Soberano nas últimas cinco edições do Campeonato Brasileiro, quando arrematou a taça de campeão com Santos (2004), Corinthians (2005) e São Paulo (2006, 2007 e 2008), o futebol paulista é considerado um dos mais fortes do país. Por consequência, seu campeonato estadual figura entre os mais difíceis e equilibrados do território nacional.
Às vésperas do início de mais um Paulistão, os integrantes da elite, sejam eles os chamados ‘grandes’, como Santos, Palmeiras, Corinthians, Portuguesa e São Paulo, ou os ‘azarões’, como Marília, Botafogo, Barueri, São Caetano e Santo André, estão se movimentando para reforçar seus elencos e entrar com o pé direito na primeira competição oficial de 2009.
A ‘fonte’ mais explorada por grande parte dos times paulistas foi justamente um centro que há muito tempo não é rotulado como principal força do país, mais pela desorganização fora de campo do que pelos talentos que possui dentro das quatro linhas: o Rio de Janeiro.
À exceção do Palmeiras, que preferiu apostar nas revelações de Salvador e Curitiba, trazendo jogadores como Marquinhos, Williams, Keirrison e Maurício, mas tem no grupo os cariocas Wanderley Luxemburgo, Lenny e Diego Souza, os demais grandes do estado reforçaram seus elencos com jogadores que estavam na capital carioca na última temporada.
Para o técnico Wanderley Luxemburgo, os ‘novos paulistas’ têm tudo para fortalecer ainda mais o já alto nível do campeonato. “Acredito na adaptação rápida desses jogadores no futebol paulista, pois alguns deles, como são os casos do Washington e do Lúcio Flávio, já tiveram experiências em outros estados”, comentou, citando a passagem do novo centroavante do São Paulo e do meia contratado pelo Santos pelo futebol do Paraná.
“Os jogadores de outros estados, como do Nordeste, encontram mais dificuldades em São Paulo. Até pelo estilo de vida mais descontraído do carioca, é mais fácil a adaptação deles aqui”, completou o atual treinador tricampeão paulista.
O Corinthians, empolgado com o retorno à Série A do Brasileirão, dará ao Paulistão um sotaque não apenas carioca, mas ‘fenomenal’. Revelado pelo Social Ramos, Ronaldo ‘Fenômeno’, ainda juvenil, jogou pelo São Cristovão, de onde partiu para o Cruzeiro e, de lá, para conquistar fama mundial.
Apesar de não ter atuado profissionalmente por nenhuma equipe grande do Rio, o jogador é o principal ícone da ‘legião carioca’ que invadiu São Paulo ao final de 2008 e, sem dúvida, o grande nome do futebol paulista e brasileiro para a temporada.
Perto de fazer sua estreia nos campos paulistas, Ronaldo garantiu estar pronto para as cobranças. “Não tenho medo de atuar no futebol paulista. Jogarei sempre que o treinador me escalar, sem exigência nenhuma”, prometeu.
O ‘Fenômeno’ também não teme os gramados castigados que costumam caracterizar os duelos contra os times de menor expressão no Paulistão. “Sou humilde demais para me negar a jogar em qualquer campo. Quando eu era criança, jogava na rua, em cima do paralelepípedo e descalço. Perdia quase todas as unhas do pé”, brincou. “Além disso, na Europa também há muitos campos ruins”, completou o ex-atleta, que já desfilou seu talento por campos da Holanda, Itália e Espanha.
Ao seu lado, os conterrâneos Túlio e Jorge Henrique, ex-destaques do Botafogo, tentarão levar o Timão ao seu 26º título estadual. “Quando estava no Rio de Janeiro, eu tinha a clara impressão de que o futebol paulista era mais organizado. Sem dúvida, está mesmo à frente do futebol carioca. O futebol de São Paulo é o que tem o melhor nível e poder jogar aqui representa um orgulho e uma felicidade muito grande para mim”, admitiu Túlio.
Sua felicidade em defender o Corinthians é tanta que o jogador admitiu o desejo de encerrar sua carreira com a camisa do Alvinegro. “Tenho 32 anos e devo jogar futebol só por mais estes dois anos (tempo do contrato com o clube). Espero que eles sejam recheados de títulos, e, por isso, vim para o Corinthians, pois acredito que vamos brigar para ser campeões em todas as competições já em 2009”.
Base do algoz
Tricampeão nacional, o São Paulo foi buscar no maior algoz da temporada passada três nomes de peso para tentar abocanhar o título que não vê desde 2005. Do Fluminense, chegaram para reforçar o Tricolor do Morumbi o lateral-esquerdo Júnior César, o volante Arouca e o atacante Washington.
Agora ‘paulistas’, Júnior César e Arouca não têm dúvidas sobre a diferença entre o futebol de São Paulo e do Rio de Janeiro. “São Paulo é o centro do futebol brasileiro e é claro que esse foi um dos motivos que me trouxe”, admitiu Arouca. “O futebol paulista é o de maior visibilidade do Brasil e o mais competitivo”, emendou Júnior César.
Assim como os antigos companheiros de Laranjeiras, o atacante Washington, que já defendeu as cores da Ponte Preta, enalteceu a chegada de reforços de alto nível para a disputa do Paulistão. “Todas estas contratações que estão chegando nos grandes times estão sendo muito boas. E quem ganha é o torcedor de São Paulo. Com certeza podem esperar grandes jogos porque é um campeonato com grandes jogadores”.
Também vieram do Rio de Janeiro o lateral-direito Wagner Diniz, rebaixado à Série B com o Vasco da Gama, e o zagueiro Renato Silva, que recebeu sondagens de Santos e Corinthians antes de trocar o Botafogo pelo São Paulo.
Na Vila, novo ‘maestro’
Se não conseguiu levar Renato Silva para reforçar sua defesa, o Santos obteve sucesso em outras frentes e desfalcou dois clubes cariocas em 2009. Do Botafogo, vieram o lateral-esquerdo Triguinho, opção para uma eventual saída do titular Kléber, e o meia Lúcio Flávio, contratado para ser o maestro do setor.
Após uma passagem frustrante pelo São Paulo e de ter vivido altos e baixos no São Caetano, Lúcio Flávio sonha em vestir a camisa dez e, em sua volta ao futebol paulista, fazer jus ao uniforme que já trajou o melhor jogador de todos os tempos: Pelé.
“Não sou digno de amarrar as chuteiras do Pelé, pois nada se compara a ele, mas, no Botafogo, tive a chance de usar a camisa sete, que foi do Garrincha. Se eu puder usar a dez que foi do Pelé, serei um privilegiado”, comentou.
Sobre as diferenças entre o futebol paulista e o do restante do país, o ex-jogador do Botafogo foi direto: “O Campeonato Paulista é diferente, pois as equipes do interior sempre montam bons times e começam a trabalhar bem antes. Isso deixa a competição bastante equilibrada e disputada”.
Também desembarcaram na Vila Belmiro o polivalente Madson, um dos poucos destaques do Vasco na campanha que culminou com a queda da equipe para a Segunda Divisão Nacional, e Luizinho, lateral-direito reserva de Léo Moura no Flamengo. Na linha ofensiva, Roni, que estava no futebol japonês mas viveu sua melhor fase defendendo o Fluminense, briga com o equatoriano Bolamos para ser o novo parceiro de Kléber Pereira.
A Portuguesa de Desportos, rebaixada novamente para a Segunda Divisão no Campeonato Brasileiro, quer usar o estadual para mostrar que ainda é um dos grandes times do estado. Para isso, manteve Estevam Soares no comando e o experiente Athirson, ex-Flamengo e Botafogo, na lateral esquerda, além de buscar o volante Ygor no Fluminense e renovar o empréstimo de Felype Gabriel junto ao Flamengo.