No dia 15 de março, autoridades de defesa agropecuária do Brasil e da Bolívia se reúnem em San Mathias, para definir o programa de contingenciamento de fronteira dos dois países e ações conjuntas dos técnicos brasileiros e bolivianos nos municípios de San Inácio e San Mathias. O programa será apresentado a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) e entre as ações previstas está a rastreabilidade total do rebanho nas fronteiras do Brasil, com a Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
De acordo com o presidente do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), Décio Coutinho, três ferramentas básicas serão disponibilizadas pelo governo federal no processo de fiscalização da fronteira com a Bolívia para evitar a contaminação do rebanho brasileiro pela febre aftosa registrada no país vizinho. Além da rastreabilidade dos animais, o rastreamento por satélite da região, realizado pela Embrapa e o acompanhamento dos veículos oficiais pelo programa autotrack, são mecanismos que também serão adotados. As informações foram repassadas durante a reunião da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), em Cuiabá. “Nós temos uma linha mestra que incluí estas três ferramentas, e ações locais que cada estado vai empreender”, disse o presidente do Indea.
O governo federal definiu a doação de 3 milhões de doses de vacinas aos bolivianos e a proposta do Indea é que a imunização seja acompanhada pelos técnicos de Mato Grosso. A Bolívia já anunciou que, em função do alto custo, não vai sacrificar os animais contaminados pela doença, o que complica ainda mais da situação junto a OIE para a reabilitação como área livre de febre aftosa com vacinação.
Trabalho consistente – Nas 115 propriedades da fronteira de Mato Grosso com a Bolívia (34 em Cáceres, 5 em Comodoro, 22 em Porto Esperidião e 23 em Vila Bela da Santíssima Trindade) existem 175 mil animais. Na região estão instalados dez postos de fiscalização fixos; mais quatro equipes volantes na linha de fronteira e outras oito equipes (médicos veterinários e técnicos) que estão percorrendo as propriedades notificando e acompanhando a vacinação do rebanho de zero a 12 meses. Um geo-referenciamento da área identificou 528 porteiras nessas propriedades que estão sendo interditadas para evitar o trânsito de animais nas fazendas.
Coutinho fez um histórico detalhado de todo o trabalho que está sendo realizado na região de fronteira aos produtores e entidades que formam a Comissão de Pecuária de Corte. Ele explicou como Mato Grosso e outros estados perderam o status de livre de febre aftosa com vacinação pela OIE, em outubro de 2005, a partir dos casos da doença registrados em Mato Grosso do Sul e no Paraná.
Os paranaenses recuperaram a sua condição sanitária junta à organização internacional, o que não deverá acontecer tão cedo em território sul-mato-grossense, por causa da confirmação de 54 animais reagentes ao vírus de febre aftosa, em Japorã, na semana passada. Além disso, Mato Grosso do Sul foi transformado em zona tampão. Paranaenses e mato-grossenses estão em vigilância permanente com cerca de 60 postos de fiscalização implantados e a atuação de fiscais, médicos veterinários e policiais militares federais
A gravidade da situação foi reafirmada pelo presidente do Indea durante a reunião. “Precisamos mostrar que o que fazemos é bom e que vai ser mantido. Se perdermos a condição de livre com vacinação, vamos perder mercado internacional para bovinos, suínos e aves”, ressaltou Coutinho. Por enquanto, a questão sanitária não teve qualquer reflexo no mercado, ou seja, mesmo com a suspensão do status de área livre com vacinação, nenhum país deixou de importar a carne brasileira. Nada impede, porém, que os compradores mudem as regras, de uma hora pra outra.