O estádio mais caro da história das Copas do Mundo é um Wembley candango. A comparação, feita por profissionais de clubes do Distrito Federal, pode até parecer um elogio, mas é preocupante. O Governo do Distrito Federal (GDF) investiu R$ 1,566 bilhão na reconstrução do Mané Garrincha e precisará continuar gastando para que a arena receba jogos de futebol.
“O GDF vai ter que investir para fazer alguém jogar no Mané Garrincha, não importa se é um dos clubes daqui ou de qualquer lugar do Brasil. Por isso, deve ser igual ao Wembley”, disse um dos profissionais de equipes do Distrito Federal. A Gazeta Esportiva entrou em contato com a assessoria do GDF pedindo que alguém falasse do estádio e não foi atendida.
Na prática, será necessário gastar dinheiro público para que grandes clubes do Brasil aceitem alterar seus mandos e jogar no estádio que recebeu sete partidas da Copa do Mundo. O Brasiliense, o Brasília e o Gama, principais times da região, não parecem dispostos a arcar com o aluguel do principal estádio do Distrito Federal – 15% da renda bruta arrecadada, ou 13% no caso de locação por quatro jogos, sendo que as Seleções Brasileiras estão isentas da taxa.
Não vale a pena alugar o Mané Garrincha porque os jogos dos times locais não costumam atrair grandes públicos mesmo em suas arenas. O Brasiliense deve continuar atuando no Serejão, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, enquanto o Gama segue no Bezerrão, do município de mesmo nome e também do poder público. O Brasília atua nos dois estádios.
Londres também tem seus clubes atuando em estádios diferentes da histórica arena, palco da final do Mundial de 1966 e que foi reformada entre 2000 e 2006. Como o empreendimento brasiliense, Wembley recebeu críticas sobre seus gastos e atrasos nas obras, mas, hoje, está sob os cuidados de Wembley National Stadium Limited, empresa subsidiada pela Federação de Futebol da Inglaterra. O Mané Garrincha, por sua vez, está nas mãos do GDF, que já estuda privatizá-lo para diminuir os custos.
A vitória por 3 a 0 da Holanda sobre o Brasil na disputa do terceiro lugar da Copa do Mundo, no sábado, foi o sétimo jogo do Mané Garrincha no Mundial e o 50º evento no estádio desde a sua reinauguração no ano passado, incluindo nessa conta 37 partidas de futebol, quatro shows e nove eventos institucionais.
Sobre futebol, não há previsão anunciada para um novo jogo. A estimativa é de que ocorra somente em 13 de setembro, recebendo a final da segunda divisão brasiliense. Um evento bem menor do que poderia se imaginar para o estádio mais caro já construído para uma Copa do Mundo em 84 anos desde que o torneio foi promovido pela primeira vez.
De acordo com números divulgados pela Federação Brasiliense de Futebol, os gastos de R$ 1,566 bilhão mais do que dobram em relação aos R$ 745,3 milhões estimados inicialmente para a reconstrução da arena. O antigo Mané Garrincha, que comportava até 45.200 pessoas, seria implodido e, após duas tentativas sem sucesso, acabou sendo destruído por máquinas para se tornar a arena que, agora, comporta cerca de 71 mil pessoas.
De acordo com estudo da Pluri Consultoria, só o Wembley londrino supera o Mané Garrincha entre os estádios mais caros do mundo, pois sua obra custou R$ 2,44 bilhões. Somando construção e reforma, a arena candanga teve cada assento, em média, sob o valor de R$ 25.295,46, inferior apenas ao de Wembley (R$ 27.995,86) e ao do suíço Stade de Suisse (R$ 26.877,54).
Os gastos poderiam ser até maiores, já que existia a previsão de um corredor subterrâneo ligando um setor destinado a imprensa até as dependências internas do estádio, mas as autoridades, segundo profissionais que trabalharam para a Fifa durante o Mundial, desistiram da obra quando foi confirmado que a abertura da Copa seria em São Paulo. Assim, durante os sete jogos do torneio, jornalistas do mundo inteiro se deparavam com avisos contra acidentes ao longo de longos trajetos tanto para o centro de mídia quanto para as áreas de entrevistas e as tribunas de imprensa.
Em comunicado, o Governo do Distrio Federal informa que, “para cada R$ 1 investido no estádio, outros R$ 4 serão para infraestrutura, mobilidade urbana e segurança”. Apoia-se também em números da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de que só a Copa das Confederações de 2013, na qual o estádio foi usado apenas na abertura, movimentou R$ 2,8 bilhões na economia brasiliense, quase duas vezes o custo do estádio.
O secretário extraordinário da Copa do GDF, Cláudio Monteiro, ainda cita pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) indicando que cada grande evento no estádio gera dois mil empregos diretos e indiretos e movimenta até R$ 12 milhões na economia do DF. Assim, autoridades consideram “daltônico” quem chama o Mané Garrincha de elefante branco, “pois é dourado”. O futuro mostrará a validade do estádio que, hoje, não é nada mais do que um Wembley candango.