Comandando a Seleção Brasileira pela segunda vez na carreira, Dunga garante não ser mais o mesmo profissional de 2010. Para começar, o treinador defendeu o jovem grupo brasileiro de algumas críticas, justificando que se trata de uma “geração diferente” das vistas no passado.
“Só temos que entender que essa é uma geração diferente, hoje o treinador tem que dar liberdade para o jogador conversar, não tem que se ofender. Hoje você tem que explicar o caminho, explicar porque aquele tipo de treino é o mais correto… São pequenos detalhes que a gente tem que entender… Hoje em dia o cara não sabe cruzar, mas é porque praticamente só treina em campo reduzido. Na formação o jogador tem que ter a amplitude do campo, esse problema na formação não é culpa deles”, defendeu Dunga no programa Seleção Sportv, aproveitando para cobrar um pouco do que acredita ser responsabilidade dos próprios atletas.
“Um volante tem que saber inverter o jogo, um lateral tem que saber chegar na linha de fundo e cruzar, um zagueiro tem que saber a direção que tem que cabecear a bola pro companheiro. Vi as categorias de base do Chile, e a gente não entende como os caras conseguem ser tão baixinhos e cabecear pra caramba. Todo mundo tem medo de lesão… Não pode chutar muito, não pode exceder muito… Não podemos trabalhar assim, com esse medo. Tem que ter o treino específico, praticar os fundamentos. É muito importante”, alertou o técnico, que se vê diferente de 2010. “Acho que não faria muitas coisas (que o Dunga de 2010 fez). Em 2010, eu cheguei tentando resolver os problemas da seleção em 10 dias, só que muitos problemas não são nem função minha”, completou.
Questionado sobre a suposta preferência pelo goleiro Diego Alves, do Valencia, em detrimento do reserva Rafael, do Napoli, Dunga explicou a opção. “O Diego já tinha trabalhado comigo nas Olimpíadas, lá atrás, e vem muito bem há quatro ou cinco anos, fazendo temporadas fantásticas. O Rafael foi escolhido pra gente observar a reação dentro dos treinamentos, dos jogos. Nesse início de trabalho, é muito mais questão de observar. Não só o trabalho dentro de campo, mas também observar a reação do jogador quando ele encontra alguma adversidade, se ele estaciona ou se reage. Agora os dois sabem que estão sendo observados e que terão chances quando estiverem bem”, justificou o comandante, que continuou.
“Estamos acompanhando tudo, nenhum detalhe nos foge. Torcedores e jornalistas ficam muito ligados só no jogo, mas tem coisas que acontecem fora de campo que vão refletir dentro dele. Na adversidade, o cara cresce ou fica parado? Tem que ter uma reação positiva, principalmente dentro de uma Seleção Brasileira, tem que respeitar o seu colega que conseguiu a posição. Não temos tempo, então precisamos observar junto com a comissão técnica as reações dos jogadores até nos seus clubes, como é o comportamento deles no dia-a-dia… Só assim pra montar o quebra-cabeça”, declarou Dunga, que declarou entender o trabalho defensivo como prioridade.
“Não adianta fazer cinco gols e tomar seis. (…) Eu vou sempre pela qualidade técnica, é a primeira opção. Mas você tem outras, como soluções imediatas, que vão ficando. Por exemplo, é importante você optar por jogadores altos pra evitar os lances de bola parada na defesa, então no fundo você não consegue fugir disso. (…) Pra citar outro exemplo dessa preferência, o português (José Mourinho, técnico do Chelsea) foi jogar em Paris e colocou três volantes, trocando o Oscar pelo Ramires, e gostou do que viu”, exemplificou o gaúcho, mencionando o Chelsea eliminado da Liga dos Campeões pelo PSG.
Com a garantia verbal de uma postura diferente da demonstrada em 2010, Dunga aproveitou para alertar os atletas que comandou no Mundial da África do Sul, e os escolhidos por Felipão em 2014. “Não é porque você jogou a última Copa do Mundo que você vai ser titular da próxima. Essa cadeira cativa não pode existir na Seleção Brasileira. Se o jogador entrar e atuar bem, ele vai ficar, e o outro vai ter que esperar e respeitar”, concluiu.