Antes de a bola começar a rolar, um coro de mais de 34 mil vozes recebeu o Timão no Pacaembu aos gritos de “Corinthians, Corinthians”, não dando trégua nem no minuto de silêncio em homenagem ao falecimento do Papa João Paulo II. Comentários sobre uma possível mala-preta de Kia Joorabchian ao modesto Cianorte também apimentaram o duelo desta quarta-feira, com o aval da Fiel e o repúdio dos poucos paranaenses que foram ao estádio.
Se a missão de tirar a diferença de três gols era difícil, o time do Cianorte tratou de facilitar as coisas para o Timão, aumentando ainda mais as suspeitas sobre a fabricação do resultado, levantada na tarde desta quarta, no Paraná. Aos sete minutos, o meio-campista Rocha , talvez abalado com a notícia de que poderia dividir R$ 500 mil com seus companheiros, recuou bisonhamente uma bola para o goleiro Adir dividir com Tevez.
Mais rápido, o argentino driblou o camisa um paranaense e abriu o caminho para a classificação. No segundo tempo, foi a vez do goleiro Adir colaborar e levar um frangaço em cobrança de falta de Roger, da intermediária, e entrar com a mão ‘mole’ em um chute de perna direita de Gustavo Nery, no gol da classificação.
O gol irregular marcado pelo time paranaense, que tinha quatro jogadores impedidos no lance, foi insuficiente para apagar o fogo da Fiel e a superioridade incontestável do Timão (apesar de Bobô). O placar de 5 a 1 foi construído na base da raça, emoção e qualidade, e o Timão fez por merecer sua vaga na seqüência da Copa do Brasil.
Na próxima fase da competição, o Alvinegro irá enfrentar o vencedor da chave que reúne Remo e Figueirense. No primeiro jogo, em Santa Catarina, o Figueira perdeu por 1 a 0. A volta começou a ser disputada no Mangueirão, às 21h45 desta quarta-feira. Pelo Campeonato Paulista, volta a campo no próximo domingo, no Pacaembu, para enfrentar a Portuguesa. Em jogo, apenas a chance de abrir vantagem sobre o Santos na luta para terminar a competição com o título de vice-campeão da temporada.
O jogo: Suspense, comédia, ação, terror, romance. Os cinco gêneros distintos de roteiros cinematográficos puderam ser observados nos 45 minutos iniciais do encontro entre Corinthians e Cianorte, nesta quarta-feira, no Pacaembu. O terror ficou por conta do atacante Bobô, que perdeu gols incríveis e causou pânico na Fiel, que passou o tempo inteiro clamando pela entrada do carioca Hugo em seu lugar.
As duas chances mais claras de gol desperdiçadas pelo camisa 11 aconteceram aos 54 segundos de jogo, com a bola passando por baixo de seus pés na linha do gol, e aos 39 minutos, quando, após dividir com o goleiro Adir, girou forte, de perna esquerda, por cima do gol vazio. As chances continuaram pipocando, e como em um filme de ação, Gustavo Nery, Roger e Carlos Alberto perderam uma oportunidade atrás da outra. O gol só saiu após uma verdadeira cena cômica propiciada pelo volante Rocha, que tentou recuar a bola para o goleiro Adir, mas serviu de bandeja para Tevez, que só teve o trabalho de deslocar o camisa um e abrir o marcador.
O suspense deu as caras no Pacaembu aos 28 minutos, após Daniel Marques cobrar falta para a área e contar com a ajuda clara do árbitro Lourival Dias Lima Filho e do auxiliar Marcelo Van Gasse ( o mesmo que invalidou o gol de Tevez contra o Ituano), que não observaram quatro jogadores do Cianorte completamente impedidos. Márcio Machado cabeceou, Fábio Costa rebateu e Edson Santos colocou a igualdade no placar, aumentando o nervosismo que já imperava no Pacaembu.
Depois do terror, da comédia, do suspense e da ação, Roger, o “Romeu” do Timão, presenteou sua fã número um, a namorada Adriane “Julieta” Galisteu, que mais uma vez deu o ar da graça nas sociais do Pacaembu, e completou, com maestria, um belo lançamento de Marcelo Mattos, invadindo a área pela esquerda e fuzilando Adir, fazendo 2 a 1 e levando o Alvinegro em vantagem para os vestiários.
Nitroglicerina pura: O Timão começou o segundo tempo ligado nos 220 volts, deixou romance, comédia, suspense e terror de lado e partiu para a ação. Logo aos 42 segundos marcou o terceiro gol. Gustavo Nery chegou bem à linha de fundo e cruzou para trás, a bola passou por todo mundo e sobrou na ponta direita para Carlos Alberto, que rolou para Tevez cutucar: 3 a 1. Aos cinco, após Bobô errar um passe e armar o contra-ataque do Cianorte, Rosinei roubou a bola, partiu com tudo pela direita e acertou uma bomba no travessão de Adir.
No minuto seguinte, Roger cobrou falta da intermediária, Adir tentou segurar e ficou com as penas do frango na mão: 4 a 1 Corinthians, no segundo erro fatal do Cianorte, completamente atordoado com a panela de pressão armada pela Fiel Torcida nas arquibancadas do Pacaembu. Aos 19 minutos, após um verdadeiro bombardeio corintiano, o árbitro prejudicou novamente o Timão, depois que a bola explodiu no travessão e tocou na mão de um jogador do Cianorte, mas Lourival marcou toque de Tevez.
Com Hugo no lugar de Carlos Alberto e Jô na vaga de Bobô, o Timão continuou pressionando. Após cobrança de escanteio de Roger, foi a vez de Marcelo Mattos subir no meio da zaga paranaense e acertar o travessão de Adir, que, mais uma vez, ficou apenas olhando o ataque alvinegro jogar. Faltava um gol para a classificação, e ele veio, da maneira mais inusitada possível. Aos 34 minutos, após a bola passar novamente de um lado para o outro, Gustavo Nery, de perna direita, acertou um belo chute, contou mais uma vez com a colaboração de Adir e fechou o placar. Timão, classificado, 5, Cianorte, fora, só um. Uma vitória incontestável e indiscutível, que credencia o Timão como principal candidato ao título da Copa do Brasil. E poderia ter sido de muito mais.