Pesquisadores contratados pela Usina Hidrelétrica Colíder classificaram a atividade de produção e comercialização da castanha-do-pará como um patrimônio cultural da localidade entre Itaúba e Colíder. Conhecida como castanha-do-pará ou castanha-do-brasil, é símbolo da região Norte. No trecho da BR-163, que corta Itaúba, município com cerca de quatro mil habitantes, há cerca de trinta bancas da iguaria à beira da estrada. Algumas abrigam famílias que há anos trabalham com a semente, passando o legado de geração a geração. O levantamento está sendo feito por meio de um programa de salvamento do patrimônio histórico, cultural e paisagístico da região patrocinado pela usina, que consiste em salvaguardar, registrar e divulgar a memória e o patrimônio das comunidades das áreas de influência direta e indireta da hidrelétrica, criando condições para que as futuras gerações tenham acesso a esse conhecimento.
Segundo a antropóloga Mariana Gonçalves Moreira, a castanha é motivo de orgulho para os mato-grossenses. “Identificamos primeiro por meio do discurso das pessoas que ela é um verdadeiro símbolo da região, que movimenta a economia e está enraizada na cultural local, o que agrada produtores e comerciantes”, conta, através da assessoria.
No trajeto de Sinop a Colíder é possível contemplar castanheiras imponentes às margens da rodovia, principalmente no trecho de Itaúba. O município recebeu, em 2009, o título de capital estadual da castanha e todo ano promove uma festa temática. Segundo dados da secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente e Turismo, a produção varia entre 45 e 300 toneladas de castanha por ano, dependendo da interferência do clima e do volume de chuvas, e é colhida em áreas que totalizam 40 mil hectares. Cerca de 40% da produção é vendida fora de Itaúba e os outros 60% são comercializados em bancas às margens da rodovia. Uma pequena parte é vendida para cooperativas, associações e moradores da cidade, na feira local. O município de Cláudia também produz a semente, embora em quantidade menor do que Itaúba.
A atividade emprega aproximadamente 400 trabalhadores na extração e no beneficiamento do produto. Hoje, eles estão organizados basicamente em duas instituições: a Associação dos Coletores da Castanha-do-brasil de Itaúba – MT (Ascocabi) e a Associação das Mulheres Beneficiadoras da Castanha-do-brasil (ABC/Mulheres). O comerciante Nilson José Vieira, 67 anos, começa a vender castanhas na banca em Itaúba às seis horas da manhã e volta para casa somente às sete da noite. Em um dia de bastante movimento, que costuma acontecer no período de colheita, entre outubro e março, ele chega a vender mais de duzentos reais em castanha. “Tenho umas cem latas de quase vinte quilos cada guardadas para vender depois da safra, desse jeito consigo viver da castanha o ano inteiro”, conta Vieira.
A imaginação gastronômica dos comerciantes não tem fim. Em Itaúba, são vendidas castanhas torradas e salpicadas, banhadas em açúcar e canela, envoltas em uma fina camada de leite condensado, trituradas e prensadas como uma paçoca ou mesmo in natura, ainda com casca, e até no formato mais original – dentro dos ouriços onde elas crescem.
A Copel, empresa responsável pela Usina – contratou uma empresa, especializada em levantamentos de patrimônio cultural, para realizar o trabalho. O programa teve início em julho de 2012, sob coordenação do historiador Raul Lanari, com equipe formada pela antropóloga Mariana Moreira e pela geógrafa Leylane Ferreira. Além da pesquisa em campo, também estão previstas palestras em escolas e comunidades da região.