Estradas esburacadas, prejuízos no transporte de cargas e mercadorias. Aumento no valor do frete, péssimas condições de trafegabilidade. Problemas como as más condições do setor rodoviário brasileiro já não são desconhecidos por ninguém. Atualmente, mais de 61% de todas as cargas que circulam pelo país são transportadas via este modal. A dependência tem afetado diferentes setores, como, por exemplo, o agrícola, tanto para o recebimento dos insumos quanto para o escoamento da produção para os diferentes mercados.
No país, o estado de conservação destas vias pode determinar maiores ganhos para a economia. Isto porque reflete na renda dos produtores, na lucratividade das suas exportações e nos índices de inflação, já que o item alimentação corresponde, em aproximadamente, 40% destes índices. A conclusão é do Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea). Um estudo divulgado pela entidade revelou que os investimentos realizados pelos governos para garantir a trafegabilidade das rodovias têm-se mostrado abaixo do necessário. Isto gerou uma demanda reprimida de R$ 183,5 bilhões na malha viária nacional. Esta quantia seria necessária para sanar os problemas e impulsionar o setor rodoviário nacional, ampliando sua eficiência e seu impacto sobre a economia do país. De acordo com o Ipea, o montante seria distribuído em três frentes. Seriam necessários R$ 144,18 bilhões só em obras de recuperação, adequação e duplicação, quase 80% do total das necessidades. Estes números refletem a extensão da malha rodoviária existente no país, bem como a insufciência da capacidade de tráfego entre as localidades atendidas por estas rodovias.
Além dos investimentos necessários às rodovias existentes, foi identificada uma demanda de quase R$ 40 bilhões para a construção e pavimentação de novas vias federais, ou novos trechos em vias já existentes. Predominam nesta
categoria as demandas por novos trechos, que englobam 24 unidades federativas nas cinco regiões do país, acentua o Ipea. Para obras de arte, isto é, construção de pontes, viadutos, mais R$ 830 milhões.
Nos últimos anos, nem mesmo os investimentos do governo federal por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conseguiram corrigir a demanda. O valor reservado pelo PAC para as rodovias – R$ 23,3 bilhões entre 2007 e 2010 – equivale a 13% do total que necessita as estradas.
No Centro-Oeste brasileiro, onde estão os Estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal, seriam necessários R$ 22,93 bilhões para reestruturar o sistema rodoviário. No entanto, os investimentos do PAC 1 para esta região somam pouco mais de R$ 2,28 bilhões para cobrir os 9,55 mil quilômetros de malha federal. O Brasil possui mais de 61 mil quilômetros só em vias federais pavimentadas
No tocante às estradas estaduais, a demanda reprimida no Centro-Oeste ultrapassa os R$ 6 bilhões. Entre as cinco regiões, outros R$ 14 bilhões. O estudo do Ipea afirma ainda que é por meio das rodovias que se dão os pequenos deslocamentos de carga, essenciais para que o produto siga das mãos do produtor para as do consumidor. Mesmo grandes cargas precisam, em geral, percorrer alguma porção de rodovias para alcançarem seus destinos finais.
Apesar de sua extensa malha e da capilaridade de suas conexões rodoviárias, o Brasil não possui uma tradição de manutenção e conservação de suas estradas que são construídas muitas vezes com a utilização de materiais menos duráveis e reparadas de modo inadequado.
A situação de conservação da malha rodoviária federal no Centro-Oeste foi considerada como "ruim" para 53,3% das rodovias da região. A segunda versão do PAC (2011-2014) prevê 50,4 bilhões em investimentos.