Para tentar conter a violência nos estádios, a CBF resolveu proibir a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos torneios que organiza e em jogos da seleção no país pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010.
A publicidade desses produtos em estádios, no entanto, permanece inalterada. A entidade tem um contrato de patrocínio milionário com a Ambev, que produz as cervejas Brahma, Antarctica e Skol.
A CBF diz que a decisão foi tomada com o objetivo de dar mais segurança aos torcedores e nega problemas com o patrocinador. Procurada pela reportagem, a Ambev não se manifestou sobre o assunto.
A decisão de suspender a venda de bebidas integra um protocolo de intenções assinado com o CNPG (Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União).
O documento determina ainda o aperfeiçoamento dos laudos técnicos sobre as condições de segurança e higiene dos estádios, que devem ser entregues ao Ministério Público antes da realização dos jogos.
Segundo o presidente da entidade, Ricardo Teixeira, a medida entra em vigor “imediatamente”. Os clubes mandantes que descumprirem a determinação poderão ser punidos. Na próxima semana, jogos da Copa do Brasil serão realizados.
“A partir do momento em que há uma determinação e um acordo feito entre o Ministério Público e a CBF, isso vai ultrapassar inclusive as medidas punitivas da CBF através de seus tribunais”, afirmou Teixeira, que não explicou que tipo de punição caberia aos clubes.
Dirigentes de clubes ouvidos pela reportagem reagiram de forma positiva à restrição. “A mistura de álcool com emoção é muito complicada”, afirmou o vice-presidente de futebol do Flamengo, Kleber Leite.
Apesar de ter sido pego de surpresa pelo anúncio, ele considerou a medida “sadia” e achou correta a decisão de não proibir a publicidade de bebidas. “A pessoa recebe o impacto do anúncio e pode ser que só vá beber dali a dois dias”, disse. “O importante é evitar o consumo no estádio.”
Reação parecida teve o presidente do Fluminense, Roberto Horcades. Ele disse que já havia sido consultado sobre o assunto por Ricardo Teixeira. “É uma idéia que já vínhamos amadurecendo e que é muito adequada no momento em que o país se prepara para sediar uma Copa do Mundo”, disse.
O presidente do CNPG, procurador-geral Marfan Martins, afirmou que a experiência de estados que adotaram medidas semelhantes mostra “uma redução drástica nas ocorrências de violência e vandalismo”. Segundo ele, em Minas Gerais essa redução chegou a 70%.
Hoje, a venda de bebidas em estádios já é proibida em SP, RS, MG e CE. Nos dois primeiros, a proibição é feita por lei. Nos outros dois, através de acordos entre as federações locais e o Ministério Público.
O major João Jacques Soares Bisnello, comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios da PM do Rio, acredita que, no médio prazo, a restrição poderá levar à redução dos efetivos nos estádios, pois o número de ocorrências deve cair.
Camarotes
Apesar de uma lei estadual de dezembro de 1996 ter proibido a venda e a distribuição de bebidas alcoólicas em praças esportivas de São Paulo, em alguns camarotes de estádios, como os do Morumbi, é servida cerveja.