O monitoramento e controle de toda a cadeia produtiva da madeira nativa de Mato Grosso foram destaque na 3ª edição do evento “madeira sustentável: o futuro do Mercado”, ontem, em Belo Horizonte, promovido pelo Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF) e pelo Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira de Mato Grosso (Cipem). O evento oportunizou a troca de informações entre varejistas, engenheiros, arquitetos, designers de interiores e de móveis, fabricantes de carrocerias e demais interessados neste setor econômico.
Com mais de 5 milhões de hectares de florestas manejadas, Mato Grosso mantém seu reconhecimento como segundo maior produtor de madeira nativa do Brasil e em consonância com as normas legais, promovendo o desenvolvimento socioeconômico regional e conservação ambiental. O Estado adota um rigoroso sistema de monitoramento, o Sisflora 2.0, que rastreia cada tora de madeira, atendendo a rígidos padrões ambientais. O processo inclui a identificação das espécies arbóreas nativas e a documentação completa desde a colheita, transporte, processamento e comercialização. Esse procedimento assegura transparência e facilita a fiscalização por órgãos reguladores, promovendo uma gestão eficiente dos recursos florestais.
Apesar dos avanços, Mato Grosso ainda enfrenta desafios relacionados ao antigo sistema de controle do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Documento de Origem Florestal (DOF – Legado). Esse tema foi amplamente debatido durante o evento “Madeira Sustentável: O Futuro do Mercado”.
O presidente do FNBF, Frank Rogieiri destacou que os empresários mato-grossenses enfrentam desvantagens devido à falta de madeira disponível no sistema DOF Legado. “Compradores de outros estados, que preferem evitar burocracias, optam pelo sistema antigo, onde as operações ainda ativas possuem custos menores e, consequentemente, produtos com preços mais competitivos, gerando uma concorrência desleal em relação a Mato Grosso”, explicou. Ele ressaltou que os empresários mato-grossenses cumprem as exigências dos sistemas estadual e federal (Sisflora 2.0 e DOF+), garantindo rastreabilidade.
Rogieri chamou atenção para necessidade de modernização. “Percebemos que o DOF foi um grande avanço, mas precisávamos de atualizações para atender às novas demandas de mercado e gestão ambiental. Além disso, tínhamos problemas com nomenclaturas regionais de madeira que complicavam o processo e levavam a apreensões e multas em casos de pequenas diferenças de especificações. A nova legislação aprovada pelo Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) e a implementação do DOF+, com rastreabilidade, resolveu essa questão”. “Precisamos de um período de transição que permita aos empresários regularizarem seus estoques e migrarem completamente para o DOF+, eliminando o sistema antigo e facilitando a gestão. Isso só será possível com o apoio de todos os secretários de Meio Ambiente”.
O presidente do Cipem, Ednei Blasius, mencionou o crescimento da comercialização de madeira nativa entre Mato Grosso e o mercado mineiro em 2024, com aumento de 35% no volume e 40% na receita em comparação com 2023, resultado que reforça o impacto positivo de práticas sustentáveis na valorização do setor. Este ano aproximadamente 100 espécies de madeira nativa de Mato Grosso foram comercializadas com empresas mineiras, movimentando R$ 69,6 milhões com embarques de 71.944 metros cúbicos (m3) até outubro. No mesmo período de 2023 as vendas somaram R$ 49,8 milhões com comercialização de 53.298 metros cúbicos (m3) de produtos florestais. “Nosso setor, com mais de 500 indústrias de madeira associadas em Mato Grosso, perdem, porém, todos os dias, muitas vendas para produtos que estão no DOF legado. Produtos que a rastreabilidade não está ao nível de rigor do DOF+”, citou Blasius.
A secretária estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso, Mauren Lazzaretti, manifestou que “a madeira de origem nativa de Mato Grosso vem com um carimbo de responsabilidade ambiental e promove o desenvolvimento social de 44 municípios mato-grossenses. São implementadas diversas ferramentas inovadoras como a rastreabilidade da madeira, que traz a garantia da origem lícita, desde a extração até o consumidor final. O projeto de manejo florestal sustentável de Mato Grosso tem o engajamento do setor produtivo por meio do FNBF e do Cipem”. Ela lembrou que Mato Grosso tem potencial para expandir a área de manejo florestal para 6 milhões de hectares até 2030. “Isso representa a redução de 16% das emissões do nosso Estado, uma meta com compromisso de neutralização do governo até 2035, que tem ainda em sua estratégia a geração de renda e o desenvolvimento socioeconômico”, concluiu.