A nova classe média popular que surgiu no Brasil nos últimos anos é, comparada à população total, mais jovem, mais empregada no setor privado formal, mais concentrada na indústria de transformação e no comércio, e com uma proporção maior de pessoas com 8 a 10 anos de estudos. Em termos qualitativos, segundo o especialista Renato Meirelles, do Instituto de Pesquisa Data Popular, "se a nova classe média tivesse um rosto, seria o de uma jovem mulher conectada na internet".
Todos esses dados estão sendo preparados pelo economista Ricardo Paes de Barros, subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, para o seminário Políticas Públicas para a Nova Classe Média, que será realizado em Brasília no dia 8 de agosto. A presidente Dilma Rousseff está escalada para fazer a abertura. Barros nota que a emergência da nova classe média corresponde ao inchaço de um segmento do meio da pirâmide de renda no Brasil, com perda de espaço para as pontas mais pobre e mais rica. Isso ocorreu pela queda da desigualdade, com a renda dos pobres crescendo muito mais rápido do que a dos ricos, congestionando o meio da distribuição.
Assim, aquele grupo médio saiu de 40% da população em 1999, ou 68 milhões de pessoas, para 52% em 2009, ou 99 milhões. "Hoje, já está com certeza acima de 100 milhões". Nesse grupo, 9,3% das pessoas são jovens de 20 a 24 anos, proporção maior do que entre os pobres, de 7,7%, ou os ricos, com 7,8%. Entre os trabalhadores dessa classe média popular, 41,6% têm emprego com carteira assinada, comparado a 20,5% dos pobres, e 34,5% dos ricos. O grupo do meio tem 15,9% na indústria da transformação, ante 9,5% dos pobres e 13,5% dos ricos; e 19,8% no comércio e serviços de reparação, comparado a 13,8% dos pobres e 17,5% dos ricos.
Em termos educacionais, 38,9% do segmento médio têm de 8 a 11 anos de estudo, comparado com 37,8% dos ricos, e 23,6% dos pobres. Os ricos, porém, têm uma proporção maior de pessoas com 11 anos de estudo (27,9%) do que a classe média popular (23,5%). Esta, por sua vez, tem mais pessoas com oito a dez anos de estudo (15,4%) do que os ricos (9,9%). Barros trabalha com um conceito de classe média estatístico, relativo aos que, de fato, estão no meio da distribuição de renda brasileira. Essa definição às vezes entra em choque com a ideia de que classe média no Brasil são os que vivem nos mesmos padrões do grupo assim classificado nos Estados Unidos e na Europa.
Mas, enquanto lá esse segmento está de fato no meio da distribuição, no Brasil ele se situa entre os mais ricos. Barros define esse grupo intermediário como os que têm renda per capita familiar entre R$ 250 e R$ 1 mil, o que, numa típica família de 4 pessoas, significa renda entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. O seu critério foi justamente o de identificar o agrupamento do meio que cresce mais rápido do que a população como um todo, por causa da melhora da distribuição de renda. Portanto, tantos os que ele classifica como pobres, quanto os que chama de ricos estão perdendo espaço relativo na população.