Os preços dos produtos agrícolas estão crescendo e a tendência deve se manter porque o consumo vem aumentando mais que a produção. A avaliação é do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Segundo ele, quase todos os estoques mundiais estão pela metade e alguns países passaram a consumir alimentos que, há pouco tempo, não faziam parte de sua tradição.
“A China, por exemplo, não importava soja há 12 anos, nenhum grão. Hoje ela importa 30 milhões de toneladas de soja. Os Estados Unidos não usavam nem um quilo de milho para produzir álcool, hoje já são 80 milhões de toneladas para produzir álcool. Ou seja, o mundo está crescendo, se desenvolvendo e as pessoas estão ganhando mais e comendo mais. Países que comiam pouca carne, hoje são grandes importadores de carne. Isso está fazendo com que os preços se elevem, estão num novo patamar, e devem continuar nesse novo patamar”, estima o ministro.
Dados divulgados na última quarta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em março, os alimentos passaram a ter influência maior sobre a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, ficou em 0,48% em março, pressionado pelo grupo alimentação. Sozinho, o grupo representou 0,20 ponto percentual do IPCA de março. Os alimentos registraram alta de 0,89%.
Por outro lado, o diretor de Gestão de Estoques da Conab, Rogério Colombini, disse que a alta dos preços deve incentivar os produtores rurais brasileiros, que, em alguns ramos do setor, acumulavam prejuízos há alguns anos. “Vai estimular muito o nosso setor agrícola a aumentar a produção [de grãos] . Nós já estamos batendo recordes, devendo chegar esse ano a 141 milhões de toneladas e, ano que vem, se Deus quiser, chegaremos a 150 milhões”, prevê.
Os estoques, quando em níveis suficientes, podem contribuir para controlar a inflação de alimentos. Como forma de aumentar os estoques do governo, que estão abaixo do ideal, Colombini informou que os preços mínimos dos principais produtos agrícolas devem ser reajustados para a próxima safra de verão. “Há uma perspectiva de alterar os preços mínimos, em função dessas evoluções. Estão sendo estudados para serem afixados na próxima safra de verão, que vai ser plantada daqui há um ano”, diz o técnico.
Hoje, em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional, o pesquisador do Centro de Estudos Agrícolas do Instituito Brasileiro de Relações Exteriores (IBRE-FGV), Mauro Lopes, explicou que a aumento do consumo de carne influi bastante sobre o consumo de grãos, base da alimentação do gado brasileiro. “Isso aumentou a demanda por rações e agravou o problema dos índices de preços de grãos”, explica.
Lopes também afirmou que o uso de parte significativa das 300 milhões de toneladas de milho produzidas nos Estados Unidos, para produção de etanol, prejudica países que têm o grão como base da alimentação, pressionando os preços.