A memorialista, romancista e fotógrafa Zélia Gattai Amado morreu aos 91 anos neste sábado, às 16h30, no Hospital da Bahia, em Salvador, vítima de uma parada cardiorrespiratória. A viúva do também escritor Jorge Amado estava internada desde o dia 30 de março com problemas renais, provocados por uma infecção urinária.
Em abril, a escritora passou por uma cirurgia para desobstrução do intestino e, em seguida, precisou ser submetida a uma hemofiltração. Desde então ela se recuperava na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital, mas seu estado de saúde piorou na madrugada desta sexta-feira.
Zélia Gattai mostrou seu talento literário aos 63 anos, incentivada por Jorge Amado, com quem foi casada por 56 anos até a morte do escritor, em 2001 aos 88 anos. O primeiro livro, Anarquistas, Graças a Deus, virou marco pelo valor histórico e cultural para o País, e lhe rendeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária de 1979.
Ao todo, a escritora publicou dez livros de memória, três livros infantis, uma fotobiografia e um romance. Muitos foram traduzidos para o francês, italiano, espanhol, alemão e russo.
Filha de imigrantes italianos, a escritora nasceu na capital paulista em 2 de julho de 1916, onde morou até a sua adolescência. Quando jovem, participava do movimento político-operário. Aos 20 anos, se casou pela primeira vez com Aldo Veiga. Desta união, que durou oito anos, teve um filho, Luís Carlos, nascido em São Paulo, em 1942.
Engajada, a escritora conheceu Jorge Amado em 1945, quando os dois trabalharam juntos no movimento pela anistia dos presos políticos. Admiradora do romancista baiano, se casou com o escritor no mesmo ano. A partir daí, a escritora começou a trabalhar ao lado do marido, passando a limpo seus originais e o auxiliando no processo de revisão.
Em 1946, com a eleição de Jorge Amado para a Câmara Federal, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu o filho João Jorge, em 1947. Um ano depois, com o Partido Comunista declarado ilegal, seu marido perdeu o mandato e a família precisou se exilar.
Com os familiares, Zélia viveu em Paris por três anos, período em que fez os cursos de civilização francesa, fonética e língua francesa na Sorbonne. Em 1950 se mudou para a República Checa, onde teve sua terceira filha, chamada Paloma. Durante o tempo de exílio, Zélia começou a fotografar, tornando-se responsável por registrar todos os momentos importantes na vida de Jorge Amado.
Em 1963, a família mudou-se para Rio Vermelho, Salvador, Bahia, onde Zélia se dedicava à fotografia, tendo lançado a fotobiografia de Jorge Amado intitulada Reportagem Incompleta. No jardim da casa, sob a sombra de uma frondosa mangueira, estão enterradas as cinzas de Amado. A casa será transformada em um museu dedicado à memória do autor de obras como Gabriela, Cravo e Canela e Dona Flor e seus Dois Maridos.
Em 2005, recebeu o título de cidadã baiana da Assembléia Legislativa, aprovado por unanimidade. “Na verdade, sempre me senti baiana, até por ter nascido no 2 de Julho, além de ter me apaixonado por essa terra mágica, após constatar que a descrição dos livros de Jorge não era mera ficção”, declarou, referindo-se à data da Independência da Bahia e à obra do marido.
Antes da homenagem baiana, ela ganhou outros dois títulos de cidadã: o de Honra da Comuna de Mirabeau, na França (1985), o de Cidadã da Cidade do Salvador (1984) e a Comenda des Arts et des Lettres, do governo francês (1998). Recebeu ainda, no grau de comendadora, as ordens do Mérito da Bahia (1994) e do Infante Dom Henrique (Portugal, 1986).
A obra de Zélia assegurou à escritora a imortalidade, em 2002, quando foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira que foi de seu marido e que tem como primeiro ocupante Machado de Assis. No mesmo ano, tomou posse nas academias de Letras da Bahia e Ilheense de Letras.