“Não aumentar em nenhum palmo a área plantada na safra 2009/2010”. A recomendação foi feita ontem pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA), Kátia Abreu durante o CNA em Campo, na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). A presidente, que também é senadora por Tocantins, foi enfática ao dizer que a produção agrícola e pecuária estadual e nacional enfrenta vários problemas no país que, se não forem resolvidos imediatamente, serão ameaças para a próxima safra, que começa a ser planejada em julho. O aspecto mais grave especificado pela presidente da CNA diz respeito ao crédito.
Kátia Abreu diz que o modelo atual não serve mais e que a situação é grave. Lembra que entre as safras de 2003 e a 2006, a agricultura brasileira mergulhou em uma crise profunda, consequência da diferença entre o preço das commodities e dos insumos agrícolas no plantio e na colheita, variação do dólar e ferrugem asiática. “Em decorrência disso veio o endividamento, cujo problema vem sendo empurrado com a barriga por parte do governo brasileiro. Prova disso é a publicação de 135 Medidas Provisórias (MPs) de 2007 para cá jogando a dívida para a frente”, diz ao considerar que ações como esta para auxiliar o setor agrícola nacional já bastam.
De acordo com o sétimo levantamento de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Mato Grosso está cultivando nesta safra 8,451 milhões de hectares, e que levando em consideração as orientações da CNA não sofreriam alterações no próximo ano agrícola. Este número já vem de uma queda de 1,8%, ante os 8,603 milhões (ha) plantados na safra 2007/2008. Para a presidente da confederação, mais que pensar em aumentar a área, o produtor tem de atentar para a produtividade e também para a demanda de mercado. “De nada adianta aumentar a produção se a demanda reduz. Com mais produtos, os preços caem e não há retorno financeiro para liquidar as dívidas”.
O presidente da Famato, Rui Prado diz concordar em gênero, número e grau com a presidente da CNA. Ele diz que a safra 2009/2010 está estimada em R$ 15 bilhões e que não existe uma fonte de recursos para bancar a produção. Ele diz que os produtores têm condições de desembolsar 20% do valor, 20% são oriundos dos bancos oficiais e o restante, ou seja, 60% vêm das tradings, que já adiantaram não ter condições de captar recursos no exterior. “O produtor tem até julho para conseguir os recursos senão não saberemos o que vai acontecer”, diz ao acrescentar que os juros também já aumentaram entre 2 e 3 pontos percentuais.
Estudos da CNA – que estão sendo revistos por causa da redução dos custos dos insumos -apontam para uma necessidade de crédito para a agricultura e pecuária para este ano de R$ 150 bilhões, sendo que só a agricultura abocanha R$ 76 bilhões, metade do valor.