Uma manifestação em praça pública marcou o protesto de lideranças políticas e empresariais de Juína contra a crise no setor madeireiro, que afeta boa parte dos municípios mato-grossenses. O protesto, realizado hoje (23), é encabeçado pelo movimento “Preservação, Justiça, Ação com Responsabilidade Social”, que conta com o apoio de 45 municípios das regiões Norte e Noroeste. Um Ciclo de palestras e shows culturais chamaram a atenção para a situação dos municípios, cuja economia se sustenta na atividade madeireira. Trabalhadores do setor participaram com máquinas e tratores, que estão parados desde a intervenção do Ibama.
O prefeito de Juína, Hilton Campos, explica que aderiu ao movimento porque a paralisação das empresas madeireiras afeta todo o setor produtivo do município. “70% da economia de Juína vem da madeira. Não é um segmento isolado”, disse ele preocupado também com a queda na arrecadação do município. De acordo com previsões do Sindicato das Empresas Madeireiras o setor deve demitir cerca de 15 mil empregados diretos em toda a região Noroeste. “Essas demissões e a desaceleração da economia, desencadeará em uma catastrófica reação nos demais setores”, avalia o prefeito. A associação comercial de Juína já contabiliza 40% de queda nas vendas do comércio local.
O manifesto, assinado pelo movimento Preservação, Justiça, Ação com Responsabilidade Social é composto por oito reivindicações.
1- Os esclarecimentos dos fatos noticiados em nível nacional e internacional a respeito da Amazônia Brasileira, especificamente em Mato Grosso;
2- A imediata reabertura do Ibama, com funcionamento do órgão de maneira organizada, desburocratizada e idônea;
3- Que sejam mantidos os diretos adquiridos daqueles que para essas regiões se dirigiam quando o governo do estado propagandeava “Integrar para não entregar”;
4- Pela derrubada da Medida Provisória 2166 e pela definição do Zoneamento Agro-ambiental. Que a Lei do Zoneamento Agro-ambiental seja amplamente discutida pela sociedade que é a grande interessada em sua aprovação;
5- Pela manutenção das empresas e dos empregos. A elevação dos índices de desemprego levam a um estado de colapso social com elevação das taxas de violência;
6- Pela regularização do papel da ONG’s dentro da realidade sócio-ambiental do país, não permitindo que haja interferência das mesmas na soberania nacional. Limitar a entrada dos recursos internacionais para o funcionamento das ONG’s;
7- Pela ampla discussão sobre o futuro da Amazônia e dos povos que a habitam;
8- Pela constituição de uma comissão permanente e vigilante a qualquer assunto que diga respeito à região.
Reunião na AMM – Na próxima segunda-feira (27) uma comissão de cerca de 30 prefeitos de municípios do Norte e Noroeste do estado, estará na AMM para discutir com o interventor do Ibama, Elielson Ayres, os assuntos ligados à crise no setor madeireiro. O presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios, José Aparecido dos Santos, Cidinho, garantiu apoio ao movimento. Ele frisou que diversas manifestações vêm ocorrendo nos municípios devido às conseqüências do fechamento das madeireiras. “Os municípios não podem continuar nesta situação. A queda na arrecadação repercute diretamente na falta de investimentos em setores essenciais para a população”, alertou.
O Sindicato dos Produtores Rurais de Juína também aderiu à manifestação do movimento “Preservação, Justiça, Ação com Responsabilidade Social, que foi realizado hoje (23), na praça central da cidade. Aproveitando o dia de paralisação, os produtores rurais apresentaram um manifesto, que será entregue às autoridades municipais, estaduais e federais. O documento alerta para a real ameaça de demissões em massa nos vários segmentos das cadeias produtivas da região. As estimativas apontam para mais de 1.000 demissões a curto prazo, podendo aumentar se as providências, reivindicadas por eles, não forem atendidas.
Os produtores rurais cobram providências urgentes dos governos estadual e federal quanto ao zoneamento sócio econômico e ecológico do estado de Mato Grosso. Eles justificam a importância do zoneamento no fato de Juína possuir mais de 60% de seu território classificado como área indígena e de reservas ecológicas. O zoneamento com regras de desenvolvimento sustentável e financiado pelo Governo Federal traria para Juína e região educação e progresso, capaz de fazer cessar a idéia de um desmatamento desordenado, ilegal e abusivo.
O manifesto pede ainda por normas mais claras, objetivas e de custos adequados, principalmente para os pequenos produtores do Licenciamento Ambiental, bem como do levantamento das áreas de terras através do mapa georeferenciado obtido com GPS Diferencial. Os produtores exigem a validade e liberação dos projetos de exploração e manejo aprovados e dos que já estavam em execução. No setor da pecuária o pedido é que os governos estadual e federal estabeleçam estratégias e metas de proteção para o produtor da pecuária leiteira e de corte, com garantia de preço, melhor distribuição dos lucros, assistência técnica e financiamento. Para justificar, o manifesto se refere ao sucateamento da indústria leiteira em Juína, bem como do rebanho leiteiro. Para tomar como exemplo, uma das usinas de leite do município tem capacidade de industrialização de 51 mil litros por dia, mas está trabalhando com apenas 9 mil e 300 litros/dia.
Na agricultura, atividade relativamente nova no município, o documento dos produtores cobra assistência técnica rural e de pesquisa, condições para o armazenamento dos produtos colhidos, financiamento de safras e estradas com mínimo de condições para o escoamento da produção. A classe produtora de Juína também quer o restabelecimento imediato dos órgãos ambientais e a instalação de órgãos que ainda não funcionam no município, como Receita Federal, Justiça Federal e Incra.