Com investimentos milionários, a cidade de Alto Taquari, localizada a 450 km de Cuiabá, tem a história do seu desenvolvimento dividida entre antes e depois da chegada dos trilhos da Ferronorte. A implantação do modal ferroviário, juntamente com o terminal em 1999, trouxe consigo outros empreendimentos, atraídos pela facilidade do transporte de produtos. O que antes era restrito aos grãos (soja, farelo e milho), agora disputa espaço com outras mercadorias, entre elas refrigerados e combustíveis.
Administrada pela América Latina Logística (ALL), a ferrovia e o terminal congregam atualmente vários empreendimentos, fazendo com que a cidade cresça e figure como o mais importante ponto de embarque e desembarque de mercadorias de Mato Grosso. Mas os investimentos não param por aí. O secretário de Indústria, Comércio e Turismo da cidade, Erocy Antônio Scaini, adianta que outros grandes projetos por causa do terminal estão por vir, entre eles o transporte de algodão em pluma destinado à exportação e o carvão ecológico, produzido a partir da biomassa do algodão e que também será direcionado ao mercado externo.
"O projeto para o embarque de pluma de algodão está na fase de estudo de viabilidade realizado por uma empresa de São Paulo. Tudo está caminhando para que dê certo, assim como o carvão, que será um projeto pioneiro em Mato Grosso", afirma o secretário ao completar que para 2010 já está sendo aguardada a operação da Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), cujo projeto inclui 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar para produção 280 milhões de litros de etanol e também um poliduto para transportar o combustível. Os empregos gerados são estimados em 1,8 mil diretos e 3,5 mil indiretos.
Antes da chegada dos trilhos, Alto Taquari tinha a economia voltada para o setor primário, com a produção de soja, milho e algodão. Com a implantação da ferrovia, a cidade passou para a segunda fase econômica, com a atração de novos empreendimentos que agregam valor ao produto gerando emprego e renda ao município. Com uma população de 10 mil habitantes, o município recebe outras 4 mil pessoas mensalmente, a trabalho, em função do terminal rodoferroviário, a exemplo dos caminhoneiros.
IDH- Uma prova de que a ferrovia trouxe desenvolvimento para a cidade é o Índice de Desenvolvimento Humano(IDH). Calculado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, o Índice Firjan mostra que Alto Taquari tem o oitavo maior índice entre as cidades mato-grossenses, com 0,7109, em uma escala que varia de zero a 1. Está atrás, na ordem, de Lucas do Rio Verde, (0,7939), Cuiabá (0,7653), Nova Mutum (0,7605), Rio Branco (0,7584), Alto Garças (0,7555), Araputanga (0,7533) e Indiavaí (0,7149). E à frente de Sorriso (0,7021) e Tangará da Serra (0,7005), que ocupam respectivamente, o nono e o décimo lugar no ranking estadual. O índice é referente ao ano de 2006.
"A chegada da ferrovia transformou a economia de Alto Taquari. E a localização da cidade é privilegiada. Está distante cerca de 500 km de três Capitais: Cuiabá. Campo Grande e Goiânia, além de fazer divisa com três Estados, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás", diz Scaini ao completar que de 2000 a 2008, 50% da receita do município foi oriunda da ferrovia.
Já o prefeito Maurício de Sá (DEM-MT), no primeiro mandato, pretende continuar o ritmo de desenvolvimento que a cidade vem apresentando. Ele diz que tenta junto ao governo do Estado obras para melhorar a infraestrutura, que não acompanhou desenvolvimento econômico da cidade. "Precisamos de projetos de habitação, escolas, hospitais e outros para garantir melhor qualidade de vida à população". No que diz respeito ao futuro de Alto Taquari, Sá diz prever que será de constante crescimento, porém não sabe mensurar de quanto ele será. .
Empreendimentos – Nos últimos 10 anos, Alto Taquari recebeu uma série de empreendimentos. O mais importante deles, que provocou os demais foi o da chegada da ferrovia e a implantação do terminal ferroviário. O superintendente de Terminais da ALL, Henrique Peterlongo, afirma que o terminal tem estrutura para operar com grãos, carga industrializada de frigorífico e combustíveis, além da carga de retorno, que geralmente é composta de fertilizantes.
Ele diz que recebe caminhões que trazem a safra mato-grossense, cuja mercadoria é colocada nos vagões com destino ao porto de Santos, e daí para as exportações. "Hoje a capacidade é de 10 mil toneladas de grãos por dia, o que chega a 300 caminhões diariamente, entre carga e descarga", conta ao afirmar que o número de toneladas nesta atividade ao mês gira entre 280 mil e 300 mil.
Com a retomada da construção da ferrovia, partindo de Alto Taquari até Rondonópolis, a ALL fará mais investimentos. Está prevista a construção de um terminal ferroviário naquela cidade também, cujo montante aportado ainda não foi definido. "Estamos fazendo um estudo para a construção do terminal, que deverá estar pronto em 2012, paralelo à operação dos trilhos", diz ao adiantar que o terminal de Alto Taquari também receberá aporte financeiro. Serão aplicados R$ 7 milhões na aquisição de equipamentos que aumentará a produtividade do terminal, ou seja, a capacidade de carga e descarga será ampliada.
"Além do investimento na estrutura operacional do terminal, a América Latina Logística melhorou a qualidade de trabalho dos motoristas. O pátio de estacionamento aumentou, assim como o número de banheiros e duchas", acrescenta Peterlongo.
Carga refrigerada – Com atividades iniciadas em julho deste ano, a Standard Logística estreou na região Centro-Oeste, com endereço no terminal ferroviário de Alto Taquari. O corredor intermodal Mato Grosso-São Paulo é um projeto inovador e foi desenvolvido em parceria com a ALL, e está fazendo o transporte de contêineres pela ferrovia até o porto de Santos. A tecnologia avançada e permite expedir cargas que exigem temperatura controlada, além de cargas secas. O corredor tem 1,1 mil km e contou com investimentos de R$ 35 milhões, aplicados na construção do novo terminal de contêineres em Alto Taquari e na construção do terminal intermodal da unidade de Cubatão (SP), que está em fase final de licenciamento e deve ser concluído até o fim de 2009. No terminal da cidade paulista os produtos poderão armazenados ou desembaraçados.
"Já começamos a operar com 600 contêineres por mês. A meta é chegar ao final do ano que vem com 3 mil contêineres mensais, movimentados entre carga frigorífica e seca", afirma o gerente Comercial da Standard, Fernando Perdigão. Ele acrescenta que trata-se de um projeto revolucionário e que irá gerar muitas vantagens tanto ao produtor quanto ao exportador. Entre elas estão a garantia de regularidade no escoamento e a segurança no transporte.
Combustíveis – Com operações programadas para o último trimestre deste ano, a Cosan Combustíveis e Lubrificantes, detentora das marcas Esso e Mobil também somará ao terminal ferroviário de Alto Taquari. Já a distribuição dos derivados está agendada para o segundo trimestre de 2010. A atividade no Estado será realizada a partir do recebimento de etanol por caminhões e que serão distribuídos por trens, com destino a São Paulo. Os dois extremos do trecho são Paulínia (SP) onde haverá o recebimento do etanol por vagões e embarque de derivados (óleo diesel e gasolina) para Mato Grosso.
A capacidade inicial de armazenamento da Cosan é de 10 milhões de litros de combustível. Detentora de 1,5 mil postos em 20 unidades da federação, a vinda a Mato Grosso foi motivada pela necessidade de atendimento a um importante mercado. Ao todo o investimento somou R$ 13 milhões.
O gerente de Desenvolvimento de Negócios da Cosan, Nilton Gabardo afirma que a companhia pretende expandir a atuação em Mato Grosso, com um aumento na capacidade de armazenamento de etanol em mais 20 milhões de litros. "A companhia pretende praticar uma política de preços bastante competitiva para seus revendedores e assim voltar a atuar fortemente no mercado".