O Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) proíbe, a partir desta terça-feira, por tempo indeterminado, o trânsito de animais, produtos e subprodutos vindos do extremo Sul do Estado de Mato Grosso do Sul. Nesta segunda-feira , foi confirmada cientificamente a existência de um foco da doença na Fazenda Vezozzo, município de Eldorado, a 440 quilômetros de Campo Grande, na divisa com o Paraguai. Dos 582 bovinos existentes na propriedade rural, 140 são portadores da doença, segundo laudo elaborado pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) do Ministério da Agricultura, em Recife (PE).
A primeira medida foi a interdição da fazenda e de outras propriedades com atividades pecuárias em um raio de 25 quilômetros. A área isolada abrange os municípios de Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Mundo Novo, que juntos têm 685,8 mil cabeças. “Estamos em alerta sim, mas vale ressaltar que estes cinco municípios, que estão a cerca de 25 quilômetros do foco (Eldorado), fazem fronteira com Paraná e Paraguai, e não com Mato Grosso. Aliás, estamos a 1,1 mil quilômetros de distância do foco”, justificou o presidente do Indea, Décio Coutinho.
Os frigoríficos localizados nos cinco municípios estão impedidos de exportar carne bovina. São três pequenos estabelecimentos: Bom Charque (Iguatemi), Frigorífico Iguatemi (Iguatemi) e Bom Fran (Eldorado). O Mato Grosso do Sul é o segundo maior exportador de carne bovina do País, totalizando US$ 227 milhões entre janeiro e agosto deste ano, de uma receita total US$ 1,722 bilhão com as vendas externas do produto no período. No ano passado, Mato Grosso exportou US$ 118 milhões em carnes bovinas.
Décio Coutinho está em Brasília onde se reúne com o secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel, secretários de Agricultura e representantes das agências de defesa agropecuária dos Estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Paraná e Minas Gerais. Eles estão avaliando as medidas a serem tomadas e o impacto econômico que a ocorrência do foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul poderá trazer para o Brasil. “Ainda é prematuro trabalhar com conjecturas, porque ainda não temos elementos suficientes para fazer o diagnóstico. O importante é que todas as medidas sanitárias emergenciais para evitar a disseminação do foco foram adotadas”, disse Gabriel Maciel.
Além das medidas sanitárias adotadas em relação ao foco de febre aftosa, o Governo do Estado do Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato), parlamentares da bancada federal vão articular politicamente para que as exigências do acordo sanitário firmado entre o Brasil e a Rússia sejam alteradas. O acordo determina a suspensão das exportações de carne, por um ano, não só no Estado onde o ocorreu a doença, mas também nos Estados vizinhos. Sendo assim, Mato Grosso é, mais uma vez, um dos grandes prejudicados pela incidência da doença a mais de mil quilômetros de distância, em território sul-matogrossense.
O presidente da Famato, Homero Pereira, o senador Jonas Pinheiro, o vice-presidente do Fundo Estadual para Erradicação de Febre Aftosa (Fefa), Luiz Carlos Meister e o representante de Mato Grosso no Fórum Nacional da Pecuária de Corte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Eduardo Alves Ferreira Neto, em reunião na sede da federação, discutiram as estratégias que serão adotadas em Brasília, ainda esta semana. “Vamos tomar todas as medidas necessárias para que Mato Grosso não seja prejudicado, considerando que não há fluxo de animais do estado para a região sul de Mato Grosso do Sul”, argumenta Homero Pereira.
Sanidade – Desde 1996 o Estado não registra nenhum foco de febre aftosa, condição esta que habilitou Mato Grosso a exportar carne bovina para vários países, além de liderar no Brasil a produção de bovinos: 26,4 milhões de cabeça. Na última etapa da campanha de vacinação contra aftosa, ocorrida em maio, o índice de vacinação foi de 98,41% do rebanho, contra 97,11% no ano passado. No Estado, o Indea conta com 12 unidades regionais de supervisão e 134 locais de execução de atividades, além de 14 postos de fiscallização.
Os postos de fiscalização do Indea na divisa com Mato Grosso do Sul já foram comunicados e devem barrar cargas com produtos de origem animal oriundos de Eldorado, onde o foco foi registrado, e outros quatro municípios vizinhos.
A ocorrência de aftosa no estado vizinho caiu como um balde de água fria no mercado de carne em todo o País. Depois de seis anos consecutivos sem aftosa, Mato Grosso do Sul volta a enfrentar o problema, que, além de ameaçar de contaminação todo o rebanho composto por quase 25 milhões de cabeças de gado de corte, pode reduzir drasticamente as exportações. O estado negocia por mês US$ 28,3 milhões, só com vendas diretas ao mercado externo de carnes congeladas e resfriadas, tomando como base a média mensal de exportações de janeiro a agosto, período em que foram remetidos US$ 226,8 milhões de produtos do gênero a outros países.