O coletivo mato-grossense Spectrolab apresentou, esta noite, no Auditório da Aliança Francesa Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o espetáculo “Jantar”. O grupo foi selecionado para o Programa Cruzamentos, no Edital Bolsa Funarte e Aliança Francesa de Residências Artísticas em Artes Cênicas Brasil/França 2022.
A montagem de formas animadas fala sobre os impactos ambientais da mineração e do lixo eletrônico nas florestas brasileiras. O espetáculo já passou por Belo Horizonte (MG), Cuiabá e, em breve, seguirá para Grenoble, na França.
A montagem “Jantar” abre as ações da segunda edição do Programa Cruzamentos, cujos projetos serão realizados ao longo de 2023, dando continuidade ao Acordo de Cooperação Técnica assinado entre a Funarte e a Aliança Francesa.
Segundo o grupo, o objetivo do trabalho é promover o intercâmbio cultural entre os dois países e fortalecer a cena do teatro de formas animadas no Brasil, uma vez que a França é referência internacional nessa modalidade artística. “O teatro de formas animadas é uma linguagem artística que utiliza objetos, bonecos, marionetes e outros elementos animados para contar histórias e criar performances teatrais. Essa é uma das principais práticas artísticas conduzidas pelo Coletivo Spectrolab, fundado em 2016, em Cuiabá. Em 2022, foi criada o Collectif Artistique Spectrolab, versão francesa do coletivo, localizada na cidade de Reims”, explica a companhia.
O projeto nasceu a partir da coleta de materiais residuais, especialmente lixo eletrônico. Utilizando esses materiais, a dupla produziu bonecos e máscaras, explorando cenas que simbolizam aspectos culturais e ambientais da Amazônia Brasileira, como animais e personagens folclóricos. O enredo é uma releitura da figura folclórica Capelobo, uma lenda presente nas regiões amazônicas e na cosmologia de povos indígenas do norte do país. Nas histórias, essa figura vive nas florestas e é conhecida por ser uma combinação híbrida entre um ser humano e um tamanduá-bandeira.
O espetáculo, dirigido por Rakoo de Andrade e com dramaturgia de Caio Ribeiro, aborda questões ambientais relacionadas ao descarte de resíduos e seus impactos na vida da Amazônia e, também, do cerrado e pantanal, os três biomas presentes em Mato Grosso. Outros temas são o aumento da mineração nas florestas brasileiras e o uso excessivo de novas tecnologias de exploração do meio ambiente. Na história, uma família vive e trabalha sob a influência de uma fábrica instalada no interior do Brasil. Seus integrantes possuem cabeças de tamanduá-bandeira e sentem os mistérios de uma vila assombrada por momentos de terror.
A terceira e última etapa da residência brasileira acontecerá entre os dias 27 de junho e 4 de julho, na sede da Aliança Francesa Botafogo, no Rio de Janeiro. É na capital carioca que serão colados os elementos cênicos criados durante o período em Cuiabá, além de ser também a primeira mostra de resultados do projeto, direcionada principalmente a outros artistas de formas animadas e às instituições parceiras, patrocinadoras e apoiadoras do projeto. O objetivo é fortalecer a cena das formas animadas no Brasil pelo viés da produção artística realizada nas regiões mais centrais do país.
Já na França, os artistas brasileiros e franceses embarcam para Grenoble, entre os dias 2 e 30 de novembro, onde a atenção estará voltada aos ensaios, à adaptação final das marionetes, ajustes de figurinos e cenários, além da tradução do espetáculo para o idioma francês. O grupo também ministrará uma oficina criativa e fará uma apresentação do espetáculo ao público, no dia 30 de novembro. A apresentação será no Teatro MC:2, um dos mais tradicionais de Grenoble, conhecido por sua estrutura e arquitetura.