Em tempos onde já se discute a necessidade de aumentar a oferta de alimentos nos próximos anos devido ao crescimento populacional, estando a maior responsabilidade delegada aos países e, em especial aos Estados que já se destacam pelo potencial produtivo, no campo também começa ecoar outra mensagem; a de cansaço. Em Mato Grosso quem dá o recado é o presidente da Associação dos Produtores de Soja, Glauber Silveira.
“Chegou num ponto em que o setor cansou mesmo”. A declaração, já manifestada para lideranças internacionais, é um claro sinal que a classe quer mudanças de paradigmas. Glauber diz que não há mais condições de se produzir e vender grãos baratos. Agora, agricultores cobram incentivos e querem deixar de ser apenas fornecedores de matéria-prima bruta e sim agregar valor na produção.
O dirigente diz ainda que no cenário atual não se aceita mais um “simples bater de portas” como forma de pedir ao Estado para que aumente sua produção agrícola. “Demos esta mensagem na reunião do congresso mundial da soja na China e também no congresso de soja em Nova Orleans onde quem a disse foi o próprio governador [Blairo Maggi]. Nós produtores de Mato Grosso não estamos interessados em aumentar nossa produção. Se quiserem produção do Estado precisam fazer investimentos aqui”, declarou, em entrevista ao Só Notícias.
Os números da associação revelam o desafio que será colocado a Mato Grosso nos próximos anos. De acordo com a Aprosoja, o Estado precisará triplicar sua produção de grãos, passando de 18 milhões de toneladas para cerca de 50 milhões nos próximos dez anos. Isto deverá ocorrer sem a abertura de novas áreas, atendendo as especificações ambientais.
“Para que possamos vencer este desafio temos que sair da produção média de 3 mil quilos por hectare de soja e passar a 4,5 mil. Isso sem contar que é quase nulo o aumento de área, abertura de novas”, expressou o representante.
Glauber diz que Mato Grosso pode aprimorar sua produção mas precisa de incentivos. “Mato Grosso tem um potencial muito grande. Temos 22 milhões de hectares de áreas de pastagens e ocupamos 5,8 milhões com o soja. Se aumentarmos o potencial da pecuária para que ocupe menos áreas e produza mais, sem dúvida venceremos. Agora não há como fazer isto sem pesquisas”, salientou.
“Vamos identificar os potenciais e quais os projetos que se precisa de dinheiro para investir. Porque nós produtores não temos interesse nenhum em produzir soja barata para o mundo. Já fizemos a nossa parte. Estamos produzindo aquilo que por nós é possível. Agora é preciso realmente ter um impulso e investimentos”, complementou.