As urnas operaram uma dramática ironia: os eleitores de Dilma livraram Aécio de uma herança realmente maldita, ao mesmo tempo em que condenam a sua presidente às consequências de seus próprios erros. Para Aécio ficaria mais fácil explicar que a herança não é de sua responsabilidade, ao pedir os necessários sacrifícios que a Nação terá que fazer para não afundar. Aécio poderia alegar que Dilma não foi generosa como FHC foi com Lula, ao entregar o país com a hiperinflação corrigida e estatais-dinheiro-no-ralo privatizadas. Para Dilma, no entanto, vai ser difícil tentar corrigir seus próprios deslizes administrativos, pois teria que reconhecer que foi má gerente. E ninguém acredita na desculpa de crise mundial: a maior economia do mundo, dos Estados Unidos, cresce 3,5% ao ano.
Desde o Plano Real, há 20 anos, as contas públicas não estiveram tão mal. O desequilíbrio fiscal já é de país em crise. Não será possível livrar-se do déficit deste ano e talvez o governo tenha que recorrer a mais um aumento de impostos. A CIDE já voltou nesta semana e o governo já sugeriu a volta da detestável CPMF, derrubada pelo Senado no governo Lula. A dívida pública subiu 600 bilhões nos últimos dois anos e chega a 3 trilhões e 132 bilhões. A dívida externa já é a terceira do mundo. A indústria amarga quedas há quatro trimestres e o desemprego começou. Não há crescimento do país. Bastaria investir em infraestrutura, estimulando a economia, que cria emprego e riqueza. Mas o governo usa dinheiro público para esmola, estimulando o ócio. Não escuta a lição do sanfoneiro Luiz Gonzaga: “Uma esmola/ para o homem que é são/ ou lhe mata de vergonha/ ou vicia o cidadão.”
A inflação já decola do teto, o juro básico de 7,25% no início deste governo, já pulou para 11,25% e é o mais alto do mundo; o endividamento do povo, estimulado a consumir, já está ficando impagável; não há como segurar mais os preços da energia. A eletricidade subiu 52% em Roraima e está subindo quase 20% no Rio. A gasolina está por subir. As estatais, inclusive os bancos públicos, são usadas pelos partidos no governo, principalmente o PT. A política externa está subordinada aos bolivarianos. O governo gosta do refrão direitos humanos mas não dá um pio sobre Cuba e Venezuela. Um país grande e encolhido, subordinado a ideologias antiquadas e ineficazes, que dá ao povo educação medíocre e evita o conhecimento que liberta; incensa a ignorância que escraviza.
Quando a Câmara dos representantes do povo brasileiro derrubou o decreto da presidente que tentava criar os sovietes no Brasil – os tais conselhos populares que deram nome à União Soviética – o principal conselheiro de Dilma para movimentos sociais, ministro Gilberto Carvalho, classificou o resultado na Câmara de “vitória de Pirro”. Pirro foi um rei que venceu os romanos numa batalha em que perdeu tantos homens e armas que constatou: “Mais uma vitória dessas e estamos perdidos”. Pois ao sopesar a herança que Dilma deixa para Dilma, é de se perguntar, aproveitando a lembrança do Ministro Carvalho, quem é Pirro no Brasil.