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Pesquisa da Unemat aponta redução em 16% da massa de água do Pantanal em Mato Grosso

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Redação Só Notícias (foto: assessoria)

Um estudo realizado pela Universidade do Estado de Mato Grosso revelou que o Pantanal tem 13% mais de dias sem chuva do que nos anos 60 e massa de água 16% menor, quando considerados os últimos 10 anos. A dinâmica do Pantanal é influenciada pelo pulso de inundação, movimentos das águas que alternam entre as estações de seca, inundação, cheia e vazante. O pulso de inundação é alimentado, não apenas pela precipitação local, mas pelo regime de chuva nas cabeceiras do Rio Paraguai, principal canal que conduz lentamente as águas do Pantanal.

No entanto, o padrão de inundação da região tem mudado. “Embora seja encontrado um pulso de inundação bem definido no Pantanal do Norte, ao longo de uma série histórica de 42 anos, o número de dias sem precipitação aumentou muito, assim como a perda de massa de água na paisagem nos últimos 10 anos, especificamente durante a estação seca”, explica o professor da Unemat, Ernandes Sobreira Oliveira Junior, doutor em Ecologia pela Universidade Radboud (Holanda).

Para mapear esse comportamento, pesquisadores ligados ao Centro de Limnologia Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal (Celbe) da Unemat, utilizaram dados históricos de precipitação, hidrologia e imagens de satélite para verificar os possíveis padrões de precipitação, retenção de água e nível do rio Paraguai nas últimas décadas. Ao analisar, por exemplo, os dados para o mês de agosto (considerado o pico da estação seca), de 2008 a 2018, os cientistas notaram que o Pantanal Norte vem gradativamente perdendo água. A área da massa de água, em agosto de 2008, era de 112.590 ha, enquanto em 2018 foi reduzida para 95.076 ha, representando uma perda de 16% da área inundada, em apenas dez anos.

“Isso muda completamente a paisagem do Pantanal. Baias, que antes eram conectadas aos rios nos períodos de cheia, passaram a se desconectar completamente. Essa redução da massa da água é algo bastante crítico quando a gente fala de Pantanal, que é uma das maiores áreas alagáveis do planeta. Até que ponto a gente vai chegar? ”, questiona. A equipe ainda não tem todos os dados relativos ao ano de 2020, mas as expectativas são alarmantes. “A gente ainda espera, nos próximos 4 anos a 5 anos, enfrentar uma escassez ainda maior do que a gente está vendo”, disse Ernandes.

A diminuição da massa de água também pode ser uma resposta à diminuição das chuvas. Apesar o Pantanal manter o volume de precipitação ao longo de uma série histórica de 42 anos, o número de dias sem chuva aumentou. Em 1981, apenas foram 146 sem chuva. Já em 2001 foram registrados 248 e, em 2011, o total de 287 dias de estiagem. Este acréscimo representa de 2 a 6% dos dias sem precipitação por década, tornando a estação de seca mais persistente. “Então, a gente tem o seguinte: uma área que era inundável há 10 ou 12 anos atrás, hoje em dia, já não sofre mais tanta inundação. Esse efeito da redução das massas d’água também implica maior exposição do solo ao ar e, consequentemente, maior acúmulo de biomassa nesse solo o que pode ocasionar maiores focos de incêndio, como a gente vem vendo ano a ano”, avaliou.

Como o ciclo hidrológico no Pantanal está relacionado com a precipitação, esses períodos mais longos sem chuva tendem a diminuir a profundidade do rio e, consequentemente, afetam a planície de inundação como um todo. A  redução da massa de água e de precipitação levam a um efeito cascata que altera todo o processo ecológico. O impacto ocorre tanto no ambiente terrestre quanto no ambiente aquático. A diminuição da área alagável afeta a reprodução de diferentes espécies, como peixes, mamíferos e pássaros.

Por anos, os pesquisadores têm mostrado que o Pantanal é sensível ao meio ambiente em transformação, onde o fluxo mais rápido e o maior carregamento de sedimentos podem prejudicar a inundação do Pantanal. “Se as pessoas não mudarem a sua consciência, em relação ao meio ambiente, em relação aos focos de queimada, a gente vai sentir ainda mais drástico, batendo novos recordes de queimada e de escassez hídrica, nos anos futuros”, avalia o professor Ernandes.

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