A saída de investidores estrangeiros para cobrir perdas relacionadas ao setor de crédito de alto risco fez o dólar fechar acima de R$ 2 pela primeira vez em três meses nesta quarta-feira.
Em meio à volatilidade dos negócios, o Banco Central deixou de realizar pelo segundo dia seguido um leilão de compra de dólares no mercado à vista.
A moeda norte-americana subiu 2,27% e fechou a R$ 2,031, maior patamar desde 4 de maio. O dólar vinha sendo cotado abaixo de R$ 2 desde 15 de maio.
O mercado de câmbio acompanhou fielmente o comportamento das bolsas de valores nos Estados Unidos, que tiveram mais um dia de intensas oscilações em meio às preocupações com o mercado de crédito imobiliário de alto risco.
“A crise do chamado subprime se agravou a partir de ontem à tarde. Os investidores começaram a pensar na maior probabilidade de a crise atingir a economia real”, disse Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora.
“Com o agravamento, eles pegaram parte das posições em ativos de emergentes e subprime e passaram a vender para comprar títulos americanos, realocar posições com mais força”, acrescentou.
Dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira já detatalharam os primeiros efeitos da turbulência no exterior sobre o mercado de câmbio. O fluxo financeiro de divisas ficou negativo em US$ 201 milhões nos primeiros oito dias úteis de agosto.
A entrada de dólares no País foi sustentada no período pela atividade dos exportadores, que com o saldo positivo nas operações comerciais garantiram fluxo cambial positivo de US$ 3,376 bilhões.
Segundo Jorge Knauer, gerente de câmbio do Banco Prosper, “o fluxo comercial é relativamente mais imune a esse tipo de volatilidade. Já o fluxo financeiro é diretamente ligado a isso”, disse.
“(Mas) a bem da verdade, esse fluxo positivo é consequência de operações do passado. Agora as operações estão vencendo e pode ser que daqui para a frente a gente perceba que isso pode ser revertido por conta da turbulência”, acrescentou.
Apesar da forte alta no final da sessão, o dólar chegou a ceder e operar em leve baixa durante a manhã, acompanhando uma trégua em Wall Street. “Deu uma acalmada no momento em que o Fed veio oferecer recursos”, disse Miriam.
O banco central norte-americano voltou a injetar recursos no mercado aberto, com uma operação de US$ 7 bilhões no overnight. A quantia, porém, é menor que os US$ 38 bilhões colocados no sistema bancário na sexta-feira.
Em meio à instabilidade, o Banco Central brasileiro novamente deixou de fazer leilões de compra de dólares. Nas duas primeiras semanas do mês, a autoridade monetária havia mantido um ritmo de compras diárias semelhante ao visto no mês anterior – pouco mais de US$ 300 milhões por dia.