O técnico Muricy Ramalho pediu estrelas e foi atendido pelo presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar. Por ora, no entanto, ter reforçado um elenco já caro ainda não trouxe soluções dentro de campo. Em vez disso, criou dores de cabeça fora dele, para a diretoria.
Enquanto o treinador comanda os primeiros ensaios com o meia Kaká (último grande reforço contratado, com salário de cerca de R$ 400 mil), os dirigentes passam a ter dificuldades para deixar em dia a folha salarial de R$ 10 milhões, aproximadamente, sofrendo pressão velada de alguns atletas pelo atraso em pagamentos.
"As aquisições que o São Paulo fez foram porque tem condições, tem caixa para isso. Todos sabem a situação do futebol brasileiro, que não é permitido fazer loucuras", disse Alan Kardec, comprado em maio ao preço de 5,5 milhões de euros (quase R$ 14 milhões). A fala do atacante pode ser analisada como uma defesa ao clube, mas, de certo modo, representa cobrança.
Somados aos direitos de imagem, os salários de Kardec e Kaká não são os únicos que minam o caixa. Antes deles, o São Paulo já bancava altos valores com o goleiro Rogério Ceni, o meia Paulo Henrique Ganso e os atacantes Paulo Henrique Ganso e Luis Fabiano. Ocorre que, na medida em que surgem os primeiros atrasos, jogadores de menos destaque começam a questionar o dinheiro gasto com reforços.
Os questionamentos motivaram explicações. Na quinta-feira, Kardec confirmou encontro da diretoria com os jogadores – quem trata de assuntos como esse diretamente com o grupo é o vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro. "Isso mostra o caráter, a boa vontade de querer pagar. Os jogadores estão tranquilos", garantiu, em nome do grupo, revelando promessa de que tudo seja quitado "em questão de dias".
É o que certamente espera também Muricy. O treinador já tem muitos problemas para encontrar uma equipe ideal e, assim como Aidar e sua cúpula, também começa a ser pressionado. Mas dentro de campo. No início da semana, o volante Souza, um dos jogadores mais esclarecidos do elenco, reconheceu que um elenco caro como o que tem o São Paulo exige que a equipe tenha alternativas táticas e esteja lutando pelo título brasileiro.
Neste momento, a diferença para o Cruzeiro, líder da competição, é de seis pontos. Vindo de derrota em casa para a Chapecoense, o time tricolor volta a campo no domingo para tentar encontrar um bom futebol e vencer o Goiás, em Goiânia. Muito provavelmente com Kaká pela primeira vez. Talvez com a dívida quitada pela diretoria.