A indústria de base florestal é uma das mais importantes de Mato Grosso, com quase duas mil plantas e responsável por cerca de 6% do PIB do Estado A origem da madeira consumida nesse setor, entretanto, tem sido fonte de polêmica há anos. Esta é uma das questões que serão discutidas durante o Fórum Floresta Sustentável, que acontece de 21 a 23 de setembro, em Alta Floresta.
De acordo com Júlio César Bachega, diretor executivo do CIPEM (Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado), Mato Grosso é o maior produtor de madeira nativa do país, cuja planta industrial do setor de base florestal processa 3,6 milhões de metros cúbicos em toras ao ano, perfazendo o total de 270 mil cargas transportadas. Ainda segundo Júlio, a maioria desta maté ria-prima é oriunda de áreas de manejo florestal. “O estado de Mato Grosso possui a melhor gestão florestal do país, servindo de exemplo para outros estados. O que acontece é que se divulgam muito mais os problemas do que os pontos fortes do setor”, lamenta.
Atualmente, o estado possui cerca de 2 milhões de hectares utilizados em planos de manejo florestal, cuja produção média é de 27 metros cúbicos por hectare. E a expectativa é de que este número chegue a 2,8 milhões até o final de 2009 e a 6 milhões em 20 anos. Toda essa madeira alimenta uma cadeia de 1.721 indústrias de processamento instaladas no estado.
Contudo, o diretor executivo do CIPEM faz questão de ressaltar a diferença entre planos de manejo e de exploração, pois no manejo existe todo um planejamento para a utilização da área a longo prazo, respeitando-se os limites do ecossistema, enquanto no plano de exploração florestal, mais conhecido como autorização para desmate, é feito o corte raso da flor esta. “Ninguém mais quer madeira de áreas de desmatamento. O comércio está amplamente aberto e em expansão para quem trabalhar de acordo com os princípios legais e ambientais”.
Segundo Júlio Bachega, os planos de manejo são elaborados em 80% da área disponível, ou seja, o percentual que representa a área de reserva legal, o que, segundo ele, representa a principal alternativa para se fazer a exploração sustentável da floresta.
Para se ter uma ideia, em 2008, os órgãos de governo responsáveis pela gestão ambiental, autorizaram, em Mato Grosso, 6,5 milhões de metros cúbicos em manejo e 400 mil metros cúbicos de exploração (desmatamento).
O comércio de produtos da madeira realizado por Mato Grosso em mais de três anos – período compreendido entre 3 de fevereiro de 2006 a 26 de março deste ano – totalizou cerca de 4,9 bilhões de reais, segundo dados da secretaria de estado de Meio Ambiente – SEMA. Dessa produção mato-grossense, 15% abastece o mercado inter no, 27% é exportada e 58% tem como destino outros estados brasileiros, a maioria para São Paulo.
Júlio César Bachega acredita que é possível o setor de base florestal de Mato Grosso chegar a um ciclo sustentável, como já acontece em países como França, Finlândia e Itália, onde a cada 30 anos volta-se a retirar madeira de uma mesma área.
O manejo florestal, segundo Yugo Marcelo Miykawa, analista ambiental do Ibama de Mato Grosso, deve ser analisado do ponto de vista do suporte do ecossistema, onde o número de autorizações para essa atividade deve comportar o limite de madeira disponível. “Para haver realmente sustentabilidade do setor de base florestal é preciso traçar uma relação lógica entre o que o meio ambiente oferece e a quantidade a ser consumida. Incentivar esse mecanismo sem uma análise madura é irresponsabilidade”.
Ele alerta que os recursos florestais estão se esgotando e que se o número de autorização para exploração madeira for cada vez maior , isso representa um claro sinal de que esse produto não está saindo de áreas de manejo. “É através desta análise que conseguiremos identificar se o setor de base florestal realmente está alicerçado em princípios sustentáveis.”