Cerca 40% das pessoas que se formam em cursos de nível superior no Brasil não atuam profissionalmente na área escolhida, segundo dados do Conselho Nacional de Educação (CNE). Ou seja, terminam o curso e, com o diploma em mãos, partem para outra profissão.
Essa realidade, na avaliação de especialistas em educação e reitores de universidades federais de todo o país envolvidos com o debate da Universidade Nova, ocorre porque o jovem é obrigado a escolher sua profissão muito cedo e sem conhecimento do mercado de trabalho.
Na semana passada, em Brasília, foi realizado o “Seminário Nacional Universidade Nova: Anísio Teixeira e a Universidade do Século 21”, no qual essa e outras questões foram debatidas. Durante a reunião, foram apresentadas propostas e diretrizes para a construção de um novo modelo de educação superior para o país.
Segundo o reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar Monteiro Filho, a idéia da Universidade Nova consiste em as universidades perderem o caráter de escola profissional e assumirem o de instituição da cultura. De forma prática, a proposta prevê, principalmente, mudanças na forma de ingresso às universidades e na grade curricular dos cursos.
A formação superior inicial passaria a ter três anos e seria dividida em três módulos: o curso-tronco, em que seriam estudadas as disciplinas de português e línguas estrangeiras; a formação geral, no qual os alunos teriam aulas de cultura humanística, artística e científica; e, por último, a formação específica, em que o acadêmico escolheria disciplinas mais próximas às suas vocações.
Após os três anos, o aluno receberia o diploma de bacharel interdisciplinar. Esse profissional teria o curso de nível superior e poderia seguir no mercado de trabalho e prestar concurso público, por exemplo. Além disso, o estudante poderia optar por continuar os estudos fazendo uma pós-graduação em uma profissão específica, como advogado ou médico.
Para o reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Milholland, com o modelo da Universidade Nova os alunos teriam, aos poucos, mais informações para a escolha da carreira que querem seguir.
“O leque de opções é muito grande durante sua vivência dentro da Universidade. Em vez de colocar um garoto de 17 anos, do ensino médio, diante do dilema sobre o que ele vai fazer pelo resto da vida, ele vai fazer um curso universitário, ele vem para cá. Aqui, vai amadurecer o seu conhecimento do mundo e das opções, das diversas possibilidades e no momento certo ele toma a decisão”.
Segundo Milholland, essa será a tendência para os próximos anos. “O século 21 não será das profissões, é do conhecimento. E é isso que temos que oferecer aos jovens, para quem vem estudar, para os mais velhos que venham estudar aqui. E que isso seja a base para um salto no Brasil, de qualidade de vida, de crescimento tecnológico e científico”.