Investigar o que o brasileiro faz quando não está trabalhando será tarefa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir de 2012. O objetivo é descobrir quem são as pessoas que se dedicam às atividades não remuneradas dentro de casa, conforme informou hoje (9) o presidente do instituto, Eduardo Pereira Nunes. As pesquisas sobre como as pessoas gastam o tempo têm sido cada vez mais importantes na elaboração de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida das mulheres, principalmente. Isso porque, de acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), a carga de trabalho dentro de casa tem sobrecarregado mais a elas do que a eles.
“Investigaremos corresponsabilidades nas tarefas no ambiente doméstico. É mais do que homens ou mulheres discutindo quem vai lavar a louça. Precisamos saber o que a sociedade, as empresas e o Estado podem fazer”, afirmou a ministra Nilcéa Freire em um seminário internacional sobre pesquisas acerca do uso do tempo, no Rio.
Com base na investigação, segundo a ministra, poderão ser planejados investimentos em creches, ações afirmativas para o mercado de trabalho, com jornadas flexíveis para famílias com filhos, e medidas para diminuir as diferenças salariais entre gêneros, além da ampliação da licença-paternidade. “Estudamos o modelo europeu em que os pais decidem como compartilhar a licença”, explicou.
A professora do Instituto de Economia, Geografia e Demografia do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Espanha, Maria Ángeles Duran lembrou, durante o seminário, que estudar o uso do tempo relacionado à questão de gênero ajudará os países a preparar gerações para cuidar dos mais velhos, trabalho que normalmente é feito pelas mulheres.
“Nossos genes não nos permitem bater com mais força, mas resistir por mais tempo. Estamos vivendo mais. E quem cuidará de nós? Temos que preparar a todos. Não é só uma questão produtiva, é demográfica”, disse. Duran informou que, na Espanha, 99,5% das pessoas portadoras do mal de Alzheimer são cuidadas por quem não recebe remuneração e que, na maior parte dos casos, é um membro da própria família do doente.
O recorte de gênero nas investigações sobre o uso do tempo deve ser inserido em levantamentos como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que voltará a campo em 2011, segundo o presidente do IBGE. No momento, o instituto faz uma pesquisa piloto em cinco estados para verificar qual a melhor estratégia para abordar o tema nas famílias.
“Vamos relacionar a posição no mercado de trabalho (renda), escolaridade, ocupação com o tempo usado no trabalho não remunerado no domicílio”, disse. Não é o trabalho doméstico entendido apenas como afazeres domésticos – arrumar a casa, por exemplo -, mas o tempo dedicado à educação formal dos filhos e ao cuidado com os mais velhos”, destacou.
O 2º Seminário Internacional sobre Pesquisas de Uso do Tempo – Aspectos Metodológicos se estenderá até amanhã (10). O seminário é promovido pela SPM, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações Unidas para as Mulheres (Unifem).