Como em 1982 e 1986, a Alemanha eliminou a França em uma fase decisiva da Copa do Mundo. No início da tarde desta sexta-feira, não pela semifinal, mas pelas quartas de final. Mesmo sob um forte calor (que beirou os 30 graus) e com sete jogadores com sintomas de gripe nos últimos dias, a equipe tricampeã venceu por 1 a 0 e saiu classificada do Maracanã. O único gol foi marcado aos 11 minutos por Mats Hummel, zagueiro que não atuou na fase anterior justamente por estar resfriado e febril.
O adversário na semifinal (na terça-feira, no Mineirão, em Belo Horizonte) será o Brasil que venceu a Colômbia. À França, restou uma viagem de volta para casa e o retrospecto ainda mais negativo contra os alemães em Mundiais – a única vitória em quatro confrontos foi em 1958, na decisão do terceiro lugar.
O time treinado por Didier Deschamps lutou muito para evitar a eliminação, em especial na volta para o segundo tempo. Campeão mundial como jogador em 1998, o comandante viu a França voltar mais incisiva do intervalo e também gastou substituições no sentido de deixá-la mais ofensiva. Mas a Alemanha soube se portar muito bem defensivamente, valendo-se muitas vezes de faltas e cartões amarelos para frear a investida rival.
Uma Alemanha que soube, para começar, ceder à pressão da torcida e escalar Phillip Lam na lateral direita, deixando o meio-campo a cargo de Sami Khedira e Bastian Schweinsteiger, recuperados fisicamente, além do já titular Toni Kroos. Na zaga, Mats Hummels, recuperado da gripe que o havia tirado das oitavas, retomou a posição ocupada por Shkodran Mustafi, que foi cortado devido a uma lesão coxa esquerda.
Essa formação do técnico Joachim Low tomou a iniciativa do jogo desde os primeiros minutos. Logo aos dois, uma bola cruzada à meia altura por Thomas Muller exigiu trabalho da defesa adversária. Mas a primeira grande chance da partida foi criada pelos franceses. Aos seis minutos, Mathieu Valbuena chegou à linha de fundo, pelo lado esquerdo, e levantou para Karim Benzema. O atacante bateu de primeira, à direita do gol de Manuel Neuer.
Foram assim os primeiros dez minutos. Os alemães detinham a posse de bola na maior parte do tempo, porém era a equipe da França quem mais levava perigo, com poucos passes, à base de longos lançamentos. Em um deles, Valbuena cruzou rasteiro e viu a defesa se salvar. Logo na jogada seguinte, foi a vez de Antoine Griezmann chegar à linha de fundo e colocar a bola no meio da área, para novamente a retaguarda francesa afastar de lá.
A solução para a Alemanha transformar seu domínio territorial em gol veio em jogada de bola parada. Aos 11 minutos, Kroos disputou com Paul Pogba e caiu. O árbitro assinalou falta, na meia esquerda, e o próprio Kroos fez a cobrança. Quase na marca penal, Hummels ganhou de Raphael Varane pelo alto e desviou de cabeça. A bola inda tocou o travessão antes de passar pelo goleiro Hugo Lloris e abrir o placar do Maracanã. Foi o segundo gol do zagueiro em quatro jogos na competição.
A França até que assimilou bem o golpe e passou a povoar mais o campo de ataque. Mas a estratégia de buscar seus homens de frente com lançamentos não mudou. Atenta, a linha defensiva alemã se posicionava de modo que Benzema estivesse quase sempre impedido. Foi assim aos 22 minutos, no momento em que o atacante recebeu um bom passe, mas à frente da defesa. Não fosse a condição irregular, ele talvez saísse cara a cara com Neuer.
Do outro lado, Miroslav Klose se esforçava tanto quanto para furar a dupla de defesa francesa, formada por Varane e Mamadou Sakho. Aos 23 minutos, quando escapou bem e correu em direção à pequena área para tentar completar cruzamento à meia altura, teve a camisa puxada pelo lateral direito Mathieu Debuchy e desabou. O árbitro não viu e não atendeu ao pedido de pênalti do atacante. Mais tarde, Muller tentou ludibriar a arbitragem duas vezes dentro da área, sem sucesso, o que irritou o técnico Didier Deschamps.
Sem sucesso também eram as investidas da França. Na melhor delas, aos 33 minutos, Neuer fez uma grande defesa em chute cruzado de Valbuena, pelo lado esquerdo da área. A bola sobrou para Benzema, de frente para a meta, e o atacante chutou em cima de Hummels. Antes do intervalo, ele ainda chamou atenção da defesa alemã duas vezes. Na primeira, cabeceou no corpo de Hummels. Depois, recebeu a bola no bico esquerdo da área, passou por dois marcadores e finalizou no centro do gol, facilitando o trabalho de Neuer.
Os dois lances finais de Benzema no primeiro tempo ocorreram logo em seguida a uma parada autorizada pelo árbitro para que os dois times se refrescassem, à beira do campo. Foram quase dois minutos de paralisação para hidratação dos atletas, compensada posteriormente por somente um minuto de acréscimo. Algo do qual os franceses, mesmo em desvantagem no marcador, nem reclamaram, dado que a temperatura no Rio de Janeiro era altíssima.
Na etapa final, já com o sol encoberto em metade do gramado, a seleção francesa promoveu uma blitz. A defesa da Alemanha foi se salvando como podia dos cruzamentos e arremates à distância. Em alguns momentos, o único jeito era cometer faltas. Como a que fez Khedira, aos oito minutos, depois de levar um drible da vaca e puxar Griezmann pela camisa. Um cartão amarelo providencial e não lamentado, já que pôs fim a um bom contragolpe rival. Seis minutos depois, quando enfim a França finalizou, Neuer agarrou a bola após fraco cabeceio de Varane à queima-roupa.
Notando seu time inferior fisicamente, Joachim Low sacou Klose e colocou o também atacante Andre Schuerrle. A resposta de Didier Deschamps veio pouco depois. Além de trocar um zagueiro por outro (Sakho deu lugar a Laurent Koscielny), o treinador francês tirou um meia (Cabaye) para deixar sua equipe ainda mais ofensiva, com o atacante Loic Remy. Mas a sorte estava ao lado de Hummels, que travou um chute perigoso de Benzema e, mais tarde, livrou-se de um gol contra, vendo a bola desviada em si sair para escanteio. Da defesa, ainda viu Schuerrle perder uma grande chance de ampliar diante de Lloris, mas que não faria falta para garantir a vaga.
(Atualizada às 18h)