Para o mercado, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem foi mais uma ducha de água fria. Parece que, definitivamente, apostar em uma queda mais agressiva dos juros básicos Selic não é um bom negócio dado o conservadorismo do Banco Central. As palavras “gradual” e “processo” foram usadas inúmeras vezes no documento que busca justificar as decisões da última reunião do Copom. Mas, a frase que mais chamou a atenção dos investidores foi: “Já para a maioria dos membros do Copom, uma redução de 0,5 ponto percentual seria a decisão adequada, dado que corresponderia melhor à velocidade ótima de implementação desse processo de flexibilização e contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado”. Como o 0,5 ponto percentual corresponderia “à velocidade ótima”, muitos dos que apostavam na queda de 0,75 ponto percentual na Selic na reunião do Copom em janeiro voltaram atrás.
Resultado: subiram os juros projetados nos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) para os vencimentos mais curtos. O contrato de vencimento em fevereiro de 2006 passou a projetar taxas de 17,75% ao ano, na comparação com os 17,74% de anteontem. Mas, como essa “velocidade ótima” “contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado”, os vencimentos mais longos tiveram queda nos juros projetados. Os contratos de vencimento em janeiro de 2008 passaram a projetar taxas de 15,72% ao ano, na comparação com os 15,84% ao ano de anteontem.
Alexandre Lintz, estrategista-chefe do BNP Paribas, e Andre Loes, chefe de pesquisa do Santander Investment Securities, estão entre os que apostam no corte de 0,5 ponto percentual na primeira reunião do Copom de 2006. Mas, “a física definiu, já há algum tempo, que velocidade é deslocamento por unidade de tempo”, notou o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. A dúvida: quando o BC fala em “velocidade ótima”, quer dizer 0,5 ponto de queda por mês ou 0,5 ponto de queda por reunião do Copom? Se é por mês, para atingir esse ideal o Copom teria de cortar 0,75 ponto percentual em cada uma de suas oito reuniões em 2006. Por isso, Ricardo Amorim, estrategista-chefe para América Latina do WestLB, Marcelo Salomon, do Unibanco, e o analista independente Pedro Barbosa mantêm suas apostas na queda de 0,75 ponto percentual em janeiro. Há uma unanimidade entre os especialistas ouvidos pelo Valor de que, se a inflação continuar sob controle como o IPCA-15 de dezembro mostrou, o Banco Central teria todo o espaço para o corte de 0,75 ponto percentual. Com o leilão de swap reverso que realiza hoje, de 8,4 mil contratos ou US$ 400 milhões, o Banco Central deve acabar com a dívida interna indexada ao câmbio de curto prazo – swaps, Notas do Tesouro Nacional da série D (NTN-D) e Notas do Banco Central da série E (NBC-E), nos cálculos de Barbosa. Segundo ele, até ontem, após o leilão de swap reverso, a dívida era de pouco menos de US$ 300 milhões. Por meio dos leilões de swap reverso, o BC compra dólar no mercado futuro e muda o indexador da dívida do dólar para o real. Há outros cerca de US$ 600 milhões em NTN-I e mais US$ 9 bilhões em NTN-A, que também são dívida interna indexada ao dólar, segundo Barbosa. Mas, de acordo com Alexandre Póvoa, economista-chefe do Modal Asset Management, esses papéis têm características muito especiais e têm prazo médio de 15 anos e, por isso, não devem entrar na conta do BC. Finda a dívida interna indexada ao câmbio, o BC vai passar a avançar suas posições compradas em câmbio futuro sobre a dívida externa.
O BC compra dólar no mercado à vista e futuro para impedir sua desvalorização mais forte – no ano, passa os 12%. Ontem, vendeu US$ 399,5 milhões em swaps reversos. E comprou no mercado à vista e ajudou a puxar o dólar para cima em 0,95%, para R$ 2,33, após dois dias de queda. O preço do Global 40 fechou a 128,688% do valor de face, alta de 0,6%. O risco-Brasil fechou a 304 pontos básicos, quase estáve