O acesso a creches cresceu mais entre os mais ricos que entre os mais pobres, aumentando a diferença entre os dois segmentos da sociedade entre 2001 e 2014. Os dados estão em levantamento feito pelo movimento Todos pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números mostram que a diferença de acesso a esse serviço entre ricos e pobres cresceu 6,6 pontos percentuais.
Em 2001, 10,4% dos estudantes pertencentes à parcela dos 25% mais pobres da população tinham acesso á educação até os 3 anos de idade. Entre os 25% mais ricos, 32,6% tinham acesso a creches. A diferença entre os dois grupos era de 22,2 pontos percentuais. Em 2014, o acesso melhorou, mas aumentou também a desigualdade entre essas camadas. Entre os mais pobres, 22,4% tinham acesso a creches, enquanto, entre os mais ricos, 51,2% frequentavam a escola. A diferença subiu para 28,8 pontos percentuais.
"O acesso é muito mais facilitado para as famílias [ricas], tanto nas creches públicas quanto nas particulares", diz a superintendente do Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco. Ela explica que as creches estão mais concentradas nos centros urbanos do que nas periferias.
De acordo com Alejandra, o acesso cresce tanto entre os mais ricos quanto entre os mais pobres, mas a brecha entre eles está aumentando, e isso pode resultar em maior desigualdade. "Se pensarmos que, além disso, temos uma maior qualidade em escolas mais centrais ou na rede privada, há a tendência de piorarem inclusive outros indicadores mais adiante."
O acesso à creche está previsto no Plano Nacional de Educação (PNE), lei que estabelece metas para melhorar a educação brasileira até 2024. De acordo com a lei, até 2024, 50% das crianças com idade até 3 anos devem ter acesso a esse tipo de serviço. Atualmente, são atendidos em creches 29,6% das crianças nessa faixa etária.
Alejandra apresentou hoje (3) os dados do debate Educação em Pauta sobre Primeira Infância, promovido pelo Todos Pela Educação e pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Para Alejandra, é preciso destacar ainda o papel das famílias na formação das crianças e a necessidade de se capacitar os pais e responsáveis para que estimulem o aprendizado e a curiosidade dos filhos pequenos em casa. De acordo com a superintendente do movimento, políticas assim não existem hoje no Brasil.
"O investimento nessa criança é o que dá mais retorno para o país", afirmou Eduardo Queiroz, diretor-presidente da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Queiroz lembrou o trabalho do ganhador do Prêmio Nobel de Economia, James Heckman, que mostra que o retorno econômico é maior quanto mais cedo é o investimento no capital humano. "Não se fala em família, emcuidadores. Temos milhares de crianças em fila de espera de creches públicas. Quem está olhando essas crianças? Essas pessoas sabem a importância dessa fase da vida?", questionou.
A construção de creches e pré-escolas tem sido tratada como prioridade pelo Ministério da Educação (MEC). O país tem, de acordo com o PNE, até este ano para universalizar o acesso a crianças de 4 e 5 anos. O MEC passou a oferecer este ano a estados e municípios a opção de construir espaços voltados para atender a essas crianças nas escolas.
Segundo o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Alessio Costa Lima, a educação infantil é a etapa mais cara da educação básica. "É preciso assegurar investimento para a educação infantil. Não dá para tratar como subeducação", diz. Segundo Lima, é necessário um maior aporte, principalmente da União, para que os municípios, responsáveis pelas matrículas, consigam arcar com as despesas.