A dívida do setor agropecuário de Mato Grosso junto às instituições bancárias está estimada em cerca de R$ 10 bilhões, e é considerada impagável pelos produtores estaduais. O volume corresponde à renda de uma safra inteira de grãos no Estado. Segundo as entidades representativas do segmento, seria necessário, no mínimo, 10 anos de parcelamento para quitar o saldo devedor. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, explica que a baixa rentabilidade do segmento aliado ao alto endividamento, dificulta a evolução do agronegócio mato-grossense.
De acordo com ele, a falta de infra-estrutura é o principal gargalo do setor, que ainda sofre com a dificuldade de comercialização e o aumento no custo da produção. "É necessário que tenha uma combinação do incremento na renda do produtor e melhoria da forma de pagamento da dívida". O presidente da Famato ainda destaca que a composição dos juros e parcelas deve ser revista. "Ao contrário, o produtor não terá condições de pagar o que deve". Ele diz que as parcelas teriam de ser esticadas por uma década.
Dados apurados pelo departamento técnico da Famato apontam que, do total estimado (R$ 10 bilhões), aproximadamente R$ 600 milhões podem ser atribuídos à dívida do setor pecuário, em recursos que foram destinados à aquisição de animais e investimentos em melhoria das propriedades. Isso mostra que o débito rural de Mato Grosso está concentrado nas principais culturas, como algodão, arroz, mas principalmente no milho e na soja.
No caso do arroz, o presidente do Sindicato da Indústria de Arroz em Mato Grosso (Sindarroz-MT), Joel Gonçalves Filho, defende que o setor pouco tem haver com o endividamento agrícola do Estado. Ele explica que, até pouco tempo atrás a cultura era considerada de risco pelos agentes financeiros, o que, por consequência não dependiam de crédito bancário para financiar a produção. "Cerca de 90% da safra de arroz era custeada com recursos próprios. Por isso o setor não tem dívidas", diz ao acrescentar que em outra condição o setor poderia ter crescido mais. "Talvez com crédito, a safra de arroz seria maior do que é agora, com a produção estimada em 742 milhões/t".
De acordo com um levantamento feito pelo Ministério da Fazenda, o setor agrícola de Mato Grosso deve cerca de R$ 1,906 bilhão em custeios prorrogados, mais R$ 1,396 bilhão no Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), além de R$ 43,8 milhões entre dívidas já renegociadas. Os produtores também têm débitos com recursos da Securitização I e II (R$ 1,204 bilhão), Pesa (R$ 1,332 bilhão), Prodecer (R$ 200 milhões), Funcafé (R$ 2,451 milhões). Considerando ainda a dívida ativa com a União, que chega a R$ 700 milhões.
No quesito investimentos, o débito estimado é de R$ 3,225 bilhões. Nesse caso, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Glauber Silveira, diz que os produtores querem uma solução para toda a dívida do setor, mas com destaque para as dívidas do Financiamento da Agricultura Mecanizada (Finame Rural), feitos com a compra de tratores, colheitadeiras e outros equipamentos utilizados na produção. Silveira destaca que nessa modalidade, varias renegociações foram feitas com intuito de findar o valor. "No entanto, os juros acrescidos contribuíram para o aumento da dívida".
Ele exemplifica que, um produtor que tivesse financiado uma máquina usada, ao preço médio de R$ 440 mil em 2005, teria que pagar R$ 1,125 milhão, com prazo máximo até 2017. "Esse valor daria para comprar atualmente 2,5 máquinas novas e 5,6 máquinas usadas".
Silveira destaca que as condições rentáveis de 5 anos atrás não são as mesmas de hoje. De acordo com o presidente da Aprosoja, diante do endividamento, nos últimos 10 anos, muitos produtores saíram da atividade, e que suas propriedades foram arrendadas por grandes empresas. "Aqueles que ainda se mantêm na ativa passam por dificuldades e não conseguem investir na sua terra". Porém o representante da categoria afirma que os primeiros passos já foram dados. Ele aponta que o governo e setor bancário já estão à par da situação. "Estive em Brasília conversando com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, para tratar o assunto. Creio que medidas serão dadas em breve para resolver de vez o problema de endividamento do setor rural mato-grossense".
Outro sinal positivo é a aprovação da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado para uma audiência pública com o intuito de avaliar a dimensão da inadimplência do setor rural junto aos agentes bancários, com relação aos financiamentos do FINAME, que diz respeito ao crédito para aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas. O requerimento é do senador Gilberto Goellner (DEM-MT) e teve apoio da senadora Kátia Abreu (DEM-TO). A data dessa audiência ainda será ainda definida. Ao apresentar o requerimento, Goellner defendeu medidas de apoio, como juros mais baixos e ampliação, de 5 para 10, do prazo para o pagamento desses financiamentos específicos.