O estádio Beira-Rio foi um paraíso para o Corinthians na noite desta quarta-feira. Conforme havia prometido o dirigente Fernando Carvalho, os colorados infernizaram o adversário da decisão da Copa do Brasil. Com arremessos de pedras no ônibus do time de Mano Menezes, muita gritaria e provocações a Ronaldo. Não adiantou. Dentro de campo, os paulistas empataram por 2 a 2 e sagraram-se tricampeões.
O Corinthians foi gelado como o clima gaúcho para não se amedrontar com a pressão. Nem com fantasmas do passado. Algoz na Copa Libertadores da América de 2003, o argentino D”Alessandro estava tão nervoso como os ex-corintianos Kleber e Roger naquela ocasião. Foi expulso e quis brigar com o zagueiro William. Já o atacante Nilmar, símbolo do fracasso da parceria com a MSI e considerado a “pior contratação da história” pelo presidente Andrés Sanchez, foi facilmente anulado.
Pelo Corinthians, o goleiro Felipe deixou de ser “frangueiro” para ganhar a ovação com boas defesas. O lateral esquerdo André Santos e o zagueiro Chicão superaram os vice-campeonatos da Copa do Brasil dos últimos dois anos, o primeiro deles pelo Figueirense. Eles ajudaram o clube a ser campeão na mesma cidade onde foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 2007, diante do Grêmio.
Com um gol de Jorge Henrique e outro de André Santos, o Corinthians fez o suficiente para suportar a reação do Internacional no segundo tempo. Alecsandro marcou os dois gols dos colorados, que não conseguiram manter o ritmo ofensivo depois que perderam D”Alessandro. Resta ao Internacional o Campeonato Brasileiro, pelo visitará o Náutico no domingo. No estádio dos Aflitos.
Já o Corinthians terá bastante tempo para comemorar – provavelmente até em uma churrascaria de Porto Alegre, como duas torcedoras sugeriram ao apagado Ronaldo em um cartaz: “Gordo, aqui só churrasco”. Detentor do maior número (sete) de títulos nacionais desde que os campeonatos passaram a abranger todo o país, os campeões da Copa do Brasil só receberão o Fluminense no Pacaembu na próxima quarta-feira.
O jogo – Os jogadores do Internacional entraram em campo com passos calmos, todos de mãos dadas com crianças. Vestiam uniformes brancos, a mesma cor com a qual o clube conquistou seu título mundial em 2006. Nas arquibancadas, euforia. Os colorados recepcionaram a equipe com bandeiras, sinalizadores, fumaça e, principalmente, música.
Ao Corinthians, vaias. O atacante Ronaldo foi o mais hostilizado pelos torcedores do Internacional, que cumpriram a promessa de fazer o possível para ajudar seu time. Chegaram até a contar os segundos, unidos e aos berros, que o goleiro Felipe passava com a posse da bola. O entusiasmo aumentou porque a equipe gaúcha começou o jogo no campo de ataque.
O meia D”Alessandro parecia incorporar o espírito do público no gramado. O argentino que provocou as expulsões de Kleber (hoje no Inter) e Roger na Copa Libertadores da América de 2003, pelo River Plate, logo incomodou outro lateral esquerdo do Corinthians. André Santos recebeu cartão amarelo na primeira dividida com o jogador, que ciscava de um lado para o outro na intermediária.
O Corinthians se contentava com os contra-ataques. Frio como o clima em Porto Alegre, a equipe armada por Mano Menezes não se intimidava com a pressão da torcida e atletas adversários. Pelo contrário. Aos 15 minutos, provou que a sua estratégia de jogo poderia surtir efeito. O atacante Jorge Henrique aproveitou um cruzamento da direita, girou e chutou para o gol. Em posição de impedimento.
Aos 20 minutos, a bola alçada foi da esquerda (por André Santos) e pelo alto. Jorge Henrique, de 1,69 m, pulou e cabeceou para as redes. Desta vez, valeu. Foi a primeira vez que os colorados silenciaram no Beira-Rio e os corintianos conseguiram ser ouvidos. O time da casa passava a precisar de ao menos uma goleada por 4 a 1 para ser campeão. E a situação piorou.
Três dias depois de ganhar a Copa das Confederações com a seleção brasileira, André Santos tabelou na entrada da área e bateu forte para ampliar o placar – em gol parecido com o que ele mesmo marcou na final do Campeonato Paulista. Os corintianos, então, passaram a acreditar muito mais do que os colorados. “É campeão”, gritaram. Nas arquibancadas da torcida do Inter, havia quem recolhesse cartazes com a inscrição “Eu tenho certeza!” e fosse embora mais cedo.
Aqueles que já tinham certeza da derrota do Inter não viram a equipe de Tite esboçar uma reação nos minutos finais do primeiro tempo. O goleiro Felipe, no entanto, fez duas belas defesas em chutes do ex-corintiano Nilmar, livre dentro da área. A referência ofensiva do Corinthians também teve uma chance de marcar antes do intervalo. Ronaldo apareceu sem marcação diante de Lauro e apenas recuou a bola para o goleiro.
Quando retornou para o segundo tempo, Tite parecia resignado. “Vamos tentar empatar pelo menos. Depois, pensamos no milagre”, disse, cabisbaixo. Para tanto, o técnico trocou o volante Glaydson pelo atacante Alecsandro. Fez bem. Foi o irmão de Richarlyson quem conseguiu dar novo ânimo para os torcedores do Inter, com dois gols em menos de quatro minutos.
Aos 25, quando Andrezinho já havia substituído Taison, Alecsandro aproveitou passe errado de André Santos e descontou. Aos 29, o centroavante subiu mais do que o lateral direito Alessandro em levantamento na área e cabeceou com precisão para empatar. Os colorados voltaram a ficar ensandecidos no estádio. D”Alessandro também. Irritou-se quando o volante Cristian caiu no gramado e pediu atendimento médico, foi expulso e quis brigar com o zagueiro William.
Enquanto a mãe de D”Alessandro lamentava a atitude do filho no Beira-Rio, o árbitro mineiro Ricardo Marques Ribeiro também mandava Tite e Mano Menezes saírem de campo. O comandante corintiano ainda teve tempo de fechar a sua equipe, com Diego e Boquita nos lugares de André Santos e Cristian. Aos 37, lamentou à distância a expulsão de Elias, por falta no argentino Guiñazu.
Tite deu sua última cartada. Substituiu Bolívar por Danilo Silva. Já era tarde. O atacante Dentinho saiu e o zagueiro Jean entrou no Corinthians, que recuou definitivamente nos seus últimos minutos antes de ser tricampeão da Copa do Brasil, classificar-se para a próxima Copa Libertadores da América e chegar ao paraíso.