Lahm e Toni Kroos sua dupla de maestros do meio-campo. Os dois são os responsáveis pela estratégia militar em campo, escolhendo o ritmo de jogo de acordo com as próprias vontades.
O estilo fez os números alemães evoluem partida a partida, sendo contra a Argélia o ápice da posse de bola (64%), de desarmes (24), passes certos (688), finalizações a gol (15) e arremates cedidos ao adversário (três). Os germânicos atuam cada vez mais próximos – unidos como na guerra franco-prussiana de 144 anos atrás. Com os espaços na marcação argelina, Philipp Lahm comandou a melhor atuação nesta Copa da tricampeã mundial, que é cada vez mais precisa, meticulosa e combativa.
É verdade que os comandados de Joachim Low ainda não encararam um combate de peso, e então os Azuis têm um elenco à altura do desafio. Fato é que a França precisa unir suas linhas, senão a queda da realeza Karim Benzema parece inevitável frente à unificação do meio-campo alemão, e a vaga na semifinal talvez seja a Alsácia-Lorena deste Mundial.