Ao longo da temporada, pouca gente poderia apostar que Kimi Raikkonen terminaria 2007 como campeão da Fórmula 1. Afinal, a disputa do ano todo foi polarizada pela McLaren, que só não traria o título para Lewis Hamilton ou para Fernando Alonso com uma complicada combinação de resultados. O novato da McLaren já era previamente festejado como o primeiro estreante a comemorar a conquista.
Mas os erros de Hamilton nas duas últimas provas, mais a melhora notável da Ferrari na China e no Brasil, e uma improvável combinação de resultado acabou promovendo uma grata surpresa para o finlandês da Ferrari. Mesmo com todo o favoritismo, a dupla da escuderia inglesa não soube administrar a vantagem que tinha sobre Raikkonen, que, ajudado por Felipe Massa, finalmente traz para a cidade de Espoo o título que bateu na trave em 2003 e 2005.
É o primeiro caneco do Homem de Gelo no automobilismo desde a Fórmula Renault inglesa de 2002, quando faturou 13 das 23 corridas da temporada. O bom desempenho em pistas britânicas valeu ao piloto um teste com a Sauber, e ele não decepcionou: foi contratado para estrear na Fórmula 1 no ano seguinte, correndo ao lado do alemão Nick Heidfeld e tirando a vaga do brasileiro Enrique Bernoldi, que acabou na Arrows, que pediria falência pouco depois.
Raikkonen, então com apenas 21 anos, superou até mesmo a barreira da FIA, que não queria conceder a ele a superlicença por considerá-lo muito novo. Porém, com apenas 23 corridas em monopostos no currículo, o finlandês não decepcionou na excelente temporada do time de Peter Sauber: foi sexto na estréia, no GP da Austrália, pontuando ainda na Áustria, no Canadá e na Inglaterra. Terminou em décimo da temporada com nove pontos, três a menos do que Heidfeld.
A grata surpresa catapultou Raikkonen à McLaren, onde ocupou a vaga de outro finlandês: Mika Hakkinen, campeão em 98 e 99. A jovem revelação não empolgou na primeira temporada de casa nova, terminando 2002 apenas como o sexto colocado e com 24 pontos. Porém, a regularidade de 2003 já colocou Kimi como o vice-campeão do Mundial de pilotos, com uma vitória (sua primeira, na Malásia) e sete segundos lugares.
Desta forma, 2004 começou com a promessa de dar novamente trabalho a Michael Schumacher – promessa que não se concretizou com o fraco modelo MP4-19 da McLaren. Até a troca pelo carro B, que aconteceu apenas na décima prova, Kimi tinha apenas seis pontos, que chegaram a 45 com as corridas seguintes.
Em 2005, a McLaren voltou a passar por mudanças, mandando David Coulthard para a Red Bull e trazendo da Williams o arrojado Juan Pablo Montoya. O colombiano acabou não confirmando as expectativas criadas (especialmente após a ultrapassagem sobre Schumacher no GP do Brasil de 2001), mas Raikkonen voltou a apertar a disputar o título. Desta vez, superou Michael Schumacher, mas assistiu Fernando Alonso sagrar-se campeão com a Renault – o que aconteceu de novo em 2006, quando o time de Ron Dennis passou todo o ano sem vitória.
Ferrari e título – No final do ano passado, o mercado de transferências da Fórmula 1 entraria em ebulição com três notícias: Schumacher se aposentaria, Alonso deixaria a Renault e Lewis Hamilton estrearia na McLaren. Como o espanhol era outro novo contratado da dupla Ron Dennis-Norbert Haug, Raikkonen era o nome óbvio para assumir o legado do alemão na escuderia de Maranello. Afinal, a outra única vaga aberta para titular era na Toro Rosso…
Dito e feito: Raikkonen assumiu a vaga de Schumi e correu ao lado de Felipe Massa nos carros vermelhos mais famosos do mundo – que, extra-oficialmente, não teriam a divisão de primeiro e segundo pilotos. E mesmo correndo contra a simpatia do brasileiro, Raikkonen deu a primeira mostra de que poderia encerrar seu jejum ao vencer o GP da Austrália. Alonso foi segundo, Hamilton terceiro e Massa, o sexto.
Porém, o rendimento caiu, e a impressão que ficou da primeira metade da temporada foi que o título, mais uma vez, teria que ser adiado: terceiro na Malásia e no Bahrein, uma quebra de suspensão na Espanha e o oitavo lugar em Mônaco praticamente sepultavam o sonho do Homem de Gelo. Antes da reação, ainda vieram o quinto lugar no Canadá e o quarto nos EUA, em circuitos teoricamente de predominância ferrarista.
Os planos só voltaram a ganhar fôlego com as duas vitórias consecutivas na França e na Inglaterra, no retorno da Fórmula 1 à Europa. Mesmo com um problema hidráulico no GP da Europa que novamente impediu que ele chegasse, o finlandês voltou a brilhar nas corridas seguintes, com seis pódios seguidos: Hungria (segundo), Turquia (segundo), Itália (terceiro), Bélgica (primeiro), Japão (terceiro) e China (primeiro).
Foi assim que Kimi chegou a Interlagos com 100 pontos, sete atrás de Lewis Hamilton, três atrás de Fernando Alonso e precisando de um milagre para conquistar o título. O milagre veio e com a ajuda do agora escudeiro Felipe Massa, que terminou em segundo lugar em Interlagos, após troca de posições dos pilotos na segunda parada dos boxes, e superou por um ponto Fernando Alonso, terceiro em São Paulo, e Lewis Hamilton, sétimo