Com a cesta básica custando R$ 430,78 em junho, o trabalhador cuiabano que tem um salário mínimo como remuneração (R$ 880) precisou trabalhar o equivalente a 107h42 para conseguir comprar os 13 produtos. O período trabalhado foi 4,9% maior do que em maio, quando foram necessárias 102h31, já que a cesta básica custou R$ 410,09 naquele mês. Os dados também são do Dieese.
O peso da cesta básica para o consumidor de baixa renda é a evidência de um cálculo oneroso, já que comprometeu 53,12% do salário. Em maio, esse percentual estava em 50,65%. Ao considerar o salário mínimo como provedor das necessidades básicas, que dá direito à saúde, educação, lazer, habitação e transporte, tudo isso com dignidade, o valor do mínimo hoje no Brasil, considerados os valores correntes, deveria ser de R$ 3.777,93, conforme cálculos do Dieese. Este valor é 329,3% vezes maior que a cifra paga hoje, de R$ 880.
Contudo, esse abismo entre a teoria e a realidade já foi muito maior no início do Plano Real, em 1994, quando em julho daquele ano o salário mínimo custava R$ 64,79, enquanto que o ideal para manter as necessidades básicas daquela época era equivalente a R$ 590,33, uma diferença de 811,14%.
O valor do salário mínimo ideal em 1994 só foi alcançado em 18 anos depois, em janeiro de 2012, quando o mínimo vigente passou a ser de R$ 622. Mas aí já era tarde demais, pois a remuneração ideal para se viver em já estava 285,6% maior, em R$ 2.398,82.
A cesta básica de Cuiabá é a 6ª mais cara entre as 26 unidades da federação. Em junho, os cuiabanos pagaram R$ 430,78 por 13 itens, valor que ficou 5,05% maior se comparado ao mês anterior. O custo do feijão foi o que mais pesou no aumento sentido pelos consumidores, com a discrepante majoração de 97,73% na comparação com maio deste ano. Os dados foram divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Os preços elevados nos alimentos básicos na mesa do consumidor têm mudado o comportamento de muitas famílias, como a da dona de casa Helena Rúbia Oliveira do Prado, 47. “Tudo está mais caro e a diferença nos preços a gente está sentindo na mesa. Temos feito só o básico. Antes ainda havia uma mistura diferente. Agora é só o essencial. Não estamos passando necessidades, mas a quantidade de alimentos está diminuindo a cada dia”. Helena explica que as compras no supermercado eram mais fartas com 2 ou 3 quilos dos principais itens da cesta básica, mas que agora tem levado apenas o mínimo para casa, comprado mais somente quando acaba.
Já a estudante Elenita de Oliveira Neves, 39, relata que faz um bom tempo que não vai ao supermercado para fazer aquela compra do mês. “Como meu marido é cabeleireiro, o dinheiro sempre chega picado. Dessa forma, vamos várias vezes ao supermercado em um mês”. Ela explica que desembolsa em média R$ 800 para manter a casa abastecida, mas diz estar economizando em itens supérfluos para conseguir fechar as contas no azul. “Deixamos de comprar roupas e calçados como forma de economizar, assim sobra um pouco mais para garantir o pão de cada dia”.