Os cachorros estão por todos os lados na Argentina. Por onde a seleção brasileira passa durante a Copa América, matilhas aparecem para latir, pedir afago e comida e até para centralizar atenções – como ocorreu quando um vira-lata invadiu o gramado na decepcionante estreia sem gols com a Venezuela. Diante do Paraguai, às 16 horas (de Brasília) deste sábado, o objetivo do time de Mano Menezes é acabar com os "dias de cão".
A primeira partida do Brasil no torneio foi preocupante. A torcida realmente só se empolgou em La Plata no instante em que o vira-lata deu uma volta no campo, passando de forma mansa pelo goleiro Júlio César, e saiu aplaudido na direção do vestiário depois de driblar alguns seguranças. Mano Menezes, ao contrário, chegou a vibrar em outros (poucos) momentos do confronto. "Os nossos primeiros 30 minutos de jogo foram bons, com chances de gol. É assim que precisa ser contra o Paraguai", cobrou.
Para ajustar a seleção brasileira, Mano adotou seriedade no decorrer da semana: comandou um treinamento fechado à imprensa, testou variações táticas e conversou bastante com os seus convocados. O clima entre os atletas ainda é agradável, mas não suficientemente leve como antes de a Copa América começar. Naquela época, alguns chegavam a parar de trabalhar com bola para brincar com dois cachorros que vivem nas dependências da concentração.
No luxuoso hotel onde o Brasil se prepara em Campana, os cães Pelé e Maradona (nome que receberam carinhosamente de funcionários do local) já se acostumaram com a presença dos jogadores. Aquele que foi batizado em homenagem ao maior ídolo do futebol argentino chegou a fincar os dentes na calça de Alexandre Pato certa vez. Recuperado do susto, o atacante também prometeu "morder" mais os adversários agora. "Estamos precisando de gols, de finalizações. Sou o centroavante e sei que posso ajudar", incumbiu-se.
Do lado de fora da concentração, os moradores de Los Cardales não deixaram os problemas da seleção brasileira afetarem a rotina do vilarejo. "Sabemos que o Brasil está aqui, mas somos muito tranquilos. Ainda mais porque Neymar e o restante começaram mal o campeonato, não é?", gargalhou um torcedor argentino, mecânico, antes de provar que não quis se inteirar muito sobre os visitantes estrangeiros. "Já vi o Kléber por aqui. Também gosto muito do Kaká", comentou, citando atletas que não foram chamados para a Copa América.
Curiosamente, o maior motivo de inquietação em Los Cardales é outro, bem conhecido da seleção brasileira: os cachorros. Os animais já tomaram as ruas do povoado, que conta clínicas veterinárias em suas principais ruas. O diário local La Semana Ya chegou a contestar em uma reportagem: "Alguns desses cães são de grande porte e estão enfermos, pois não recebem nenhum tipo de cuidado. Não há informações sobre seu estado sanitário. Não existe nenhum controle de natalidade para eles. Seria conveniente estruturar um projeto municipal para a criação de um canil ou de um centro de adoção dessas mascotes sem dono".
A partir deste final de semana, contudo, Mano Menezes espera fazer dos cachorros argentinos o menor motivo de inquietude de Los Cardales. Contra um Paraguai muito mais aberto do que a Venezuela, o técnico acredita que o ataque com Ganso, Robinho, Neymar e Pato possa funcionar e deixar os rivais temerosos novamente. "Vamos permitir que nossos jogadores trabalhem um pouco mais a bola, com objetividade, mais ainda quando tivermos a possibilidade de definir o jogo", declarou.
Para amenizar a pressão, Mano lembrou que o Brasil não foi o único favorito a não "uivar" na Copa América. O "complexo de vira-latas", consagrado por Nelson Rodrigues com a derrocada como local na Copa de 1950, passou a ameaçar a maior rival em 2011. "A Argentina não vem bem, mas temos características, estágios e problemas diferentes. A gente já conta com uma boa sistematização da nossa defesa", comparou o técnico, que provavelmente ainda não mexerá no ataque. Os meio-campistas Lucas e Elano foram testados nas vagas de Robinho e Ramires na quarta-feira, mas deverão seguir na reserva.
Assim como Brasil e Argentina, o Paraguai também não venceu na Copa América por enquanto. A equipe dirigida pelo argentino Gerardo Martino empatou por 0 a 0 com o Equador na primeira rodada e terá Enrique Vera e Antolín Alcaraz como novidades, nos lugares de Edgar Barreto e Iván Piris. "Trata-se de um time forte, que já marcou sob pressão a campeã do mundo Espanha e pode perfeitamente repetir isso contra o Brasil. Não temos ilusão de jogo fácil", advertiu Mano Menezes, pronto para mais uma "cachorrada" em caso de tropeço.