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Caso Serginho completa uma década sem culpado, mas deixa legado a clubes

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O dia 27 de outubro de 2004 passou a ser tratado como um marco para o futebol brasileiro depois que o zagueiro Serginho, do São Caetano, aos 15 minutos do segundo tempo, sofreu uma parara cardiorrespiratória na partida contra o São Paulo, no gramado do Morumbi, e teve o falecimento confirmado pouco depois no hospital. O caso foi investigado pela Justiça Desportiva, na qual o clube do ABC foi duramente punido, mas ninguém foi apontado como culpado pela fatalidade. Ainda assim, o ocorrido deixou um legado nacional.

Serginho, com 30 anos de idade, havia feito todos os exames estabelecidos pelo departamento médico do Azulão, nos quais uma pequena arritmia havia sido detectada, mas, de acordo com o clube, o parecer indicava que o atleta poderia seguir com a rotina de atividades físicas normalmente. O caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) de Brasília, que passou a classificar o episódio, antes homicídio doloso, para culposo, sendo posteriormente arquivado sem encontrar culpados.

Na esfera esportiva, o presidente do Azulão, Nairo Ferreira de Souza, que exerce o cargo atualmente, foi afastado da função por 720 dias com a alegação de ter escondido a informação do risco corrido pelo atleta em campo. O médico Paulo Forte, que prestou o primeiro atendimento ao jogador no gramado, teve um gancho mais pesado, permanecendo quatro anos longe do trabalho. O São Caetano, após o julgamento daquele ano, ainda foi obrigado a pagar uma multa de R$ 50 mil e perdeu 24 pontos no Campeonato Brasileiro de 2004.

Se o caso, mesmo depois de 10 anos, ainda carrega contradições, o legado deixado aos clubes brasileiros foi importante para evitar outros acontecimentos semelhantes. Médico do São Paulo na ocasião, Marco Aurélio Cunha, também superintendente tricolor, estava no Morumbi no dia da tragédia, acompanhou a ambulância que levou Serginho ao hospital São Luiz, na região do estádio, local em que a morte foi confirmada às 22h45 (de Brasília). Ao relembrar o caso, o doutor acredita que o ocorrido serviu de alerta nacional e alterou o olhar dos dirigentes.

“Foi bastante positivo no sentido de dar mais responsabilidade aos clubes, pois quando o médico falava sobre o assunto, sempre houve resistência de gastar dinheiro com exames. Você gasta 300 ou 400 mil de salário com os jogadores, mas se recusa a pagar por um exame mais detalhado ou um aparelho sofisticado que custaria quatro mil. Houve claramente uma aceitação de que as solicitações médicas precisavam ser atendidas”, destacou o são-paulino.

Ciente das críticas relacionadas ao atendimento médico recebido pelo zagueiro do Azulão, Marco Aurélio Cunha garante que foi feito tudo o que estava ao alcance do São Paulo, mandante do jogo. “Não podemos confundir as coisas. Na morte de Serginho havia uma ambulância no Morumbi. O que percebemos hoje é mais rigor no controle das pessoas que estão prestando esse serviço. Com o Serginho foi feito tudo que de melhor havia naquela época”, garantiu o doutor.

O presidente do São Caetano, por sua vez, também defende que o clube seguiu todas as normas estabelecidas na época. Desta forma, a punição recebida no Campeonato Brasileiro de 2004, que tirou a possibilidade de título ou vaga na Libertadores do ano seguinte, é questionada até os dias atuais. Por outro lado, Nairo Ferreira de Souza também acredita que a tragédia ao menos serviu para que os clubes passassem a adotar medidas mais rigorosas neste aspecto.

“O São Caetano sempre saiu na frente neste sentindo, vinha fazendo exames em seus jogadores desde 1999. O doutor Paulo (Forte) sempre preservou esse tipo de exame. É claro que ficamos tristes pelo episódio, mas isso mudou muito a norma do futebol. Se hoje você for treinar ou fazer qualquer tipo de jogo, é obrigado a ter um desfibrilador. Esta é uma regra que não existia, e vários clubes, depois da morte do Sérgio, adotaram o procedimento de exames de coração, algo que pouco importava anos atrás”, recordou o mandatário.

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