A torcida pediu, mas Parreira demorou para atender. Com Robinho no banco na primeira etapa, preterido pelo meio-campista Juninho Pernambucano, a seleção brasileira entrou em campo na tarde deste domingo para enfrentar o Peru no estádio Serra Dourada, em Goiânia, e voltou a apresentar um futebol burocrático, com a cara de Carlos Alberto Parreira.
A entrada do jogador santista na segunda etapa melhorou a produção ofensiva brasileira, mas não a ponto de empolgar a torcida, que deixou o Serra Dourada insatisfeita com a passividade brasileira e a teimosia de Parreira, que parece ter em seu contrato a obrigatoriedade de deixar Ronaldo em campo durante os 90 minutos.
Apesar do mau futebol, o Brasil venceu por 1 a 0, foi a 23 pontos na tabela e se manteve a dois pontos da Argentina, na vice-liderança das Eliminatórias Sul-americanas para a Copa de 2006. Na quarta-feira, em Montevidéu, a seleção volta a campo para encarar o Uruguai. Já o Peru recebe o Equador, também na quarta, em Lima.
O jogo: Antes de a bola começar a rolar no Serra Dourada, a banda responsável pela execução dos hinos nacionais dos dois países tocou o hino brasileiro de maneira acelerada, em 45 rotações. Com o jogo valendo, no entanto, o ritmo foi mais parecido com um tango, daqueles bem melancólicos.
Sem criatividade no meio-campo, constatação mais do que óbvia para um time que tem Juninho Pernambucano, Zé Roberto e Emerson lado a lado, a equipe brasileira encontrou dificuldades para penetrar na área peruana, e, quando chegava, era atrapalhada por Ronaldo, fenomenalmente fora de forma.
Nas três participações do camisa nove durante os primeiros 45 minutos da partida, ele, literalmente, apanhou da bola. Logo a um minuto, Juninho fez boa jogada e tocou para Cafu, que cruzou. Pesado, Ronaldo não conseguiu subir e a bola saiu sem perigo para o goleiro Ibañez. Aos dez, Ronaldinho Gaúcho tentou o lançamento e a bola quicou na frente de Ronaldo, encobrindo o atacante e sua volumosa barriga.
A melhor oportunidade veio aos 32, após bela enfiada de bola de Roberto Carlos. Na cara do gol, Ronaldo, talvez pensando em Cicarelli, tropeçou e permitiu a saída do goleiro, perdendo um gol que nem Bobô perderia. O erro provocou a reação imediata da torcida, que passou a gritar pedindo a entrada de Robinho.
O Peru, que não tem nada a ver com a burocracia do futebol da equipe de Parreira, foi quem mais levou perigo no primeiro tempo, sempre penetrando nos buracos abertos nas costas do lateral-esquerdo Roberto Carlos. Foi desse modo que chegou perto de abrir o placar com Pizarro, aos 26 minutos e com Palácios, aos 41. O Brasil desceu para os vestiários sob vaias e mais gritos uníssonos pedindo “Robinho, Robinho”.
Mea-culpa: “O time foi lento e faltou alegria para jogar”. Assim o técnico Carlos Alberto Parreira analisou a atuação brasileira na primeira etapa contra o Peru. Para mudar a história, atendeu a torcida e sacou Juninho para a entrada de Robinho.
O Brasil mudou de cara e melhorou, mas Ronaldo continuou atrapalhando o ataque brasileiro, errando jogadas primárias e perdendo gols incríveis, como aos sete minutos, quando isolou a bola de dentro da pequena área. Menos mal que a jogada já havia sido parada pelo árbitro.
Na seqüência, sem Ronaldo participar do lance, o Brasil chegou perto do gol. Robinho achou Kaká e este serviu Cafu, que, impedido, cruzou para trás. Kaká chegou batendo mal, a bola bateu no zagueiro e foi parar nas mãos do goleiro Ibañez.
Aos 13 minutos, Robinho deixou Ronaldinho Gaúcho na cara do gol. O camisa dez foi derrubado pelo zagueiro peruano dentro da área, mas o árbitro paraguaio preferiu ignorar o pênalti e punir o astro do Barcelona com um cartão amarelo.
Quinze minutos mais tarde, na primeira vez em que Ronaldo acertou um passe na partida, Kaká, que estava em vias de ser (erroneamente) substituído por Ricardo Oliveira, entrou pela direita e fuzilou o goleiro Ibañez: 1 a 0. O gol quebrou um jejum de 289 minutos sem gols da seleção burocrática de Parreira.
Satisfeito com a “goleada”, Parreira sacou Kaká, o melhor do time, e colocou o volante Renato em campo. Na mesma hora, a torcida respondeu: “Burro, Burro, Burro”. O Brasil ainda teve uma chance para ampliar com Ronaldo, aos 46, depois de trombar com a zaga e chutar em cima do goleiro. Por isso, o resultado ficou mesmo no 1 a 0, suficiente para o desempenho mediano da equipe canarinho neste domingo de Páscoa.