Dez milhões de toneladas de grãos serão transportadas pelo Complexo Intermodal de Rondonópolis (CIR) em 2014. Trinta porcento desse volume passou pelo terminal desde a inauguração, há 3 meses. "Agora é uma questão de condição de mercado. Como estamos na fase final da safra do milho, estamos operando com o grão. A nossa expectativa é operar com soja a partir da 2ª quinzena de janeiro", afirmou o gerente de Operação da América Latina Logística (ALL) em Mato Grosso, Ivandro Paim, ressaltando que o terminal é graneleiro, transportando basicamente
3 tipos de produtos: milho, grão e farelo de soja.
"Ainda há 17 espaços abertos para investidores começarem a se instalar aqui, a partir de 2014, ou seja, realmente o terminal vai ganhar uma proporção muito grande", avalia o secretário de Logística Intermodal de Transportes, Francisco Vuolo, destacando a importância da estruturação do terminal. Processo que levará pelo menos 3 anos, na análise do coordenador do Núcleo de Estudos de Logística e Transporte (Nelt) da UFMT, Luiz Miguel de Miranda. Segundo o coordenador, quando isso acontecer, os 800 empregos diretos e indiretos gerados na região se transformarão em 1,5 mil postos de trabalho diretos e 6 mil indiretos, e o terminal terá condições de receber toda a soja produzida na região norte do Estado e também os derivados de petróleo. "Além de trazer também carga industrializada, que é a excelência de cargas de retorno. Eu acredito que temos aqui uma estrutura fantástica para crescer e cabe tudo aqui dentro, até
‘Chanel", se você quiser".
O pesquisador da UFMT fez parte do grupo formado por entidades e jornalistas convidados a conhecer as instalações do
CIR. O diretorexecutivo do Movimento Pró- Logística, Edeon Vaz, fará a mesma visita técnica em janeiro. Para o
especialista, como a operação do terminal está iniciando, algumas adaptações ainda devem ser feitas também em relação ao treinamento de pessoal, já que as cobranças serão maiores no ano que vem, sobretudo quando iniciar a colheita e o carregamento da soja. "O volume de carretas será maior. Vai ser diferente e vão ter que se preparar para isso".
Vaz ressalta a importância de Mato Grosso buscar modais de transporte mais baratos como a própria ferrovia. "A expansão dos trilhos até Cuiabá e depois Santarém, e a viabilidade da Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste) serão muito importantes. Acho que Mato Grosso será outro Estado em 3 anos, e cada ano vai melhorar com a BR-163 concluída e a consolidação do terminal de Rondonópolis, que terá uma eficiência maior, somando soluções que vão viabilizar modais mais baratos".
Mas tem profissional das estradas temendo a expansão da ferrovia. Morador de Rondonópolis, o caminheiro Lenilton
Coelho dos Santos acredita que haverá desemprego na categoria porque o trecho percorrido pelos motoristas será menor, apenas da lavoura até a ferrovia. Além disso, Santos cobra ajustes nos terminais para receber os caminhoneiros. O colega dele, Fernando Ferreira Muniz, reclama da organização no local. Segundo ele, falta treinamento das equipes que fazem a escala da fila. "Eu acho que esse aqui é o melhor e tem tudo para ser o melhor. Falta só um pouquinho de preparação do pessoal". O gerente de Operação da ALL explica que a fase inicial de funcionamento do terminal começou sem o armazém, fazendo apenas o transbordo direto para os vagões. Hoje, a situação foi resolvida com o armazém, que tem capacidade estática de 60 mil toneladas, suficiente para receber grãos transportados por 1,5 mil carretas.
Outra medida adotada foi o sistema de agendamento das carretas para o transbordo. Segundo Paim, os caminhoneiros que não agendam o descarregamento precisam aguardar num pátio de triagem localizado no Distrito Industrial de Rondonópolis. As carretas agendadas são direcionadas primeiramente para o setor de classificação dos grãos, onde é
verificada a concentração de impurezas como anomalias no produto ou presença de insetos vivos. "A área de classificação dá a garantia de que vamos receber e expedir produtos de qualidade", explica o gerente da ALL. Caso constatado algum problema no grão, a carreta é encaminhada para um área de segregação, onde os caminhoneiros ficam aguardando a padronização das suas cargas, ou seja, mistura-se com outros carregamentos para chegar a uma média.
Paim ressalta que esse processo é importante porque evita a indisponibilidade de vagões, que não ficam parados nos portos para que seja feita a análise de qualidade do carregamento. "A gente faz a classificação dos grãos tanto na entrada quanto na saída e, em Santos, são usados os mesmos critérios de classificação daqui, da origem". As cargas aprovados nos testes são pesadas, antes de seguir para o transbordo. O terminal possui 4 balanças rodoviárias certificadas pelo Inmetro. Sete caminhões podem ser descarregados simultaneamente na área de transbordo, que possui capacidade de receber 4,5 mil toneladas ou 70 caminhões por hora. Cerca de R$ 700 milhões foram investidos na estrutura do maior terminal da América Latina, que possui aproximadamente 40 hectares. Cento e vinte vagões podem ser carregados em 6 horas e 1,5 mil carretas descarregadas por dia no terminal que funciona 24 horas. Segundo Paim, com a estrutura existente, o transbordo pode ser feito em 30 minutos ou até 10 horas, caso haja fila.
No início deste mês, empresários e os prefeitos de Alto Taquari e Alto Araguaia se reuniram com o secretário Francisco Vuolo em busca de uma saída para a redução do movimento de descarregamento de caminhões nas regiões, após a inauguração do complexo de Rondonópolis. Conforme Vuolo, os 2 terminais estão partindo para uma nova destinação. O secretário informou que a ALL confirmou a redução de cerca de 60% da movimentação de carga de transbordo nos terminais. Porém, em 2014, a previsão é movimentar 2,5 milhões de toneladas de grãos em Alto Araguaia. Já para Alto
Taquari a previsão é de uma movimentação maior, voltada para o transporte de cargas de combustível.
"O que não pode acontecer é a desativação dos terminais de uma hora para outra e isso com certeza prejudica todo o
planejamento dos 2 municípios", afirma Vuolo, ressaltando que existe ainda a possibilidade de uma terceirização.
"Estamos fazendo uma conversação com ALL. Porém, aguardamos nesse primeiro momento os dados e elementos econômicos de Alto Taquari e Alto Araguaia para que possamos chegar a um entendimento para que os terminais continuem a ter o mínimo de movimento que garanta a estabilidade econômica das cidades".