Cordial com todos os treinadores que enfrentou até aqui na Copa do Mundo, Luiz Felipe Scolari provavelmente não o será no sábado, quando a Seleção disputa o terceiro lugar da competição contra a Holanda, de Louis van Gaal, em Brasília. Ainda na fase de grupos, antes do duelo definitivo com Camarões, irritado por uma declaração do rival a respeito de um suposto benefício pelo horário dos jogos, o brasileiro o ofendeu sem citá-lo nominalmente.
"Algumas pessoas se manifestaram dizendo que vamos escolher o nosso adversário. Ou são burras ou mal-intencionadas. Se perdermos para Camarões, vamos nos classificar? Não. E os horários dos jogos são escolhidos pela Fifa. Então, vamos parar de endeusar A, B ou C. Dão ênfase a uma pessoa que está falando bobagem", disse Felipão, no mesmo dia em que o holandês questionou o fato de sua chave ser definida antes.
"É ridículo. A Fifa sempre faz publicidade falando em Fair Play, mas tem seus truques e isso não é bom, não é Fair Play", questionou, dizendo-se temido pelo selecionado brasileiro, naquela ocasião. "É claro que o Brasil não quer enfrentar a Holanda. Fizemos muitos gols, e gols fantásticos. Não acho que terá influência o Brasil jogar depois, o Brasil vai jogar com obrigações esportivas. Mas é uma questão que abre discussão, então por que fazer isso?".
Apesar de não ter dito o nome de Van Gaal em nenhum momento, Felipão fez questão de deixar claro que estava se referindo a ele como a pessoa burra ou mal-intencionada, tanto que até recorreu à lembrança de um desafeto que o atual treinador da Holanda criou quando dirigia o Barcelona. "Estou conhecendo melhor algumas pessoas, principalmente pelo que o Rivaldo me falava", insinuou o brasileiro, campeão mundial em 2002 com o atacante na equipe.
No final das contas, as duas seleções avançaram em primeiro lugar de seus grupos e não se encontraram nas oitavas de final. Três fases depois, derrotadas na semifinal, elas agora se encontrarão na disputa pelo terceiro lugar. Para o anfitrião Brasil, uma disputa não muito honrosa, principalmente depois da derrota por 7 a 1 para a Alemanha, que trouxe de volta a discussão sobre a preparação realizada antes e durante a competição e também a respeito da atuação de Felipão na partida de terça-feira.
Além de ter praticamente abdicado do treino de véspera na tentativa de ludibriar a imprensa e consequentemente os alemães, o comandante brasileiro fez sua primeira alteração na semifinal somente no intervalo, quando o placar já apontava 5 a 0 para a equipe adversária. Ao final do jogo, ele admitiu parte da culpa pelo resultado, porém sem assumir os erros que lhe apontavam. Além disso, recebeu críticas não apenas de torcedores comuns, mas inclusive de Delfim Peixoto, futuro vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol e atual presidente da Federação Catarinense de Futebol.
Informado nesta quarta-feira de que o dirigente havia dito ao ESPN.com.br que "Felipão não volta nunca mais" ao comando da Seleção, ele o ironizou. "Por que vou responder? O único título nacional do futebol de Santa Catarina quem deu fui eu. Ele tem que ajoelhar e pedir benção para mim. Não ganharam nada, nunca. Só ganharam com o Criciúma quando eu era o técnico. Portanto, não vou discutir com presidente de federação. Ele que fale o que achar melhor", comentou o campeão da Copa do Brasil de 1991, enquanto tenta diminuir seu vexame na Copa no Brasil.