O tão esperado zagueiro canhoto, pedido com insistência por Muricy Ramalho, foi apresentado oficialmente pelo São Paulo nesta segunda-feira. Dória, de 20 anos, chega ao Tricolor com a certeza de que tem a confiança do treinador do clube, algo bem diferente do que passou nos meses em que ficou na França. Ignorado pelo técnico Marcelo Bielsa na época em que ficou no Olympique de Marselha, o jogador tenta agora retomar a carreira no São Paulo.
“O que aconteceu lá foi problema extracampo. Não foi comigo, era entre presidente e treinador. Eu estava treinando bem e superadaptado ao lugar, porque não há muita diferença entre o Brasil e a cidade em que vivia. Estava aprendendo bastante, me virando bem no francês e me sentindo adaptado aos treinamentos, mas era uma opção do treinador e não tenho que me meter nesta parte. Foi uma opção dele e tive que obedecer, porque era empregado do clube”, comentou.
Revelado com destaque pelo Botafogo, Dória foi contratado pelo Olympique de Marselha em setembro do ano passado. Porém, Bielsa alegou não ter sido ouvido sobre a contratação e deixou claro desde o início que não queria o brasileiro no elenco.
“O que me passaram quando cheguei lá é que fui comprado pelo presidente sem que ele (Bielsa) tivesse sido consultado. Ele ficou chateado com isso. No meu modo de pensar, ele quis provar que não precisava me utilizar. Eu respeitava, porque não seria eu que mudaria o jeito dele. Quando cheguei, ele falou para eu trabalhar. Mas quem conversava comigo eram seus auxiliares, que ficavam sem jeito. Passavam as coisas que eu podia melhorar e eu buscava ao máximo aprender”, acrescentou.
Desta forma, Dória até chegava a ser levado por Bielsa para o banco de reservas, mas não recebia chance de jogar. O máximo que o zagueiro brasileiro conseguiu foi atuar pela equipe B do Olympique. Em sua apresentação no São Paulo, o ex-botafoguense foi questionado sobre o estilo do treinador argentino, mas preferiu não comentar.
“Não quero falar dele porque ele não queria falar de mim. Ele falava que perguntassem (jornalistas) para o Dória”, declarou. O time de Marselha ocupa a vice-liderança do Campeonato Francês, mas o zagueiro lembra que era apoiado até pelos outros jogadores do elenco.
“Minha esposa me ajudou bastante. Tinha vezes em que eu chegava do treino muito para baixo, triste, por jogar no time B. Havia oportunidades em que poderia jogar, mas ele improvisava outros na minha posição. A torcida pedia bastante, assim como o presidente e até os jogadores. Às vezes, eu pensava que tinha desaprendido a jogar futebol. Mas via que todo mundo me apoiava e que tinha de manter a cabeça, porque sabia que era um problema extracampo”, lamentou.
Como a diretoria percebeu que Dória não teria mesmo chance com Bielsa, decidiu emprestá-lo a um clube europeu, mas não houve avanço. Assim, o São Paulo ficou forte na disputa, já que sempre mostrou interesse pelo atleta.
O Cruzeiro chegou a manifestar o desejo de contratá-lo, mas Dória alega que nem ficou sabendo do interesse mineiro e demonstra grande expectativa em retomar sua carreira no Morumbi, apesar de estar cedido por apenas seis meses.
“Lá (França), eles são muito frios, até jogador com mais moral no clube o tratamento era o mesmo. O pessoal é mais seco, está lá para trabalhar e acabou. Aqui, tem mais conversa e já começa de uma forma melhor”, declarou, antes de acrescentar. “Estou bem mais maduro depois de cinco meses dessa turbulência. É vida que segue e agora quero trabalhar no São Paulo”, completou.