Para abastecer 5% do mercado mundial de álcool combustível, o Brasil precisará aumentar a sua produção em seis vezes mais, atingindo 100 bilhões de litros. O dobro disso, seria necessário para substituir 10% do consumo mundial de gasolina.
Esse potencial pode ser alcançado pelo país até o ano de 2025, segundo previsões apresentadas pelo professor Luiz Cortez, da Faculdade de Engenharia Agrícola e Coordenador de Relações Institucionais e Internacionais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista à Rádio Nacional AM.
Os dados constam em um estudo do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp, realizado em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia. Os pesquisadores acreditam que o Brasil tem todas as condições necessárias para uma produção em escala e, assim, alcançar um volume suficiente para abastecer tanto o crescimento previsto do consumo no mercado interno quanto atender pedidos de fora do país.
Segundo projeção divulgada pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogélio Golfarb, até 2013, o número de veículos movidos à álcool e gasolina (os chamados flex fuel) em circulação crescerá em 500%. A frota atual, segundo ele, alcança 2,6 milhões de unidades.
“Essas próximas décadas vão ser de maior atenção em relação aos biocombustíveis no mundo. E o Brasil tem uma posição privilegiada no nosso entender e é interessante ao país aproveitar essa oportunidade”, acentuou o professor Luiz Cortez.
Ele informou que existe um projeto em andamento na Unicamp , coordenador pelo professor Cerqueira Leite, que está, justamente, estudando “as implicações do Brasil em almejar e contribuir na redução do consumo de gasolina no mundo”. Nessa tarefa, conforme esclareceu, são avaliados os efeitos no campo social, ambiental e econômico no caso de uma significativa expansão das exportações de álcool, principalmente, para o mercado norte-americano.
Cortez argumentou que o país pode aumentar a sua produção sem, necessariamente, ocupar uma área exagerada para o plantio de cana-de-açúcar. Segundo seus cálculos, o espaço equivaleria ao ocupado pelas lavouras de soja. Em termos de renda, a atividade poderia envolver uma quantia de US$ 30 bilhões anuais e a geração de 5 milhões de empregos.
Quanto à preocupação dessa atividade prejudicar a oferta doméstica de produtos básicos da alimentação como arroz e feijão, culturas que também tende a crescer, estão em andamento estudos que procuram identificar locais onde poderia ocorrer a expansão da área cultivada de cana-de-açúcar, excetuando do mapa as áreas de restrição ambiental (Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica) e as que têm “vocação para a produção de alimentos”.
Nos pontos sujeitos à danos ecológicos, os terrenos apresentam muita declividade, o que seria inadequado mecanicamente. “Estamos pensando em utilizar apenas 3% da área cultivável do país para substituir os 10% da gasolina consumida no mundo”, esclarece Cortez. Essas áreas estão localizadas nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, sudoeste de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão, sudoeste do Piauí e oeste da Bahia.
A estimativa é de que o Brasil poderia produzir 50% da oferta ao mercado mundial e o restante seria desenvolvido por uma soma de países. Durante o anúncio do acordo de cooperação tecnológica entre Brasil e Estados Unidos, na última sexta-feira (9), os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da silva, declararam que a experiência poderia ser levada para países que precisam melhorar seu desenvolvimento econômico no combate aos problemas sociais.