Em uma década, o número de alunos matriculados em cursos de graduação presenciais e à distância mais que dobrou em Mato Grosso. De 52,297 mil matrículas em 2002 evoluiu para 147,688 mil em 2013, crescimento de 182%, segundo dados mais recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC), responsável pelo censo da Educação Superior no país. A maioria desses alunos foi atendida pelas instituições de ensino privadas. Em 2013, havia 107,880 mil graduandos no Estado, matriculados em universidades, centros universitários e faculdades particulares, em cursos presenciais e à distância. Em 2002, eram 32,720 mil matrículas em cursos presenciais. O total registrado há 2 anos pelo Inep confirmava crescimento de 229% em uma década. Além do avanço na modalidade de ensino à distância, o apoio do governo federal aos financiamentos estudantis por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e Programa Universidade para Todos (Prouni) foi decisivo para a expansão.
Nos últimos 5 anos foram celebrados 79,217 mil novos contratos do Fies com estudantes mato-grossenses. De 2010 para 2014, a oferta de vagas de financiamento dos cursos de graduação cresceu 836% no Estado, ao passar de 2,701 mil para 25,290 mil neste intervalo. No 1º semestre deste ano, os novos financiamentos atenderam 252 mil alunos em todo o país. Neste início de 2º semestre são 61,5 mil novas vagas de financiamento no Brasil. A quantidade atendida com novos financiamentos ou aditamentos do Fies em Mato Grosso não foi informada pelo MEC. Para os alunos já atendidos pelo Fies, o prazo para renovação do financiamento se estende até 31 de outubro, lembra o ministério.
Contudo, a dificuldade dos graduandos em concretizar o aditamento dos contratos de financiamentos com as faculdades ganhou notoriedade e motivou protestos dos alunos em Cuiabá, na última quartafeira (2). Além disso, com o deficit orçamentário, o governo federal diminuiu a disponibilidade de novas vagas. Esse novo cenário impeliu as instituições de ensino privado a repensarem e reorganizarem as condições de pagamento dos cursos. Além da promessa de descontos maiores e prazos mais longos para pagamento, as instituições estão firmando parcerias para garantir crédito próprio aos alunos. “Cerca de 70% dos nossos alunos eram atendidos pelo Fies, os que já estavam matriculados conseguiram manter, mas alguns (novos) ainda não conseguiram para este semestre”, expõe o chefe de marketing do Instituto Cuiabá de Ensino e Cultura (Icec), Toni Brandão. N
Na graduação são atendidos 4 mil alunos. O número sobe para 5,3 mil se considerados os alunos matriculados em cursos de pós-graduação. A instituição oferece 12 cursos de graduação e 22 de pós-graduação. Em 2002, atendia cerca de mil estudantes. Conforme ele, anteriormente o aluno atendido pelo Fies custeava R$ 50 a cada trimestre. “Agora está R$ 50 inicial e depois vai aumentando, para amortizar os juros e a dívida. O aluno começa a pagar antes de terminar a faculdade. Quando surgiu, o aluno tinha 1 ano e meio de carência para começar a pagar”. Diante dessas reformulações e da crise que impacta na renda dos estudantes, a faculdade irá lançar um programa de financiamento estudantil próprio, com descontos para as empresas que quiserem investir na qualificação dos funcionários. “As outras instituições mantêm financiamentos similares ao Fies, mas por meio de vínculos com os bancos. Nós faremos sem esse vínculo e a juros menores que a média de mercado”. A intenção é começar a atender os alunos com esse novo crédito a partir do próximo mês. Sobre as dificuldades dos alunos em garantir o aditamento do Fies, Brandão afirma que muitas instituições dificultaram o reenquadramento no programa federal para garantir a matrícula do alunos em cursos com cobrança de mensalidades integral. Estudante de Direito no Centro Universitário Cândido Rondon (Unirondon), Adriana Cazo, 26, relata que fez incontáveis tentativas malsucedidas para renovar o financiamento nos últimos meses. Na quinta-feira (3) conseguiu a liberação, assim como outros colegas de curso. “Estou no 4º semestre e desde quando fiz o contrato, no início do curso, pago R$ 51 trimestralmente”.
A Unirondon foi adquirida em 2012 pelo grupo Kroton, que já havia se unido em 2010 ao grupo Iuni Educacional (Unic). Em 2014 foi aprovado o acordo de fusão da Anhanguera. Em Mato Grosso, a Kroton oferece atualmente cerca de 135 cursos de graduação e pós-graduação em todas as áreas do conhecimento. O número de alunos atendidos pelo Grupo nas instituições de ensino que mantém no Estado não foi informado pela assessoria de imprensa. Fontes não oficiais afirmam que são 65 mil alunos no Estado. Para o coordenador do Centro Acadêmico da Universidade de Cuiabá (Unic), campus Beira Rio, Jhonatan Anfilofev, a expansão na oferta de vagas nas instituições particulares de ensino superior deteriorou a qualidade do ensino. “Esse crescimento na captação de alunos é interessante para faculdade, mas na prática não funcionou. Eles garantem a entrada, mas não a permanência. Há uma superlotação e aumentos abusivos, que desestimulam o aluno a permanecer na faculdade”. Ele afirma que neste ano já ocorreram 3 reajustes de mensalidades, sem prévia comunicação aos alunos, e alguns cursos encareceram 40%. “Esse reajuste só pode ocorrer uma vez por ano, mas tem sido feito sem nenhuma transparência”. A situação levou os estudantes a formalizarem denúncia ao MEC, que informou que irá notificar a universidade a prestar esclarecimentos. A situação também foi exposta ao Procon Estadual e ao Ministério Público Estadual (MPE). “O Fies é muito complicado, conhecemos inúmeros alunos que não puderam fazer o aditamento e desistiram”.
Reajuste – O limite do reajuste da mensalidade dos cursos nas instituições privadas para renovação dos contratos com o Fies foi elevado para 8,5% pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE). O índice vale para os contratos pendentes no 1º semestre de 2015. No semestre passado, o MEC fixou um teto de 6,4% de reajuste das mensalidades para que os contratos do Fies fossem renovados. Sobre o reajuste das mensalidades, o grupo Kroton informou, via assessoria de imprensa, que os reajustes respeitam a legislação vigente e seguem as premissas estipuladas pelo MEC. NOVIDADE – Em Mato Grosso, o Sindicato de Ensino Privado (Sinepe) fechou parceria com a Ideal Invest, gestora do Pravaler – Programa de Crédito Universitário Privado do Brasil – para oferecer financiamento aos estudantes de 28 universidades do Estado e que estudam em instituições de até 5 mil alunos. Com o Pravaler, o estudante pode financiar todo o curso sem juros e com o dobro de tempo para pagar. Há outra modalidade em que o aluno financia o 1º semestre sem juros, tem mais tempo para pagar e as parcelas não se acumulam. Isso é possível porque as instituições subsidiam parte ou totalmente os juros dos alunos, diz o diretor executivo da Ideal Invest, Carlos Furlan. Desde 2006, o Pravaler financiou cerca de R$ 1,5 bilhão em mensalidades para cerca de 60 mil alunos em todo o Brasil.