O desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre de 2013 mostra recuperação com relação ao ano passado, mas ainda com taxa inferior ao que seria desejado. A expansão é puxada pelos investimentos, que cresceram 6,5% entre janeiro e setembro. O número significa mais que o dobro do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços fabricados no país, que no período atingiu 2,4%.
A análise consta da 21ª Carta de Conjuntura divulgada hoje (19), no Rio de Janeiro, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O coordenador de Estudos de Conjuntura (Gecon) do Ipea, Fernando Ribeiro, disse à Agência Brasil que o crescimento dos investimentos tem ajudado a compensar a desaceleração do consumo das famílias. "Esse, certamente, é o principal elemento [da recuperação da atividade econômica]".
Embora o instituto não tenha uma previsão, Ribeiro disse que as análises indicam que a economia está crescendo a uma taxa próxima de 2,5%. "A não ser que aconteça algo muito ruim no final do ano, a gente deve crescer talvez um pouco menos, mas não muito longe dessa taxa", comentou.
O economista explicou que o aumento da taxa de juros decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é um dos fatores que estão gerando alguma desaceleração no consumo. Advertiu, porém, que o impacto disso sobre a atividade econômica não é tão significativo.
Por isso, Ribeiro disse que, para 2014, a tendência é que o PIB cresça à mesma taxa deste ano: "Tendo em vista que o consumo deve continuar crescendo no ritmo atual, você pode ter alguma surpresa negativa, algum choque ou algo que faça com que o crescimento seja menor, mas também pode ter surpresas positivas, do lado do investimento, principalmente".
Ele acredita que as concessões na área de logística poderão gerar investimentos gradativos a partir de 2014, cujo efeito mais forte se tornará visível ao longo dos próximos anos. "Essa é uma das incertezas que a gente tem. Pode ser que a gente tenha uma surpresa positiva".
De qualquer maneira, assinala que o crescimento do PIB brasileiro ficará abaixo do resultado previsto para os países da América Latina, estimado em torno de 2,7% este ano e 3,1% no ano que vem. "Não tem sido novidade nos últimos anos, até pelo fato de ser uma economia maior".
Segundo o coordenador do Gecon, o PIB do Brasil deverá sofrer também impacto do cenário econômico mundial. Admitiu que, em princípio, a influência tende a ser positiva, porque as notícias mais recentes indicam que a situação internacional está melhorando, com recuperação da economia norte-americana. Além disso, a Europa deve sair da recessão e a China tende a estabilizar o crescimento econômico entre 7% e 8%.
Em relação ao emprego, a avaliação do Ipea é que o mercado de trabalho vai continuar favorável, ainda que ocorra aumento pequeno da taxa de desemprego, "até porque a população economicamente ativa está crescendo mais devagar, e isso ajuda a manter o desemprego baixo, mesmo que a geração de emprego esteja em um ritmo mais baixo". A perspectiva é de geração de aumento de salário real.
Em termos de inflação, Fernando Ribeiro disse que existe preocupação no que diz respeito aos preços administrados, como aumento de gasolina e de tarifas que podem exercer alguma pressão. Ele considerou, contudo, que é improvável ter um cenário de inflação mais elevada em 2014 do que em 2013. O número, estimou, deve ficar em torno de 5,8%, que é a prévia da inflação oficial divulgada hoje (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).