Se a comunidade internacional defende realmente o desenvolvimento sustentável da Amazônia é preciso que ela assuma efetivamente esta responsabilidade e, na prática, coopere financeiramente com a manutenção dos recursos naturais ainda disponíveis na biodiversidade da região e, ao mesmo tempo, garanta a sobrevivência dos povos que dependem desses recursos.
A afirmação foi feita hoje pelo secretário-adjunto da Casa Civil do governo de Mato Grosso, Antonio Kato, no 1º Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul, que foi aberto ontem pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, na capital Belém. Do evento participa ainda como representante, o secretário-chefe da Casa Militar, coronel PM Orestes Oliveira.
Antonio Kato observou que além de implementar políticas de recuperação de áreas aja degradadas, Mato Grosso quer conservar áreas ainda não exploradas e para que isto seja possível, deve haver uma compensação. Ele ressaltou que a região Amazônica é uma das mais pobres do país em termos de infra-estrutura, saúde e educação e quer se desenvolver como todas as outras regiões do país.
“Queremos que o mundo compartilhe essa responsabilidade conosco, pois também queremos o desenvolvimento de forma sustentável, daí a importância do aporte de recursos dos países ricos e a articulação de políticas que atendam a essas necessidades de sobrevivência daqueles que não têm acesso a outras atividades econômicas”, enfatizou.
O secretário informou que estão reunidos no encontro; governadores e prefeitos de 12 países da América do Sul, outras instituições governamentais, Ongs e universidades que estão discutindo três temas; desenvolvimento regional, cooperação técnico-científica e universitária e políticas sociais. De acordo com ele, o evento tem como objetivo a troca de experiências, integrar e unificar políticas nestes setores.
Antonio Kato destacou a participação do Estado anfitrião; o Pará, o Maranhão, Roraima, Rondônia, Amapá, Amazonas e Acre. Ele informou ainda que o vice-governador Silval Barbosa representará o governador Blairo Maggi no evento onde é aguardado junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja presença também está confirmada para amanhã, último dia do evento, quando acontece a reunião dos governadores da Frente Norte do Mercosul.
A governadora do Pará Ana Júlia Carepa é a coordenadora do Comitê de Estados da Frente Norte em pronunciamento, durante a abertura do encontro defendeu uma política de integração que tenha como meta o desenvolvimento da cidadania. Ela destacou a mudança geopolítica criada pelo ingresso da Venezuela no bloco, fato que alterou a concepção de que o Mercosul está relacionado apenas ao Centro-Sul do Brasil.
Alex Fiúza de Melo, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), salientou um paradoxo da região: “Sempre os interesses mundiais estiveram voltados para nós e somos periferia dos interesses nacionais. Vivemos num mundo essencialmente capitalista e a Amazônia é a última reserva para as empresas. E isso não tem interessado os governos nacionais”. A outra condição para o desenvolvimento sustentável seria o conhecimento. “A UFPA é a maior universidade da Amazônia, mas é minúscula diante das necessidades. Temos apenas 2% dos doutores do Brasil, apesar de sermos 14% da população e 60% do território nacional”, revelou. Ele afirmou que não há sustentabilidade sem conhecimento, “não o produzido sobre a Amazônia, mas na e pela Amazônia, com capacidade de criar cadeias produtivas socialmente inclusivas”, finalizou.
“A Amazônia é a solução e não o problema”, garantiu Ariel Pares, coordenador do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da República. Com a chance, segundo ele, do Brasil crescer 6% nos próximos 20 anos, a Amazônia será um laboratório de experimentos para uma sociedade diferente. “Trata-se de dar um salto, esta é uma perspectiva razoável, mas temos que repensar os padrões de produção e consumo. Quando falo isso é que o Brasil tem chance, e não faremos isso sozinho, porque não depende só do ambiente externo, mas de um ambiente regional de prosperidade”, frisou.
Para José Flávio Saraiva, professor da Universidade de Brasília (UNB) e diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), a integração não é mais o objeto obscuro de desejo, mas uma necessidade prática e objetiva. “Um capítulo da construção cidadã e elevação do padrão social, além de não ser mais descartável, mas uma obrigação de Estado. São eles a solidariedade e a cooperação dos nossos povos. Sem isso será impossível trabalhar as assimetrias dos países amazônicos”, avaliou. Ele citou como exemplo os 10% da população amazônica que estão nos municípios das fronteiras, carentes desses dois elementos.