Mais do que um amistoso preparatório para a temporada, o reencontro entre Corinthians e Corinthian-Casuals faz um brinde à história do Alvinegro. A partir das 17 horas (de Brasília), o Timão recebe o coirmão inglês em Itaquera, em festa que expõe traços do Time do Povo que se perderam ao longo de seus 104 anos.
Desde a fundação pelas mãos de cinco operários, o Corinthians cresceu a ponto de reunir milhões e milhões de torcedores e conquistar o planeta duas vezes. Nesta evolução, acumulou histórias de resistência, democracia e principalmente de superação. Acrescido de um “S”, o nome inglês de um clube londrino tomou o Brasil, a América e o mundo, tudo ao seu tempo e com a devida parcela de sofrimento. O processo agigantou o Timão, mas também ajudou a distanciá-lo das origens.
Esquecida a inspiração nos ingleses, o time que nasceu do povo e cresceu na várzea construiu nova casa e inflacionou os valores dos ingressos. Ainda celebra o passado honrado de sua história, mas, às vezes, em um lapso de memória, pretere o povo que gosta de exaltar em suas campanhas publicitárias. Assim o selo de “Time do Povo” talvez caiba melhor àquele time inglês que tanto encantou em 1910.
Quatro anos após batizar o Timão, o Corinthian Football Club só não voltou ao Brasil porque a Primeira Guerra Mundial não deixou. Perdeu praticamente o elenco inteiro nas batalhas e reconstruiu-se. Em 1939 uniu-se ao Casuals FC, recebendo apêndice no nome e esfriando a relação com o filho brasileiro. Daí em diante, perdeu o vigor expedicionário para continuar a percorrer apenas as divisões amadoras da Inglaterra.
Hoje, o Corinthian-Casuals é composto por atletas que se sustentam com outras profissões e jogam por paixão, além do respeito aos poucos torcedores que frequentam à modesta King George’s Arena. Do concreto das arquibancadas, chega o esporádico apoio de brasileiros, que pagam ingressos irrisórios se comparados aos da Arena Corinthians. A contrariedade é personificada pelo atacante Jamie Byatt, possivelmente o único operário com lugar garantido no amistoso.
O camisa 9 do Corinthian geralmente celebra seus gols mostrando uma camiseta com um grande escudo do Timão, por isso recebe carinho especial no Brasil. Apelidado de “Julio Cesar” pela semelhança física com o ex-goleiro alvinegro, ele promete fazer o possível para dar trabalho aos zagueiros Felipe e Gil. Outro visitante notável é Mahrez Bettache, meia ágil de 20 anos, revelado pelo Fulham, que deverá ser marcado por Ralf ou Elias.
Esses duelos serão históricos. Ao contrário dos amistosos do filho rico contra o seu pai humilde realizados em 1988 e 2001, o Corinthians utilizará pela primeira vez um time de profissionais na festa.
Mas, se o clima de euforia toma conta da torcida e do adversário, Tite mantém-se centrado. “Temos um momento muito sério de preparação”, ressalta. “Tenho que estar preparado para fazer aquilo que devo fazer melhor, independentemente do adversário”, garante o compenetrado treinador, que estreia na Arena.